60ª Reunião Anual da SBPC




A. Ciências Exatas e da Terra - 4. Química - 1. Físico-Química

LIBERAÇÃO DE ISOTRETINOÍNA ENCAPSULADA EM LIPOSSOMAS

Milene Heloisa Martins1
Francisco Benedito Teixeira Pessine1, 2

1. Departamento de Físico-Química - Instituto de Química – Unicamp
2. Prof. Dr. / Orientador


INTRODUÇÃO:
A Isotretinoína (ISOTN) é um fármaco muito utilizado no tratamento de acne, porém é instável ao oxigênio e luz, e suas formulações dermatológicas convencionais (géis alcoólicos) causam severa irritação cutânea. Uma das formas de minimizar estes inconvenientes é a sua encapsulação em sistemas carreadores de liberação controlada e/ou sustentada como os lipossomas. Estes são estruturas esféricas compostas principalmente de fosfolipídios, organizados em bicamadas lipídicas, podendo incorporar compostos hidrofóbicos, hidrofílicos e anfifílicos. A proposta deste trabalho foi à obtenção de suspensões lipossomais contendo ISOTN encapsulada, utilizando a fosfatidilcolina hidrogenada (HPC) como constituinte dos lipossomas, a qual por fornecer lipossomas com bicamadas lipídicas mais rígidas (transição de fase acima de 50 oC) poderia proporcionar a liberação mais lenta do fármaco na pele e, além disso, este fosfolipídio é mais estável à degradação oxidativa. A estabilidade da ISOTN encapsulada nos lipossomas de HPC foi acompanhada por microscopia ótica e a porcentagem de encapsulação por centrifugação com gradiente de densidade.

METODOLOGIA:
Foram preparadas suspensões lipossomais com diferentes razões molares de ISOTN/HPC: 0,0104:1 (LIPO1); 0,0260:1 (LIPO2); 0,0654:1 (LIPO3) e 0,1639:1 (LIPO4), fixando-se a concentração de fosfatidilcolina HPC em ~150 mg (192 µmol). Em balão de fundo redondo foram dissolvidos o lipídio, o fármaco, antioxidante BHT 0,1% (m/m lipídio) em uma mistura de clorofórmio/metanol de 2:1 (v/v). Os solventes foram evaporados no rota-evaporador formando um filme lipídico na parede do balão, o qual foi hidratado com tampão citrato 10 mmol/L, pH 5,6 durante 30 min, formado os lipossomas. As suspensões lipossomais contendo a ISOTN encapsulada foram avaliadas por 42 dias, armazenadas em geladeira (8 oC). A eficiência de encapsulação (%EE) da ISOTN foi obtida pelo método de centrifugação por gradiente de densidade, construído em tubo de Eppendorf, utilizando solução de sacarose 50%; 15% (m/v) e alíquota de suspensão lipossomal (no topo do tubo); centrifugação a 1200xg por 1,5 h. Como a ISOTN apresenta baixa solubilidade em água (~1 µg/mL), a fração do fármaco que não foi encapsulada em lipossomas, precipitou na suspensão e pôde ser visualizada como cristais no microscópio óptico com luz polarizada. Os cristais de ISOTN foram contados manualmente em uma câmara de Neubauer.

RESULTADOS:
Logo após a preparação lipossomal, as suspensões lipossomais LIPO3 e LIPO4 já apresentaram cristais de ISOTN, indicando que ocorreu saturação das bicamadas lipídicas pelo fármaco. As suspensões menos concentradas, LIPO1 e LIPO2, foram monitoradas por microscopia óptica e pela %EE por 42 dias, porém ambas as suspensões tiveram vazamento do fármaco encapsulado nos lipossomas durante este período. No método do gradiente de densidade, observou-se a presença de cristais de ISOTN na interface das soluções de 50/15% de sacarose. Houve uma tendência de diminuição da liberação de ISOTN das suspensões LIPO1 e LIPO2, 10 e 20 dias após terem sido preparadas, respectivamente. À medida que diminuiu a %EE da ISOTN nos lipossomas, aumentou o número de cristais do fármaco nas suspensões. Em 42 dias de estudo foram obtidos 66% (ou 0,26 mmol/L) e 35% (ou 0,35 mmol/L) de ISOTN encapsulada nos lipossomas LIPO1 e LIPO2, respectivamente. É provável que após os 42 dias continuasse o escape da ISOTN, principalmente para LIPO2, até atingir uma concentração constante dentro das bicamadas. Os valores das constantes de velocidade obtidos das curvas de %EE foram semelhantes aos valores obtidos da curva de cristais/mm2, tanto para LIPO1 quanto LIPO2, indicando correlação entre os dois parâmetros.

CONCLUSÕES:
Lipossomas de fosfatidilcolina saturada não forneceram uma estrutura estável para a manutenção da ISOTN encapsulada. Os fosfolipídios constituintes destas vesículas apresentam as cadeias acilas na conformação trans, tornando as bicamadas lipídicas dos lipossomas mais rígidas, diminuindo a estabilidade do fármaco inserido nas bicamadas. Devem ser necessárias mudanças na fluidez das bicamadas lipídicas para aumentar a encapsulação da ISOTN. Existe correlação entre %EE e número de cristais de ISOTN formados na suspensão lipossomal.



Palavras-chave:  Isotretinoína, Lipossomas, Encapsulação

E-mail para contato: francisco.pessine@iqm.unicamp.br