60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 14. Ensino Superior

O CONCEITO DE "IES PERIFÉRICA" E SUAS APLICAÇÕES EM ESTUDOS DA EDUCAÇÃO SUPERIOR.

Katlin Cristina de Castilho1
Edineuza Oliveira Silva1
Luiz Percival Leme Britto2

1. Universidade de Sorocaba (UNISO)
2. Prof.Dr.Luiz Percival Leme Britto - Universidade de Sorocaba(UNISO) – Orientador


INTRODUÇÃO:
Em função de políticas de desenvolvimento e preservação do mercado, a expansão quantitativa de Instituições de Educação Superior (IES) no Brasil, principalmente a partir da década de 90, tem como conseqüência a subdivisão do sistema no campo da Educação Superior, de modo que é possível identificar conglomerados de treinamento circunscrito às necessidades do mercado e, em contrapartida, nichos de excelência voltados à formação das elites, onde se encontra a produção intelectual de conhecimento novo, de caráter investigativo e crítico. Pretende-se, com esta pesquisa, ampliar as formas de observação das IES, de modo a avançar a caracterização da “IES periférica”, de modo a contribuir para o entendimento das concepções de formação intelectual e acadêmica e na forma como vem se organizando a Educação Superior no Brasil, bem como para identificação da influência das políticas públicas e do mercado neste processo. Este trabalho é parte do projeto de pesquisa “Cultura escrita e formação universitária”, ao qual se articulam outras três propostas de Iniciação Científica, que analisam as formas de estudo e de aprendizagem de estudantes universitários de Instituições de Educação Superior periféricas beneficiados com bolsa integral do Programa Universidade Para Todos (PROUNI).

METODOLOGIA:
Dois fenômenos são fundamentais para compreender as transformações recentes experimentadas pela Educação Superior: 1. a massificação do acesso, diretamente relacionado com a formação dos quadros médios de trabalhadores modernos urbanos em função das demandas do mercado, o que implica um “novo” modo de funcionamento dos processos de produção, circulação e aquisição de conhecimento; e 2. a mercantilização do ensino, que supõe a realização da educação como “bem de mercado”, como uma mercadoria cujo valor se define em função do tipo e do prestador do serviço e da possibilidade de compra pelo usuário. A administração da instituição tem suas lideranças transformadas em funcionários de investidores e passa a ser regida por parâmetros em que os aspectos científicos e acadêmicos ficam subordinados às questões de ordem econômica. Neste contexto, surge um tipo de instituição que se organiza não a partir da relação entre produção de conhecimento novo e formação intelectual, mas pela reprodução de modelos e normas de ação profissional de média especialização. A caracterização de IES periférica considera 1. o perfil do aluno; 2. a configuração do espaço físico; 3. a localização geográfica; e, 4. a produção e circulação de conhecimento acadêmico-científico e cultural em seu interior.

RESULTADOS:
A subdivisão do sistema de nível superior, impulsionada pelas formas de desenvolvimento e preservação do capital, se constituiu na formação de espaços periféricos e mercantilizados de formação profissional, que atendem uma demanda da população voltada para atuação pragmática e instrumental; em contra partida, observam-se nichos de excelência, onde predomina o conhecimento hegemônico e maior produção e circulação de conhecimento acadêmico-científico. A IES periférica atende um “novo aluno”, oriundo de um segmento social que até há pouco não tinha acesso à Educação Superior. Diferentemente do aluno “clássico”, pertencente aos segmentos sociais privilegiados e cuja predisposição para estudar supõe idade própria, disponibilidade de tempo, formação escolar e intelectual, capital cultural e financiamento familiar, o aluno “novo”, em grande parte pertencente à 1ª geração de longa escolaridade, dispõe de poucas condições de estudo, tem formação primária e média insuficientes e pouca convivência com objetos intelectuais da cultura hegemônica; é trabalhador e assiste a cursos noturnos, com tempo reduzido para participar de atividades que transcendam o espaço-aula.

CONCLUSÕES:
As IES periféricas dispõem de pouco investimento (financeiro e/ou intelectual), de modo que a formação acadêmica não se volta para o acesso e produção das formas hegemônicas de conhecimento e cultura. Ao contrário, encontram-se responsáveis pela capacitação profissional dos segmentos periféricos da população que, majoritariamente, assumem postos de menor exigência intelectual. Cria-se, assim, um modelo de instituição que, devido ao papel que desempenha no campo da Educação Superior, é caracterizado pela propagação intensiva de conhecimento pragmático e um modelo de ensino instrumental e normativo. Conclui-se que a intensificação das necessidades capitalista no âmbito da Educação Superior, promovido pelas políticas públicas, tem impulsionado o aumento quantitativo de instituições de modo que é possível diferenciá-las quanto a sua posição no campo da formação intelectual e acadêmica. O conceito de IES periférica permite, portanto, um olhar atual e crítico do campo da Educação superior e das diferentes funções que cumpre no atual estágio de acumulação do capital, bem como das políticas que se desenvolvem para a Educação Superior.

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Educação Superior, Mercantilização da Educação Superior, Conceito de "IES periférica"

E-mail para contato: katlin_cristina@yahoo.com.br