60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 2. Biologia - 3. Biologia Geral

CONCEPÇÕES DOS CATADORES DE LIXO SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Ana Rita Franco do Rêgo1, 2
Jacineide Gabriel Arcanjo2
Ana Lucia Gomes Cavalcanti Neto1, 2

1. Secretaria de Educação de Pernambuco
2. Departamento de Educação - UFRPE


INTRODUÇÃO:
Se por um lado os avanços tecnológicos trouxeram importantes contribuições que tornaram possível o desenvolvimento globalizado da sociedade por outro, de acordo com Machado (2004), fortaleceram uma concepção de valorização pelas pessoas das questões materiais. Essa nova dinâmica da rapidez frenética, da competição acirrada e de novas exigências conceituais fez surgir um novo modelo de sociedade, nela o ter está em detrimento do ser. Nesse contexto, instaurou-se uma crise de valores que tem gerado problemas sociais e ambientais das mais variadas proporções. O processo de exclusão social que acomete a população menos favorecida é resultado dessa crise. Nesse cenário, a coleta de lixo passou a representar uma alternativa de sobrevivência para muitas pessoas que se encontram à margem dessa sociedade. Apesar de representar uma forma de trabalho vista como degradante, os catadores de lixo, à medida que estão buscando seu sustento e ao mesmo tempo lutando contra a exclusão social, estão desenvolvendo uma atividade de grande importância ao meio ambiente e consequentemente à sociedade. A partir dessas reflexões buscamos, nesse trabalho, analisar as concepções dos catadores de lixo do Capina/PE sobre educação ambiental.

METODOLOGIA:
O presente trabalho, de natureza qualitativa, foi desenvolvido a partir de pesquisa realizada no mês maio de 2007, no município do Carpina, Zona da Mata de Pernambuco, com a comunidade de catadores de lixo do lixão da referida cidade. Durante a investigação buscou-se fazer um levantamento histórico da comunidade citada na perspectiva de levantar as concepções dos indivíduos pertencentes a tal comunidade, bem como fatores sociais relativos à vida e à sobrevivência dos mesmos. Foram realizadas entrevistas com membros da comunidade e sujeitos que nela atuam, com o objetivo de analisar os principais problemas da comunidade pela falta de uma educação ambiental. As entrevistas foram realizadas com 08 membros da comunidade de catadores, 01 atravessador (responsável pela venda de materiais coletados do lixo) e 01 representante da Secretaria de Ação Social da cidade. A pesquisa desenvolvida teve uma amostragem de dez participantes constituindo-se predominantemente por 60% de homens com elasticidade de idade dos 21 aos 45 anos e 40% mulheres, 90% deles afirmam que ganham por mês menos de um salário mínimo. Paralelamente realizou-se pesquisa bibliográfica em relação às orientações da educação ambiental quanto à problemática do lixo.

RESULTADOS:
Resultados apresentados em entrevista, concluímos que pessoas vivem no lixão por sobrevivência. Não apresentando perfil condizente as questões propostas pela Educação Ambiental, fazendo reflexão alguma das ações em favor do ambiente. Indagados sobre a existência do lixão, 70% afirmam retirar o próprio sustento, 60% vêem que o objetivo de estarem naquele local é catar lixo, vender e obter renda. Perguntado o que entendiam por meio ambiente, 60% afirmam não saber do que se trata e de que o lixo possa prejudicar esse ambiente. Destes, 90% falam de forma contraditória com relação à pergunta anterior - que o lixo faz muito mal à saúde, não sabendo explicar como. Na totalidade, 100% dos entrevistados afirmam viver lá para sobreviver, pois é a única forma de emprego que dispõem. Os resultados apontam desafios para o estabelecimento de ações educativas voltadas ao meio ambiente, pois existe a questão social associada ao fator degradação ambiental. Assim, há necessidade de investimentos em educação que busque formar um cidadão crítico-reflexivo, capaz de intervir, melhorando o ambiente e o mundo. Dessa forma, afirmamos, que os entrevistados apresentam consciência dos males causados pelo lixo a saúde e ao ambiente, mas a falta de oportunidades os impede de seguir outra vida.

CONCLUSÕES:
Constatamos que esses entrevistados estão alheios à sociedade, apresentando pouco conhecimento do que seja educação ambiental. Vivem na condição de catador por necessidade de sobrevivência não para colaborar com o meio ambiente na reutilização, redução e reciclagem dos materias não mais utilizados, apesar de estarem desenvolvendo uma atividade de grande importância ambiental. Portanto, representando uma forma de trabalho vista como degradante pela sociedade, os catadores fizeram do lixo uma maneira de obter seu sustento, remetendo-nos a uma reflexão sobre os desafios para mudar as formas de pensar e agir em torno da questão ambiental. Analisando os resultados percebemos a importância do desenvolvimento de uma educação ambiental que busque a formação da consciência crítica em relação às questões ambientais. Questões essas que considerem os aspectos biológicos, culturais, sociais e políticos, desenvolvendo, sobretudo uma educação ambiental crítica que preconize a construção significativa do conhecimento e a formação de uma cidadania ambiental. Parafraseando Leff (2001), sem que ocorra uma mudança radical nos sistemas de conhecimento, dos valores e dos comportamentos e, sobretudo na garantia de direitos a todos os cidadãos, não serão resolvidos os problemas ambientais.

Trabalho de Professor do Ensino Básico ou Técnico

Palavras-chave:  Educação Ambiental, Lixão, Concepção Ambiental

E-mail para contato: aanarita17@hotmail.com