G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 3. Geografia
TERRITORIALIDADE, PESCA ARTESANAL E CONHECIMENTO TRADICIONAL DOS PESCADORES DA COMUNIDADE DE CATUAMA, GOIANA, PE
Saulo Barros da Costa1 Isabela Christina da Silva Freire1 Sabine Geiseler1
1. Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
INTRODUÇÃO:O etnocentrismo muitas vezes não permite aos cientistas reconhecer que há outras culturas (ou pessoas), diferentes deles, que possuem um sistema de conhecimento igualmente válido e que responda, oriente e organize as relações dessas culturas com o seu ambiente e, além disso, como esse conhecimento pode interferir na percepção do ser humano em geral sobre a realidade (Albuquerque, 2002). Porém, diversos estudos documentaram que populações locais acumulam uma grande carga de experiências e conhecimentos sobre o ambiente que manejam (Albuquerque, 2002), como por exemplo, os pescadores artesanais. A atividade pesqueira artesanal requer dos pescadores conhecimento detalhado referente à biologia e ecologia dos peixes, de modo que seja possível a utilização dos recursos pesqueiros (Costa-Neto et al., 2002) em um determinado território(Souza, 2005), desenvolvendo, assim, interações com o ambiente, explorando o mar, de maneira particular (Souza, 2004), e gerando uma forma de conhecimento não adquirida em sala de aula em escolas ou universidades. Atualmente, diversos trabalhos sobre o conhecimento tradicional de pescadores têm sido publicados no Brasil e abordam principalmente aspectos do hábito alimentar dos peixes segundo os pescadores (Batistella et al., 2005; Clauzet et al., 2005; Costa-Neto & Melo, 2002), do habitat dos peixes capturados (Clauzet et al., 2005; Costa-Neto & Melo, 2002) e da reprodução (Clauzet et al., 2005; Costa-Neto & Melo, 2002). O presente trabalho teve como objetivo obter informações sobre a atividade pesqueira artesanal da comunidade de Catuama assim como resgatar o etnoconhecimento territorial e o manejo dos recursos naturais pelos pescadores locais.METODOLOGIA:O trabalho foi realizado na comunidade de Catuama, município de Goiana, praia do litoral norte de Pernambuco, durante o período de 10 meses. A coleta de dados relacionados à pesca artesanal foi realizada através da aplicação de questionários padronizados estruturados e semi-estruturados, para a abordagem quantitativa e qualitativa, de forma que as mesmas perguntas foram efetuadas na mesma ordem para todos os entrevistados, para levantamento de informações sobre a atividade pesqueira artesanal local e o conhecimento referente ao manejo dos recursos e o resgate do conhecimento sobre a ecologia dos animais. Foram incluídos nas entrevistas os membros da comunidade mais envolvidos com a pesca (maiores de 18 anos). Foi realizado um acompanhamento de desembarques pesqueiros, com questionários semi-estruturados, com o objetivo de obter informações mais detalhadas sobre a ecologia e territorialidades do pescado capturado. O pescado foi coletado para a posterior identificação taxonômica. O conhecimento local foi comparado ao conhecimento científico através das respostas do questionário relacionadas à ictiologia.RESULTADOS:A pesca artesanal na região é desenvolvida principalmente com o uso de jangadas ou baiteiras, embarcações de madeira à vela e/ou remo fabricadas pelos próprios pescadores. Esse tipo de frota indica o pequeno poder de pesca dessas embarcações, visto que são menos aptas à navegação em mar aberto por serem pequenas (2 – 3 m) e não motorizadas (Fabre & Batista, 1992). Dessa forma, a autonomia da pesca tem a duração de cerca de 4 a 5 horas em média. Foram mencionados 12 tipos de petrechos de pesca, sendo 8 tipos diferentes de redes de emalhar, linha, curral, vara de pesca e a “pindaúba”, um petrecho utilizado para a captura de siris. Dois tipos de rede de espera obtiveram o maior número de menções, as redes de emalhar chamadas localmente como três-malhos (30,18%) e caçoeira (28,30%). O oposto ocorre na comunidade de Santa Cruz, ES, que utiliza a linha como principal arte de pesca, já que esta permite uma maior especificação do pescado capturado (Netto et al., 2002). A variação no uso de petrechos está relacionada ao tipo de ambiente explorado e as espécies-alvo de determinadas pescarias (Clauzet et al., 2005). A atividade pesqueira é realizada nos ecossistemas: marinho (costeiro), estuarino e fluvial. A grande maioria pratica a pesca no ambiente costeiro (83,02%), porém, não excluindo a atividade em outro ambiente, caracterizando regiões de atuação territorial (Gomes, 2005). Durante 20 desembarques amostrados foram amostradas 19 espécies. As famílias o maior número de representantes foram Mugilidae, Clupeide, Haemulidae, Lutjanidae, Carangidae, Scombridae e Sparidae. Os pescadores demonstraram um considerável conhecimento sobre as espécies que capturaram, principalmente sobre habitats e alimentação. Eles diferenciaram lugares habitats, como “mar-de-dentro” e “mar-de-fora” (Souza, 2005), e também de acordo com a distribuição das espécies nos ecossistemas que vivem como o mar, estuário e rio. O conhecimento dos pescadores referente ao habitat das espécies está relacionado com o lugar onde é capturado (Clauzet, 2005). Eles identificam pequenos crustáceos, peixes e algas como hábitos alimentares, demonstrando desta maneira que muito do conhecimento local corresponde ao conhecimento científico, determinando regiões de maior incidência.CONCLUSÕES:A pesca artesanal e o conhecimento tradicional são permeados por várias representações e métodos de realização por seus agentes, com o vasto conhecimento demonstrando pelos pescadores. Questões como espécie, habitat e local de captura do pescado interligam o conhecimento tradicional com questões territoriais e taxonômicas, que a academia categoriza e descreve em suas postulações, demonstrando que este tipo de conhecimento extrapola os conhecimentos científicos.
Palavras-chave: TERRITORIALIDADE, PESCA, TRADICIONAL
E-mail para contato: sauloungido@yahoo.com.br
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