60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 1. Anatomia Vegetal

ANATOMIA FOLIAR DE PSIDIUM SP. NOV. (MYRTACEAE)

Pedro Ítalo Tanno Silva1
Misléia Rodrigues de Aguiar Gomes1
Sônia Nair Báo1
Carolyn Elinore Barnes Proença2
Suzane Margaret Fank-de-Carvalho3

1. Laboratório de Microscopia Eletrônica – Universidade de Brasília/UnB
2. Departamento de Botânica – Universidade de Brasília/UnB
3. Departamento de Biologia Celular e Estrutural – Universidade Estadual de Campina


INTRODUÇÃO:
A família Myrtaceae possui 100 gêneros e cerca de 3000 espécies; é conhecida pelo seu uso madeireiro (Eucalyptus), alimentício [Psidium guajava L. (goiaba) e Eugenia uniflora L. (pitanga)] e na medicina popular. Somente o gênero Psidium possui cerca de 100 espécies, muitas agrupadas em complexos taxonômicos, em função da dificuldade de distinguí-las somente pela morfologia. As folhas de Psidium sp. nov. são buladas, simples, opostas, pecioladas, inteiras, com forma elíptica-oblonga simétrica. A venação é camptódroma e a nervura última marginal é completa, formada em arcos. As folhas são anfi-hipoestomáticas, apresentam tricomas tectores unicelulares, raros na face adaxial e abundantes na face abaxial. Os estômatos são, predominantemente, paracíticos e ocorrem em ambas as faces foliares (caráter novo para o gênero). Psidium sp. nov. é encontrado em áreas de cerrado do Distrito Federal. A similaridade morfológica das flores e forma da folhas sugeria, inicialmente, que a mesma pudesse pertencer ao complexo Psidium australe-grandifolium. O objetivo deste trabalho é descrever a anatomia foliar da espécie e determinar características de valor taxonômico para a comparação com os demais componentes do complexo, como P. australe, outra espécie nativa do Cerrado e analisada anteriormente.

METODOLOGIA:
Ramos de Psidium sp. nov. foram coletados no Parque Nacional de Brasília e no Parque Olhos D´Água, fixados em FAA70 por 24h e conservadas em etanol 70% até o processamento. Exsicata de material-testemunha foi depositada no Herbário da Universidade de Brasília (Coleta C. Proença 3016). Utilizando folhas completamente expandidas do 2º ao 4º nó a partir do ápice, foram feitas secções transversais à mão livre do terço-médio foliar e algumas frações foliares foram emblocadas em resina JB4, sendo posteriormente seccionadas em micrótomo. Parcelas do terço médio tiveram seu mesofilo digerido em solução de Franklin, para permitir a observação das epidermes foliares em vista paradérmica. As secções obtidas à mão livre foram submetidas a testes histoquímicos para amido (lugol), celulose e lignina (cloreto de zinco iodado), composição de cristais (ácido clorídrico a 10% e ácido nítrico a 10%), lipídios, ceras, suberina e cutina (Sudan III e Sudan IV) e proteínas (azul de Comassie). As secções obtidas do material emblocado foram submetidas à coloração com azul de toluidina. O material foi analisado e fotografado sob um microscópio Zeiss Axiophot com Câmera digital acoplada.

RESULTADOS:
A epiderme uniestratificada das folhas de Psidium sp. nov. possui tricomas tectores unicelulares, estômatos paracíticos, células epidérmicas comuns tetra a poligonais e células incolores sobre cavidades secretoras. Em vista transversal, o mesofilo é dorsiventral e as células da epiderme adaxial possuem formato tabular e cutina espessa, enquanto as células da epiderme abaxial apresentam papilas na parede periclinal externa. Os estômatos, nivelados na face adaxial, são levemente salientes na face abaxial. O parênquima paliçádico adaxial possui 1-2 camadas. Na nervura principal, o feixe vascular é bicolateral, com calotas de fibras lignificadas. Os demais feixes vasculares, colaterais, também apresentam fibras lignificadas. As cavidades secretoras são subepidérmicas e se distribuem por todo o mesofilo; seu conteúdo demonstrou reação positiva para lipídios, amido e proteínas. No parênquima clorofiliano e na nervura principal foram encontradas drusas e cristais prismáticos de oxalato de cálcio. O parênquima lacunoso, abaxial, é composto por 1-2 camadas de células lobadas. O amido se concentra na bainha do feixe da nervura principal, no parênquima de todos os feixes vasculares e no parênquima clorofiliano. Na nervura principal, o conteúdo de várias células reagiu ao teste de lipídios.

CONCLUSÕES:
As folhas de Psidium sp. nov. possuem, como características anatômicas comuns às de outras espécies do gênero Psidium: estômatos paracíticos, epiderme foliar uniestratificada e tricomas tectores unicelulares, a hipoderme restrita à face adaxial (quando existente) e mesofilo com estrutura dorsiventral e cavidades secretoras. Há espécies da família Myrtaceae que apresentam cristais prismáticos e drusas que, quando localizados na epiderme, têm grande importância taxonômica; outras apresentam feixes de fibras esclerenquimáticas não associadas aos elementos condutores. Em Psidium sp. nov. foram encontradas drusas e cristais prismáticos, mas elas estão restritas ao mesofilo, não ocorrendo na epiderme; os estômatos, presentes em ambas as faces epidérmicas, representam um caráter diferencial importante, que não ocorre em outras espécies do gênero. Diferentemente das folhas de P. australe, o mesofilo dessa espécie apresenta número reduzido de camadas, folhas anfi-estomáticas e drusas. A presença de drusas mostra relações da espécie com P. ovale, P. cattleyanum, P. basanthum e P. widgrenianum, ao mesmo tempo em que determina que a espécie não pode ser posicionada no mesmo clado da goiabeira (P. guajava) e sugere seu posicionamento fora do complexo Psidium australe-grandifolium.



Palavras-chave:  Anatomia Foliar, Mytaceae, Psidium

E-mail para contato: pedroitalo.tanno@gmail.com