60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 6. Literatura

O IMAGINÁRIO POPULAR MARAJOARA: ANÁLISE DE NARRATIVAS POPULARES DA ILHA DO MARAJÓ

Fabíola do Socorro Figueiredo dos Reis1
Fernanda Beatriz do Nascimento Rosário1
Ingrid Sinimbú Cruz1
Maria do Perpétuo Socorro Galvão Simões1, 2

1. Universidade Federal do Pará
2. Profª. Drª - Faculdade de Letras - UFPA - Orientadora


INTRODUÇÃO:
O projeto “O imaginário nas formas narrativas orais populares da Amazônia paraense”, o IFNOPAP, firmou, como proposta de trabalho, o resgate e a preservação da memória do homem e da sociedade amazônica como um todo, através da coleta de narrativas orais. A essa preocupação se agregou o desejo de valorização da Amazônia, simbolizada através de seus mitos e lendas, muito presentes no imaginário da região. O IFNOPAP reúne em seu acervo mais de 5300 narrativas orais populares da Amazônia paraense. Ao alcançar, em 1995, o arquipélago de Marajó, foi possível encontrar nas narrativas resquícios da presença da colonização portuguesa, como nas histórias de caráter religioso. O presente trabalho visa, de forma geral, apresentar as narrativas coletadas durante o período de 1995 a 2000 na ilha do Marajó, a fim de dar continuidade ao projeto Locus Mítico, que se dispõe a montar um mapa dos principais mitos e lendas da região marajoara. O Marajó é, com seus 50 mil km², o maior arquipélago marítimo-fluvial do mundo, sendo suas principais portas de entrada os municípios de Soure e Salvaterra. Sua exuberante paisagem é formada por florestas, campinas, praias, lagos, furos e igarapés, cenários de onde derivam, em grande parte, as narrativas analisadas.

METODOLOGIA:
As narrativas orais oriundas da ilha do Marajó foram coletadas pelos informantes do projeto IFNOPAP entre os anos 1995 e 2000, contabilizando 80 histórias encontradas nos municípios de Salvaterra (1 narrativa), Soure (13 narrativas), Joanes (12 narrativas), região do Melgaço (8 narrativas), Cachoeira do Arari (14 narrativas) e Breves (32 narrativas). As narrativas do acervo passaram por um processo de melhoria do áudio, através do software SoundForge 8.0d, e foram classificadas conforme região de coleta e grupo temático. Ler e ouvir cada história foram procedimentos necessários para o entendimento do desenrolar das ações das personagens nas histórias.

RESULTADOS:
Das 80 narrativas analisadas, 36 são contos populares, alguns de função educativa e de entretenimento. Geralmente são histórias que tendem a fugir da monotonia e têm algum ponto de destaque, conforme análise de Propp (2001), e são contadas em serões – uma atividade típica de comunidades, cujos membros têm fortes laços e se conhecem há bastante tempo. Outras narrativas apresentam relatos de vida (5 histórias) e relatos sobre assombrações (17), cujo teor envolve tanto assombrações de pessoas falecidas quanto a presença de seres sobrenaturais, figuras típicas do folclore amazônico, como o Boto e a Iara. Contos de fadas com elementos periféricos, tipicamente amazônicos, também são recorrentes (6 histórias apresentavam características de contos de fadas europeus, mas com elementos populares, como a rede de embalar). A presença de narrativas de cunho religioso (16) é também é bastante recorrente, indicando a presença da colonização portuguesa na região.

CONCLUSÕES:
A reunião e organização das narrativas que compõem o IFNOPAP mostraram que preservar as diversas formas de narrativas orais, contadas na região ainda é um dos principais desafios para muitos pesquisadores sobre cultura popular, principalmente, no que tange à manutenção do material contra as ações do tempo. Essas coletâneas geralmente não representam o fim de um trabalho, mas sim contribuem com material original para formulação de outros projetos e produção acadêmica diversificada, que podem ter um caráter histórico, didático, ou meramente documental etc. Em 2006, quando se iniciou a tarefa de organizar o acervo, foi descoberto que muito desse material sofreu exposição às variações climáticas e umidade da região e necessitava ser recuperado o quanto antes. O mapa mítico impõe-se como um ousado projeto de organização oral de uma cultura diversificada, como a amazônica. O projeto visa, não apenas, a coletar e organizar as mais de 5000 narrativas que fazem parte do acervo, mas também fazer um mapeamento das mesmas, de forma a observar de que maneira as narrativas mais representativas se organizam dentro de um ‘painel mítico’, levando em consideração seu peso cultural, imaginário e/ou literário, para posterior uso em estudos e outras pesquisas.

Instituição de fomento: PIBIC - UFPA

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Marajó, narrativas, mapa mítico

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