60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação

FESTA E EDUCAÇÃO: PROCESSOS EDUCATIVOS NO CONTEXTO DAS FESTAS DE SANTO EM CÁCERES-MT

Neide da Silva Campos1
Beleni Saléte Grando1

1. Unversidade do Estado de Mato Grosso


INTRODUÇÃO:
Este projeto vincula-se ao Projeto de Pesquisa Corpo e Educação em relações de fronteiras étnicas e culturais em Mato Grosso/UNEMAT/COEDUC. O contexto da pesquisa foi a cidade de Cáceres-MT e o campo de investigação as festas de santos. Entre 2006 e 2007, fizemos a coleta de dados e a fundamentação teórica para extrair das relações historicamente construídas entre os sujeitos presentes nas festas, como ocorriam os processos educativos nas manifestações da cultura tradicional expresso nas danças tradicionais e cururu, e na reza, e como estes saberes eram transmitidos às novas gerações, pelas autoridades ali constituídas. Isto é, os cururueiros, rezadeiras, festeiros e promesseiros. Partimos do pressuposto que as crianças se apropriam neste espaço festivo de saberes culturais significativos para sua identificação como sujeito histórico, por meio da imitação das “técnicas corporais”, forma pela qual, segundo Mauss (1974) os homens aprendem durante toda a vida. Com as observações nas festas constatamos que nesse espaço há um grande número de crianças que são inseridas no ritual festivo. Algumas participam diretamente e nessa relação com os mais velhos, vão se apropriando dos códigos simbólicos que direcionam a vida de cada grupo social. Possibilitando nessa relação dialética entre as diferentes culturas ali existentes (infantil, jovem, mulher, etc.) a constituição de uma identidade individual e coletiva (GEERTZ,1989).

METODOLOGIA:
Com referenciais para análise qualitativa, recorremos ao registro etnográfico que nos possibilitou o contato direto com o nosso campo de investigação, ou seja, as festas de santo. De acordo com Fonseca a etnografia [...] é calcada numa ciência, por excelência, do concreto [...] com sua ênfase no cotidiano e no subjetivo [...]. (1999, p.58). Com a observação participante, visamos apreender os processos educativos que possibilitam a identificação das crianças com o ritual festivo e a transmissão dos saberes da cultura tradicional local. Na coleta de dados utilizamos também o registro fotográfico e as entrevistas com os agentes da cultura local, para compreendermos como eles aprenderam as funções que exercem nas festas e também para percebermos como esta aprendizagem ocorre atualmente. Com isso, compreender qual é o espaço-tempo direcionado à educação das crianças para que estas funções se mantenham. O referencial de sustentação para análise dos dados foram: Beleni Grando (2004, 2005, 2006), Marcel Mauss (1974), Clifford Geertz (1989), Marilena Chauí (1982), Jadir Pessoa (2006) e Paulo Freire (1970, 1996), entre outros.

RESULTADOS:
Compreendemos que a educação tradicional é transmitida de pais para filhos, num processo conflituoso de incorporação e ressignificação dos saberes e culturas (adulta e infantil, entre outras diversidades de ser), postos em relação. Ao interagirem no ritual, meninos e meninas estão aprendendo as práticas culturais transmitidas pelos mais velhos e pelas autoridades constituídas na própria comunidade da qual participam. É na cultura que nos completamos como pessoa, pois são por meio dos símbolos que orientam cada sociedade que os sujeitos criam espaços onde se apropriam de elementos que permitem uma caracterização do eu, do nós, e do outro. Os saberes da cultura tradicional são apropriados no cotidiano das festas pelas crianças, sem um local específico, pois esse processo de aprendizagem não tem tempo ou local demarcado nem manual, nem lugar, nem ora marcada, ou seja, como afirma Pessoa (2005), ele “acontece exatamente no acontecer da ação” (p.63). Assim verificamos que a aprendizagem da cultura tradicional cacerense ainda ocorre no cotidiano de crianças, pela imitação possibilitada nos ambientes familiares que possibilitam a manutenção dos valores culturais considerados eficazes para a formação dos novos membros da comunidade.

CONCLUSÕES:
A pesquisa nos possibilitou compreender como as pessoas se educam neste espaço de religiosidade, lazer e cultura. Nesse sentido compreendemos que os “saberes em festa” são transmitidos no cotidiano das famílias e na própria vivência da festa de santo, isto é, “[...] as pessoas convivem uma com as outras e o saber flui, pelos atos de quem sabe-e-faz para quem não sabe-e-aprende” (Brandão apud Pessoa, 2005, p. 81). Por meio das relações existentes, os sujeitos pesquisados produzem, reproduzem e resignificam a cada instante os códigos simbólicos inerentes a sua cultura. Com a pesquisa, podemos afirmar que a escola cabe reconhecer os saberes com os quais a criança se constitui em sua família e comunidade a fim de apropriar-se das formas de aprender e possibilitar, numa perspectiva intercultural e dialógica, a educação das crianças que nela também se constituem como sujeitos. Para que possam se identificar e permanecer numa escola que, enfim, possa romper com as práticas excludentes e autoritárias, transformando-se num espaço social relevante no processo de promoção da igualdade e da valorização de todas as formas de viver em sociedades diversas, no mesmo planeta.

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Festa de Santo, Educação, Cultura Tradicional

E-mail para contato: neide_pedagogia@hotmail.com