60ª Reunião Anual da SBPC




E. Ciências Agrárias - 1. Agronomia - 2. Economia e Sociologia Agrícola

ASSISTÊNCIA TÉCNICA-EDUCACIONAL EM COMUNIDADES RIBEIRINHAS -MS1

Marco Aurélio de Almeida Soares2
Michele Sorgatto1
Diego G. W. Herradon1
Simone Sorgatto1

1. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
2. Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul


INTRODUÇÃO:
A agricultura familiar é responsável por grande parte da produção de alimentos em Mato Grosso do Sul. Existe uma diferença entre agricultura familiar e assentamentos rurais, pois agricultura familiar pressupõe “formas sociais já constituídas”, portanto, já integrada e sujeitas à lógica competitiva desta integração. Por outro lado, o assentamento rural está associado ao processo social e político de acesso à terra e de “constituição de novas formas sociais” de organização produtiva e de integração social (EMATER-RIO, 1996; FERREIRA, 1998). O Banco da Terra é uma forma de associação, que foi muito contestada inicialmente pelos demais movimentos do meio rural. Trata-se de um órgão de apoio a pessoas, que se presume serem “ex” pequenos produtores rurais, que de certa forma foram excluídos da terra anteriormente e que agora tem no banco uma forma de retorno ao meio rural. Assim, montam uma associação, buscam um parceiro que deseja vender sua terra e a compram em associação financiada pelo banco, passando a trabalhar de forma coletiva. Entretanto, os pequenos produtores rurais têm pouco acesso a informações tecnológicas e a produção é muito baixa, não produzindo renda suficiente para manter o assentado na propriedade. Estes motivos levaram os presidentes dos assentamentos rurais, Associação Guaicuru de Apoio a Reforma Agrária (GUAICURU) e Associação dos Agricultores Familiar Urbano e Rural do Estado de Mato Grosso do Sul (ASSAFUR), a procurarem a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FAMEZ), da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), para uma parceria que pudesse fornecer apoio e conhecimentos técnicos que permitissem o desenvolvimento de atividades mais rentáveis. Os dois assentamentos já passavam por dificuldades e frustrações de projetos anteriores, elaborados por consultorias particulares e que previam grande retorno. No Guaicuru foi a sericicultura e a criação de galinhas de postura, enquanto que no Assafur foi a produção em larga escala de leite. A dívida das associações chegou aos valores de R$ 600.000,00 e R$ 1.500.000,00 para o Guaicuru e Assafur respectivamente. Objetivou-se a elaboração de um plano de desenvolvimento participativo, através de uma pesquisa com a utilização de mandioca na alimentação de frangos de corte do tipo caipira, assim como, a interação dos alunos com os assentados para melhorar a qualidade de vida nas comunidades, além de propiciar aprendizado aos alunos dos cursos de Mestrado em Ciência Animal, e graduação em Zootecnia e Medicina Veterinária da UFMS.

METODOLOGIA:
O projeto desenvolvido foi uma parceria entre a UFMS, através da FAMEZ e os assentamentos rurais, GUAICURU e ASSAFUR. Os dois assentamentos são financiados pelo Banco da Terra e estão situados na “Fazenda Euphoria”, situada no município de Terenos (MS), a 75 km da sede do município, na estrada de acesso ao município de Dois Irmãos do Buriti. Cada assentamento apresentava uma área de 420 ha, sendo dividida em 30 famílias com uma média de quatro pessoas, envolvendo aproximadamente 240 pessoas. Antes de qualquer atividade foi desenvolvido um diagnóstico rápido participativo, onde cada associado de forma individual, depois em grupos e finalmente em suas assembléias discutiram seus problemas e apontaram soluções com definição de prioridades (FERREIRA, 1998). Os acadêmicos realizaram várias palestras versando assuntos de interesse da comunidade. Foi feita a implantação de uma unidade demonstrativa (UD) de criação de frangos de corte do tipo caipira, a qual contou com a participação efetiva de assentados, docentes e alunos. Na UD foram realizados dois experimentos com o aproveitamento da produção local de mandioca. No primeiro experimento foram testados quatro níveis de farelo de raiz integral de mandioca (FRIM), em substituição ao milho como fonte energética, na alimentação de frangos de corte do tipo caipira. Os níveis de inclusão foram 0%, 15%, 30% e 45%, com quatro repetições de 25 aves. Os parâmetros zootécnicos avaliados foram: peso final, ganho de peso, consumo de ração, mortalidade e conversão alimentar aos 84 dias de idade. Os rendimentos de carcaça e de cortes também foram determinados após o abate de 5 aves por repetição (CARRIJO, 2003). No segundo experimento utilizou-se o nível de 15% de FRIM e diferentes níveis de proteína bruta (19%, 17% e 15%) nas dietas, nas fases de cria, recria e engorda respectivamente. No 85º dia foram medidos os mesmos parâmetros zootécnicos do 1º ensaio e abatidas quatro aves por repetição para avaliação de carcaça e cortes. Durante a realização dos experimentos, alguns alunos permaneceram morando com os assentados para cuidarem das aves e ensinar os membros do grupo, vivenciando assim, os conhecimentos práticos tão necessários ao aprendizado.

RESULTADOS:
Embora os diagnósticos fossem feitos em cada uma das associações as respostas foram muito semelhantes, tanto nos problemas como na solução. O que chamou a atenção foram alguns pontos que confirmam os dados encontrados na literatura, que considera o assentamento rural como um “espaço em formação”. Ficou evidenciado que a origem do assentado não condizia com a atividade rural, pois foram encontrados eletricistas, pedreiros, funileiros, encanadores e até funcionários públicos. Apenas uma família por assentamento tinha origem e experiência no meio rural. Outro fator de grande importância refletiu na desorganização e a desconfiança entre os assentados. A grande reclamação deles, era quanto ao número de participantes nas assembléias e o desinteresse pelas decisões, assim como, a ausência de transparência na aplicação dos recursos provenientes do programa nacional de agricultura familiar (Pronaf). Em função desses fatores a taxa de inadimplência na associação chegava perto dos 100%. A incapacidade de retorno sobre os investimentos feitos por essa associações para manterem o sustento das famílias, faz com que durante a semana os assentamentos fiquem quase desertos, pois há a necessidade de deslocamento até Campo Grandena busca de trabalho esporádico (bicos) para a sobrevivência das famílias. A falta de condições para sobrevivência tem provocado também, a constante venda de lotes, prejudicando ainda mais o relacionamento interno, pois o novo proprietário acredita que não tem compromisso com o que já foi feito dentro da associação e, portanto, não devem favores nem satisfação aos demais membros da comunidade. Este relacionamento acaba aumentando as tensões entre os que ficam e os que chegam. Uma solicitação do diagnóstico, que atingiu quase 100% dos assentados, foi o trabalho individual nos quatro hectares que cada associado tem direito, tendo em vista que, os retornos do trabalho coletivo não chegam aos associados. A possível solução para este problema foi a criação do frango tipo caipira, visto por todos como a grande tábua de salvação para que essas famílias se estabelecessem definitivamente no assentamento. Muito embora os grandes conflitos existentes dentro dos assentamentos, ficou claro, que todos gostariam de retirar seus sustentos da propriedade e deixar para trás a vida de incerteza na cidade. A grande maioria dizia estar melhor no assentamento do que quando moravam na cidade. A FAMEZ/UFMS desenvolveu uma série de ações após a realização do diagnóstico rural. Foi apresentado um ciclo de palestras pelos alunos dos cursos de Medicina Veterinária e Zootecnia com temas sobre manejo reprodutivo, criação de aves, controle de zoonoses, produção leiteira, doenças de bovinos, agronegócio e parcerias rurais. A implantação UD de criação de frangos de corte do tipo caipira contou com a participação efetiva de assentados, docentes e alunos. Foram testados os níveis 0%, 15%, 30% e 45% de inclusão de FRIM, em substituição ao milho como fonte energética, na alimentação de frangos de corte do tipo caipira. Os resultados obtidos no 1º experimento demonstraram que os frangos alcançaram o peso esperado, apresentando peso final médio entre 2.011 e 2.051 gramas, não ocorrendo diferenças significativas entre os tratamentos. Os rendimentos de carcaça ficaram entre 78,38% e 78,73%, não diferindo entre os tratamentos. No 2º experimento verificou-se que os diferentes níveis de proteína bruta utilizados nas dietas não influenciaram o desempenho das aves. O peso final variou entre 2.393g e 2.420g, não diferindo estatisticamente. Também não houve diferença no rendimento de carcaça. Durante a realização dos experimentos, alguns alunos do curso de Zootecnia permaneceram morando com os assentados, com o intuito de cuidarem das aves e transmitir ensinamento aos membros do grupo. Os resultados demonstraram que os frangos alcançaram o peso esperado e que não houve diferença significativa entre as aves alimentadas com milho e as dietas contendo mandioca, diminuindo os custos das rações.

CONCLUSÕES:
Os resultados obtidos nas UD demonstraram que os frangos alcançaram o peso esperado e que não houve diferença significativa entre as aves alimentadas com milho e as dietas contendo mandioca, proporcionado assim, uma diminuição nos custos das rações. Apesar do sucesso dos experimentos com as aves, conclui-se que, devido ao imediatismo e as necessidades urgentes dos assentamentos, aliado à total falta de experiência no meio rural por parte da maioria dos assentados, não houve prosseguimento nas atividades devido a fatores importantes como desconfiança e desorganização. Deverá ser efetuado um trabalho mais em longo prazo para conquistar a confiança do grupo de assentados e disseminar novas técnicas de produção para melhoria de renda.



Palavras-chave:  Agricultura familiar, educação, comunidade ribeirinha

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