60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 6. Ciência Política - 5. Relações Internacionais

IMIGRANTES BOLIVIANOS EM SÃO PAULO: IDENTIDADE E CULTURA

Joice Vanini1
Adriana Capuano de Oliveira1

1. UNESP - Campus Franca


INTRODUÇÃO:
Imigrantes bolivianos dirigem-se para diversas cidades brasileiras, porém a cidade de São Paulo é o principal centro aglutinador dessas pessoas. Somente a partir da década de 80 a presença boliviana em São Paulo tornou-se significativa; mas tal presença existe desde a década de 50, quando estudantes bolivianos vinham ao Brasil, estimulados pelo programa de intercâmbio entre os dois países. Hoje, os imigrantes bolivianos vêm ao Brasil atraídos pelas promessas de bons empregos no ramo de confecções no mercado paulistano, transformando a presença boliviana em fato inconteste em São Paulo e no grupo mais numeroso de hispano-americanos na cidade. Este trabalho tem como objetivo estudar como vivem os bolivianos em São Paulo e se aprofundar no choque cultural resultante desse processo migratório relevando aspectos identitários da população boliviana na cidade. Para tal, são abordados os temas de discriminação e estigmatização dos bolivianos pela sociedade brasileira; além da plurietnicidade boliviana, seus regionalismos e suas formas de expressão cultural em São Paulo.

METODOLOGIA:
No desenvolvimento o trabalho, foram utilizadas fontes secundárias. Cabe assinalar as literaturas mais importantes dentro dos assuntos abordados. Dentro do tema de Migrações, serão abordadas as visões de Abdelmalek Sayad e Roberto Herrera Carassou. Especificamente sobre os bolivianos em São Paulo destaca-se, sem dúvida, a importância do trabalho de Sidney Antônio da Silva. Finalmente, para abordar os aspectos de identidade e globalização nas Relações Internacionais serão lidos alguns textos de Zygmund Bauman e Manuel Castells. Também como fontes secundárias foram obtidos dados de consulados, Polícia Federal, Câmara Municipal de São Paulo e a outras instituições pertinentes para se obter importantes estatísticas e informativos que enriqueceram a pesquisa. O método de analise é o histórico-analítico, pois o trabalho conta com a base histórica das migrações bolivianas para o Brasil. Também é utilizado o método indutivo-dialético, já que o ponto de partida é a análise particular da situação identitária dos imigrantes bolivianos para atingir uma análise desse tema dentro das Relações Internacionais.

RESULTADOS:
Os fatores que levam os bolivianos a emigrar são muitos, mas com certeza a fragilidade econômica da Bolívia é preponderante. A maior característica da população boliviana (em geral jovens; de ambos os sexos; solteiros e de escolaridade média) é a busca de bons salários na indústria da confecção. Porém, o que parece ser uma boa oportunidade se transforma em frustração e humilhação, pois o trabalho é exaustivo, a jornada ultrapassa doze horas, o salário é gasto quase todo com alimentação e aluguel, as condições de moradia são precárias e não se pode sair de casa, por causa do medo de ser detido pela polícia federal. Mesmo assim, essa condição tem a conivência do imigrante; já que ele a considera uma fase transitória onde ele sonha montar sua própria oficina de costura. Por isso, além de coreanos, é grande a quantidade de bolivianos que exploram seus compatriotas. Alguns bolivianos trabalham em profissões liberais, como médicos e dentistas; mas são a minoria da população imigrante, devido à grande dificuldade para revalidar os títulos acadêmicos. Além das dificuldades no trabalho, a migração Bolívia-Brasil implica num choque cultural muito intenso, que coloca para a sociedade a questão da diferença, a qual é majoritariamente tratada no sentido de inferiorização.

CONCLUSÕES:
No Brasil, a cultura de matrizes indígenas é mal vista e associada à pobreza e pouca cultura. Além disso, os imigrantes são relacionados ao trabalho escravo, tráfico de pessoas, drogas e contrabando, devido às reportagens veiculadas sobre o assunto. Piora a discriminação o fato de que os imigrantes são ilegais e trabalham irregularmente. A Bolívia é conhecida pela sua plurietinicidade e regionalismo. Porém, enquanto lá as diferenças culturais são acentuadas, aqui os símbolos específicos dessas diferenças são utilizados tanto como marcas regionais de diferenciação como fenômeno agregador de uma identidade nacional em contraposição à discriminação sofrida. Outro aspecto é o preconceito devido à pobreza. Inerente ao sistema capitalista, a exclusão material é característica da maioria dos imigrantes. Portanto, eles vivem numa dupla exclusão: pela diferença e pela pobreza. Estigmatizados, se mobilizam na construção de uma nova imagem de si mesmos; através do reconhecimento social via formação de instituições (como a Fraternidade Bolívia Central), festas devocionais, ocupação de espaços como a Praça Kantuta, no Canindé e a Igreja Nossa Senhora da Paz, no Glicério, como também pelo reconhecimento econômico via competição, visando ser proprietário da própria oficina de costura.



Palavras-chave:  imigração boliviana, identidade, estigmatização

E-mail para contato: joicevanini@uol.com.br