60ª Reunião Anual da SBPC

INTRODUÇÃO:

A Transversalidade trata de questões sociais que atravessam as diferentes áreas do conhecimento. Esses temas devem ser trabalhados nas diversas disciplinas e sempre os relacionando com as questões da atualidade, através da operacionalização da interdisciplinaridade. Embora os temas transversais sejam recomendados pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, têm ficado abaixo da expectativa quanto à sua efetivação no processo educativo. Os motivos são variados e uma investigação se faz necessária para clarear essa realidade pouco animadora em nossa educação. Esta pesquisa objetivou obter um diagnóstico sobre a Transversalidade e sua prática no Ensino de Ciências. Possibilitou conhecer o perfil dos professores, suas concepções sobre a Transversalidade e a contribuição do Ensino de Ciências para o trabalho com os Temas Transversais. O trabalho foi realizado em oito escolas estaduais que atuam no Ensino Fundamental de 5ª a 8ª séries, localizadas na Zona Leste de Manaus/Am. Portanto, este se justifica pela relevância da Transversalidade na formação da cidadania e porque possibilita uma reflexão crítica sobre a cultura e a realidade dos sujeitos. Proporciona, ainda, uma visão holística dos aspectos sociais, políticos e globais da sociedade.

METODOLOGIA:

A pesquisa foi realizada em oito escolas estaduais que atuam no Ensino Fundamental da Zona Leste de Manaus/Am (36% das escolas da zona em estudo), por mestrandos do Programa de Pós-graduação em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia da UEA. A metodologia empregada foi a pesquisa-ação que proporcionou aos pesquisadores desenvolver um papel ativo na realidade dos fatos observados no contexto escolar e a interação com os elementos do processo educativo. Realizou-se revisão bibliográfica sobre a temática e foram elaborados formulários com perguntas abertas e fechadas para gestores e docentes. As escolas foram selecionadas em função do maior número de alunos e sempre uma por bairro. A entrevista com os gestores proporcionou a aquisição de informações administrativas e de infra-estrutura escolar. Foram entrevistados treze professores de Ciências de 5ª a 8ª séries para diagnosticar suas concepções acerca da Transversalidade. Para seleção dos professores adotaram-se como critérios: o maior tempo de docência no Ensino de Ciências e mais de 10% do total de docentes que atuam no Ensino de Ciências. Durante as entrevistas buscou-se um diálogo informal com os entrevistados e observaram-se elementos que certamente não foram ditos nas entrevistas. O trabalho aponta as observações realizadas, bem como, os entraves e possibilidades para a realização de um efetivo trabalho transversal.

RESULTADOS:

Resultados apontam que 23% dos docentes entrevistados possuem formação inicial em Ciências Naturais; 31% em Ciências Biológicas e 46% em outras áreas. A maioria (54%) tem pouco tempo de experiência no Ensino de Ciências. Quanto à concepção sobre a Transversalidade percebe-se que há desconhecimento por alguns quando declararam que a transversalidade “é qualquer tema que preciso falar para os alunos que pode ser da área ou não”. Os Temas trabalhados enfocam aqueles propostos pelos PCNs e temas locais como a Poluição dos Igarapés. Poucos docentes assumem o papel de articulador dos trabalhos com a Transversalidade. A participação tem ocorrido individualmente através de debates, seminários, utilização de cartazes e textos. Quanto à importância das Ciências Naturais para a transversalidade a maioria relacionou o Ensino de Ciências com as questões ambientais e como uma mola propulsora de novos saberes. Quanto à relação da Transversalidade e Interdisciplinaridade as respostas foram: “as duas são uma coisa só, não vê relação entre as duas” deixando evidente o despreparo para o trabalho Transversal e Interdisciplinar. As sugestões para um efetivo trabalho com a Transversalidade são: melhoria no espaço físico, gestão com visão pedagógica e existência de materiais didáticos, além da sensibilização dos pais. Diante do exposto, percebe-se que a concretização da Transversalidade depende do investimento na formação continuada dos docentes e da articulação entre as diversas áreas do conhecimento.

CONCLUSÕES:

A formação inicial dos professores de Ciências carece de uma profunda revisão para que estes possam incorporar novas propostas de orientação pedagógica ao cotidiano escolar. Busca-se, assim, superar a visão fragmentada do conhecimento e isso implica realizar o diálogo entre as disciplinas através da interdisciplinaridade. É imprescindível que o profissional de Ensino de Ciências conheça a matéria a ser ensinada e esteja preparado para aprofundar os conteúdos quando se fizer necessário. A atuação, no Ensino de Ciências, de profissionais provenientes de áreas não relacionadas com as Ciências Naturais pode tornar-se um risco e obstáculo à construção de conhecimentos científicos pelos alunos. Há um grande abismo entre a formação conceitual e pedagógica dos professores que lecionam Ciências na rede pública estadual. Esta pesquisa evidenciou as deficiências dos educadores, bem como, a falta de políticas educacionais voltadas para a educação e formação dos professores. Constata-se que, um dos obstáculos para a realização da Transversalidade, como um trabalho coletivo, é o problema de espaço/tempo que não é incorporado pelo Sistema Educacional no processo de formação dos professores. De tal modo, o problema exposto necessita de uma urgente vontade política para ser minimizado através da implementação de Políticas Públicas voltadas à melhoria da qualidade do ensino. Paralelamente à ação política, deve haver, uma ação consciente por parte dos educadores, pois a principal reforma é a do pensamento.

Instituição de fomento: FAPEAM

Palavras-chave: Transversalidade, Interdisciplinaridade, Ensino de Ciências Naturais

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