60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 3. Psicologia Clínica

PARENTALIDADE E ACOMODAÇÃO FAMILIAR EM FAMÍLIAS DE PACIENTES COM TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO

Renata Lopes Arcoverde1, 2
Maria Cristina Lopes de Almeida Amazonas1, 3

1. UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO
2. Aluna Bolsista CNPq - Unicap
3. Orientadora - Prof. Dra. - Unicap


INTRODUÇÃO:
O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) tem como características as obsessões: “idéias, pensamentos, impulsos ou imagens persistentes, que são vivenciados como intrusivos e inadequados e causam acentuada ansiedade ou sofrimento” e as compulsões: “comportamentos repetitivos [...] ou atos mentais [...] cujo objetivo é prevenir ou reduzir a ansiedade ou sofrimento, ao invés de oferecer prazer ou gratificação” (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2002, p. 399). Conviver com um portador de TOC pode ser desgastante, porque seus rituais impõem certa rigidez ao ambiente e a repetição de seus comportamentos parece sem sentido. Assim, a presença de uma pessoa com esses sintomas tende a produzir mudanças na vida dos familiares (SILVA, 2006). Um dos fenômenos mais freqüentes nas famílias de pacientes com TOC é a acomodação familiar. Este fenômeno se refere à participação da família nos comportamentos associados aos rituais do paciente e às modificações na rotina, contribuindo para o desencadeamento e manutenção dos sintomas (CALVOCORESSI, LEWIS, HARRIS, TRUFAN, GOODMAN & MCDOUGLE, 1995). Esta pesquisa verificou o grau de acomodação familiar apresentado pelas pessoas que exercem o papel de pai/mãe desses pacientes.

METODOLOGIA:
Participaram até o momento 14 familiares de pacientes com TOC: 12 mães e 2 pais. Os pacientes foram selecionados no Hospital Oswaldo Cruz, em Recife, no setor para atendimento de pacientes com esse transtorno (PROTOC). Utilizou-se a Medida de Criticismo Percebido, a Escala de Acomodação Familiar de Calvocoressi e outros (1995), e uma entrevista semi-estruturada individual. Foi feito contato com os pacientes em tratamento, que assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) após aceitar participar da pesquisa. Os familiares foram selecionados a partir dos resultados da aplicação aos pacientes da Medida de Criticismo Percebido, que indicou qual o familiar mais próximo de cada um. Após a identificação deste familiar, estando o mesmo em relação de parentalidade com o paciente, pedimos seu consentimento por escrito (TCLE) para participar da pesquisa e este respondeu à Escala de Acomodação Familiar. As entrevistas foram realizadas no PROTOC, em sala reservada, para que não houvesse interrupções e para preservar o sigilo das informações repassadas. Elas foram gravadas e, posteriormente, transcritas, com autorização dos sujeitos. Os resultados receberam tratamento estatístico descritivo e as entrevistas foram submetidas à Análise de Conteúdo (MINAYO, 1999).

RESULTADOS:
A maioria das mães (10 delas) diz que houve modificações na organização familiar devido à doença. Entre os pais, um deles afirma nunca ter alterado sua rotina, o que pode ser explicado pelo fato de que os pacientes indicaram mais vezes a mãe como familiar mais próximo a eles (85,7% das vezes, o que corresponde a 12 entre 14 indicações, na Medida de Criticismo Percebido). Segundo Costa (2003), a mãe é culturalmente a figura parental que mais exerce o papel de cuidadora dos filhos. Entre as alterações, foram citadas nas entrevistas: maior preocupação com o parente adoecido; redução de atividades acadêmicas, sociais e profissionais; realização de tarefas simples, que seriam de responsabilidade do próprio paciente (como tomar banho ou vestir-se) e diminuição da qualidade do sono. De acordo Steketee (1997), outros sinais de acomodação familiar seriam: manter móveis ordenados de determinada forma ou alterar o esquema de lazer ou trabalho da família em função do paciente. Todos os participantes afirmam haver desgaste na família, decorrente da convivência com os sintomas do TOC. Entre as mães, cinco apontam desgaste moderado, três indicam muito e muitíssimo desgaste e uma diz que há pouco desgaste, enquanto um dos pais indica desgaste moderado e um relata muitíssimo desgaste.

CONCLUSÕES:
Pode-se dizer que a acomodação familiar é um padrão de relacionamento presente nas famílias pesquisadas. Os participantes relatam modificações na rotina que incluem a diminuição de suas atividades acadêmicas, profissionais e sociais, além de maior preocupação e envolvimento com relação aos comportamentos do paciente e menor qualidade do sono. Encontramos maior ocorrência de mães do que de pais exercendo o papel de cuidar dos filhos e, talvez justamente pela maior convivência cotidiana, as mães parecem apresentar maior grau de acomodação familiar e vivenciar mais desgaste do que os pais. Steketee (1997) também encontrou familiares de portadores de TOC com níveis aumentados de estresse e que reduziram suas atividades de forma a dedicar-se a cuidar dos doentes. As constantes alterações na rotina reforçam os sintomas obsessivos e compulsivos (mesmo que não seja esta a intenção dos parentes), pois a participação nos rituais do paciente podem desencadear e manter esses comportamentos (CALVOCORESSI e outros, 1995). Considerando o número relativamente pequeno de autores que investigam a importância das relações familiares para a melhoria ou manutenção dos sintomas de pacientes com TOC, acreditamos que esta pesquisa poderá trazer contribuições para a literatura sobre o tema.

Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  TOC, Parentalidade, Acomodação Familiar

E-mail para contato: temploazul@gmail.com