60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação

A ANGÚSTIA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO

Daniela Kitawa Oyama1
Ana Archangelo2, 3

1. Mestrado em Educação/FE-UNICAMP
2. Profa. Dra./Orientadora
3. Departamento de Psicologia Educacional/FE-UNICAMP


INTRODUÇÃO:
A preocupação em relação aos professores deixou de ser exclusivamente com sua formação, dadas as indicações de que algumas dificuldades enfrentadas por eles têm envolvido a esfera afetiva, além das tradicionalmente consideradas, como a política e a cognitiva. Isso pode ser facilmente percebido atualmente pelo alto número de afastamentos e licenças de professores conseqüentes de problemas de saúde, grande parte deles, emocionais. Também preocupada com essa dificuldade que envolve a esfera emocional dos professores, trato neste trabalho sobre a angústia sentida por eles diante dos alunos, através de uma análise psicanalítica do fenômeno da angústia. Isso porque acredito que quanto maior a percepção e o entendimento do professor sobre seus sentimentos, mais facilmente poderá lidar com eles e evitar reações que potencializem a angústia e coloquem em risco seu papel de educador.

METODOLOGIA:
Parti do conceito de angústia para dois autores, Freud e Melanie Klein, para realizar uma análise psicanalítica do fenômeno da angústia na relação professor-aluno. A pesquisa foi realizada com professores de 1ª a 4ª séries do Ensino Fundamental em uma escola de Campinas situada em uma área de alta exclusão social. Para alcançar o objetivo proposto, acompanhei reuniões semanais de um grupo de professores durante um ano e meio, observei algumas de suas aulas e, com o auxílio da psicanálise, realizei entrevistas abertas com seis professoras. A amostra de professores entrevistados foi reduzida, dada a natureza qualitativa da pesquisa que buscava um entendimento aprofundado do fenômeno da angústia do professor.

RESULTADOS:
Apesar de foco da investigação ter sido a angústia sentida pelo professor na relação com seus alunos, outros aspectos considerados mobilizadores de angústia foram mencionados na entrevista, em especial, a relação com a direção da escola e com os colegas. Embora fonte de insatisfação, o salário não foi citado como fonte significativa de angústia, ao contrário do que se poderia prever. A indisciplina e a perda de autoridade são vivenciadas diferentemente de professor para professor e podem ter significados muito diferentes para cada um deles. Alguns professores são dispersivos quanto à sua angústia, faltam às aulas para lidar com ela, outros ainda negam os sentimentos que os alunos despertam neles. Uma das professoras entrevistadas projetava a responsabilidade pelos alunos que não sabem ler e escrever na 4ª série sobre a figura da Orientadora Pedagógica, para quem perguntou o que fazer sem ter obtido uma resposta que considerasse satisfatória para aplacar sua angústia. A angústia e a frustração de outra professora eram tão intensas que se tornavam insuportáveis para ela, impedindo-a de pensar sobre seus alunos.

CONCLUSÕES:
A forma e a intensidade da angústia sentida pelo professor dependem, fundamentalmente, de como ele interpreta o comportamento do aluno. Se o professor o entende como uma queixa que, antes de qualquer coisa, diz e revela algo do próprio aluno, dificilmente vai entender a atitude desse como um ataque a sua pessoa, e sim como algo que cabe a ambos enfrentar. Nesses casos, os problemas não colocam em risco a disciplina da sala, nem tampouco a autoridade do professor. Essa percepção, no entanto, ora está presente no discurso do professor, ora não. Nessa última situação, a angústia pode se tornar excessiva, atrapalhando sua capacidade de pensar. Quando a angústia é tolerada, contudo, é de grande importância para a realização do trabalho, pois é por sentir essa angústia que o professor pode se preocupar, questionar-se, pensar sobre o problema e tentar encontrar novos caminhos de atuação.

Instituição de fomento: CNPq



Palavras-chave:  professores, angústia, psicanálise

E-mail para contato: dani_oyama@yahoo.com.br