60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana

AGRICULTURA INTENSIVA E CAMPESINATO EM BOM JARDIM, RJ

José Grabois1
Lucia Helena da Silva Cezar2
Maria Consuelo Rodrigues Bernardes3
Silvia Salles Neves4
Gustavo Teixeira de Andrade5
Karen Christine Henriques de Andrade6

1. Prof. Adjunto e Coordenador do Grupo de Estudos Agroambientais DGF/UERJ.
2. Mestra em Geografia pela UFRJ. Pesquisadora associada.
3. Bolsista de Apoio Técnico do CNPq. Graduada em Geografia pela PUC/RJ.
4. Graduada em Geografia pela PUC/RJ. Pesquisadora associada.
5. Bolsista de IC da FAPERJ. Graduando em Geografia pela UERJ.
6. Bolsista de IC do CNPq. Graduando em Geografia pela UERJ.


INTRODUÇÃO:
Este trabalho é fruto de pesquisa mais ampla onde se propôs o resgate, desde meados do século XX até a atualidade, das diferentes etapas do desenvolvimento da economia agrária da Serra Fluminense privilegiando a questão da permanência do campesinato. Sua existência, cujas origens reportam-se ao povoamento baseado na cafeicultura, tornou exeqüível a realização ulterior de sistemas agrícolas intensivos especialmente de mão-de-obra. Tendo em vista o permanente processo de reordenação espacial vinculado ao desenvolvimento capitalista, buscou-se compreender como o campesinato criou formas de adaptação aos diferentes contextos que se delinearam ao longo da história regional. A pesquisa prestou-se, enquanto estudo de caso, à comprovação da permanência do trabalho camponês, aí residindo sua relevância teórica. Tem, ainda, importância social, constituindo subsídio para implementação de políticas públicas traduzidas numa reforma agrária, visando melhorias das condições de vida do trabalhador rural.

METODOLOGIA:
De acordo com a proposta da pesquisa e apoiados nas idéias de autores como Ariovaldo Umbelino de Oliveira, Maria Emília Lisboa Pacheco, Marta Inez Medeiros Marques e João Pedro Stédile a respeito da permanência do trabalho camponês, abordamos a evolução econômica do município e seus reflexos nas sucessivas reordenações espaciais e nas transformações sofridas pelo campesinato. Tendo em conta que o estudo geográfico permite a percepção dos termos concretos das relações sociedade-espaço, nas quais está implícita a consideração de uma perspectiva histórica e contemplando o desenvolvimento do estudo do trinômio terra-capital-trabalho, abordamos os assuntos evolução da economia, morfologia agrária, sistemas agrícolas, estrutura fundiária, relações de trabalho, comercialização e impactos ambientais. Para alcançar o que foi proposto, efetuamos inicialmente o levantamento e a análise de material bibliográfico, cartográfico e de dados secundários. Além do trabalho em gabinete, buscando criar condições de maior aproximação possível da realidade, enfatizamos o trabalho de campo realizado em diferentes etapas. Ele compreende a aplicação e interação permanente das técnicas de realização de entrevistas e observação da paisagem onde se materializa o processo de produção do espaço.

RESULTADOS:
Bom Jardim constitui exemplo representativo da faixa de transição entre a Serra e o Noroeste Fluminense marcada pela coexistência de atividades agrárias intensivas como a horticultura e práticas extensivas como as encontradas na pecuária e pela presença ainda significativa do campesinato cujas origens remontam à época da expansão da cafeicultura. Eram, então, numerosas as unidades de produção camponesa representadas por colonos e sitiantes. Criado em 1892 o município, com 385 km², é constituído pelos distritos de Bom Jardim, São José do Ribeirão, Banquete e Barra Alegre. Dos 22.651 habitantes, 49,96% estão em zona urbana e 50,04% no meio rural. O crescimento demográfico lento até mesmo com períodos de decréscimo é fruto da estagnação econômica conseqüente à falência da cafeicultura. Sua substituição pela pecuária leiteira completa a estruturação de um quadro agrário tradicional, o que não exclui atividades de caráter intensivo moderno. Confirma-se a permanência do campesinato associado às atividades intensivas como a horticultura, a floricultura e, num passado recente, a avicultura. Parte dos camponeses, porém, proletarizou-se, passando a viver sobretudo na periferia de Bom Jardim e nas vilas, trabalhando como assalariados tanto em meio urbano quanto rural.

CONCLUSÕES:
A permanência do campesinato como parte do processo de desenvolvimento do capitalismo nos leva a refletir sobre a expansão ou retração do trabalho camponês como elemento importante a ser analisado, uma vez que mostra sua capacidade de se adaptar a uma determinada conjuntura e garantir, assim, a sua reprodução. A proletarização de parte do campesinato não significa necessariamente que as unidades de produção camponesa devam ser consideradas resíduos em vias de extinção: o capital ao mesmo tempo em que promove a proletarização, cria e recria formas não-capitalistas de produção no campo viabilizando a permanência dessas unidades. Delineia-se uma situação onde fica evidente que a realidade local é incompatível com a realização das condições que possam conduzir ao chamado desenvolvimento sustentável. Este é um dos muitos exemplos brasileiros em que é corroborada a crítica à sustentabilidade no sentido de que ela existe apenas no nível retórico, evidenciando-se a contradição entre as condições de existência concreta da sustentabilidade e o atual modelo de desenvolvimento cujo objetivo nuclear é o mercado.

Instituição de fomento: CNPq - FAPERJ



Palavras-chave:  Horticultura, Estrutura fundiária e rel. de trabalho, Reestruturação produtiva

E-mail para contato: graboisj@yahoo.com.br