60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 1. Anatomia Vegetal

CARACTERIZAÇÃO MACRO E MICROSCÓPICAS DE MADEIRAS CONHECIDAS COMO AROEIRA E QUEBRACHO, OCORRENTES NO MATO GROSSO DO SUL

Silvana Cristina Hammerer de Medeiros1
Erika Amano2
Edna Scremin Dias3

1. Acadêmica do Curso de Ciências Biológicas da UFMS
2. Prof. Dra. - Departamento de Botânica / UFPR
3. Prof. Dra. - Departamento de Biologia / UFMS


INTRODUÇÃO:
As madeiras de aroeira e quebracho estão entre as mais importantes do Brasil devido às suas características mecânicas, físicas e químicas que lhes proporcionam dureza e durabilidade. No estado do Mato Grosso do Sul ocorrem quatro espécies conhecidas popularmente como aroeira, Myracrodruon urundeuva (Engh.) Fr. All., Astronium fraxininfolium Schott., Lithraea molleoides (Vell.) Engl., Schinus terebinthifolia Raddi e, duas espécies conhecidas por quebracho, Schinopsis balansae Engl. e Aspidosperma quebracho-blanco Schltdl. Ao longo destas últimas décadas a pressão de exploração destas espécies provocou declínio acentuado nas populações de M. urundeuva e A. fraxininfolium , resultando na inclusão destas na lista vermelha de espécies vulneráveis do IBAMA. É comum a identificação errônea destas madeiras, devido ao mesmo nome popular e características semelhantes, favorecendo então o comércio ilegal. Há carência do estudo destas espécies sobre todos os aspectos, principalmente quanto à anatomia do lenho, motivando o presente trabalho a caracterizar e diferenciar a madeira destas espécies, elaborar uma chave de identificação macro e microscópica a fim de propiciar meios para detectar enganos, fraudes e auxiliar os órgãos competentes a evitar o comércio ilegal.

METODOLOGIA:
As amostras foram obtidas por doações de órgãos competentes de fiscalização e/ou coletas in loco. De cada espécie foram reunidas 3 amostras. A amostra do tronco foi retirada a aproximadamente 1,30 m acima do solo e o local afetado pela coleta foi tratada com sulfato de cobre e óxido de cálcio na proporção de 1:2 respectivamente, impedindo então a ação de microorganismos. Metade do material coletado foi fixada em FAA em etanol 50% por aproximadamente 30 dias e, após a fixação, as amostras foram armazenadas em álcool 70%. A outra metade com aproximadamente 3 cm3, foi secada lentamente e polida em gradativas espessuras de lixas, proporcionando a observação adequada das características macroscópicas, sob uma lupa “conta-fios”. As secções foram obtidas a mão livre, com auxílio de lâmina de barbear, efetuadas logo após o amolecimento do material por cozimento, técnica simples e acessível aos fiscais dos postos de fiscalização. As secções transversais, longitudinais tangenciais e radiais foram preparadas para montagem de lâminas semi-permanentes com técnicas usuais de anatomia de madeira. As descrições anatômicas do xilema seguiram a terminologia recomendada pela International Association of Wood Anatomists (IAWA), e a documentação foi realizada com o auxilio do equipamento de digitalização acoplado ao microscópio.

RESULTADOS:
Os únicos dados macroscópicos de fácil distinção foram a porosidade e a coloração, que possibilitaram formar dois grupos: i) espécies de cerne de amarelo a pardo – A. quebracho-blanco; L. molleoides; S. terebintifolia ; ii) espécies com cerne marrom-avermelhado – A. fraxininfolium; M. urundeuva; S. balansae . Porém, outros dados macroscópicos não foram características distintas entres as madeiras tornando necessário a analise microscópica. Esta análise demonstrou que no grupo i) A. quebracho-blanco pode ser distinta das demais espécies por apresentar fibras com pontoações exclusivamente areoladas, ausência de septos, e parênquima apotraqueal difuso. A presença de canais radiais em S. terebintifolia foi consistente para diferenciá-la de L. molleoides que não possui esta característica. No grupo ii) A. fraxininfolium é a única espécie que não apresenta canal radial. S. balansae e M. urundeuva apresentam uma única característica que as diferem - largura do raio. M. urundeuva sempre possui de uma ou duas células de largura, e S. balansae de duas a quatro células de largura.

CONCLUSÕES:
O trabalho confirmou por meio do estudo macro e microscópico, a grande semelhança entre todas as espécies estudadas. Este é o principal fator que dificulta o controle do comércio ilegal no estado. No entanto essas características, quando bem avaliadas, auxiliam a separação destas madeiras em dois grupos, o que infelizmente não permite a distinção das duas espécies de aroeira Astronium fraxininfolium e Myracroduon urundeuva que são vulneráveis à extinção. Todavia os carregamentos de aroeira podem ser distintos de quebracho, pois Schinopsis balansae possui raios com duas a quatro células de largura, diferente das aroeiras que possuem geralmente raios bisseriados, e a presença de canais radiais em Astronium fraxininfolium. Os caracteres aqui apresentados contribuem para correta identificação e fiscalização das espécies ameaçadas de extinção.

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  madeiras nativas, anatomia da madeira, identificação

E-mail para contato: silhammerer@gmail.com