60ª Reunião Anual da SBPC

INTRODUÇÃO:

Esta pesquisa objetivou problematizar a questão da vulnerabilidade social e o conceito de negligência familiar na infância e adolescência, analisando os modos como estão articuladas as ações de atenção e prevenção na Estratégia de Saúde da Família (ESF). Este estudo caracterizou-se como uma pesquisa-intervenção, pois ao mesmo tempo em que investigou os modos como estão articuladas as ações de saúde na atenção básica no que se refere à infância e adolescência, também capacitou os trabalhadores em saúde no âmbito da prevenção, a partir da problematização das naturalizações a respeito da negligência, buscando alternativas de ação que possibilitem uma melhor compreensão do significado deste fenômeno.

METODOLOGIA:

Os procedimentos metodológicos incluíram observações tanto no ambiente do serviço, como das atividades dos profissionais de saúde. Deste modo, realizou-se o acompanhamento do trabalho das agentes comunitárias de saúde, em atividades diversas, tais como: visitas domiciliares, reuniões de equipe, grupos com usuários e relações com outros serviços da rede. As análises dos discursos que circulam nas equipes de saúde apontam uma noção de negligência entrelaçada com cuidados familiares, especialmente maternos, e relacionada com condições adversas de vida, tais como pobreza, abuso de álcool e drogas, sofrimento psíquico (especialmente das mães) e desestruturação familiar.

RESULTADOS:

Nesta perpectiva de intervenção originou-se o Curso de Extensão: "Problematizações sobre risco e negligencia na infancia". Este teve por objetivo discutir os resultados da pesquisa com as agentes comunitárias das unidades de saúde. Os dados foram produzidos nos ESFs dos bairros Menino Deus e Margarida Aurora, na cidade de Santa Cruz do Sul, a partir de acompanhamentos sistemáticos da rotina dos serviços.

CONCLUSÕES:

Como resultado, a partir do levantamento dos discursos sobre negligência que emergiram no universo pesquisado, problematizou-se esse conceito com o intuito de qualificar o trabalho das equipes no que se refere a situações de negligência na infância e adolescência. Evidenciou-se que as ações nas ESF são centradas no paradigma biomédico pois, a idéia predominante é que, na maioria das situações, há a possibilidade de uso de medicação para a solução dos problemas, os quais muitas vezes estão relacionados à própria situação social. Quando o sofrimento é psíquico, constatou-se que a medicalização é a escolha prioritária. Através da discussão dos casos com as agentes comunitárias de saúde, e da devolução dos dados produzidos durante a realização do Curso de Extensão buscou-se sensibilizar para uma escuta diferenciada que privilegie a história e o lugar no qual o sujeito se coloca frente às situações identificadas como de negligência, desnaturalizando a visão biologicista da situações de negligência e risco social, ainda muito forte nas ESF. Como principal resultado desta iniciativa de devolução dos dados da pesquisa a partir da realização do curso de extensão surge como desafio a questão de conciliar um trabalho de promoção de autonomia das famílias, problematizando os jogos de verdade, os quais afirmam, entre outros ditos, que “as famílias pobres não têm condições de criar seus filhos”. Em maio deste ano se realizará um evento de extensão com a participação das ACS dos PSF´s citados, para juntos discutirmos os resultados da pesquisa, buscando pensar novas formas de relação entre o serviço de saúde e as famílias, que possam estar calcadas na idéia de potência e capacidade e não de impotência e incapacidade.Como resultado, a partir do levantamento dos discursos sobre negligência que emergem no universo pesquisado, problematiza-se esse conceito, qualificando o trabalho das equipes no que se refere a situações de negligência na infância e adolescência.

Instituição de fomento: Fundo de pesquisa Universidade de Santa Cruz do Sul

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave: Saúde, Negligência, Infância

E-mail para contato: josi_hg@yahoo.com.br