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Sustentabilidade, Conforto e Eficiência Energética nas Habitações
Roberto Lamberts
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
 
A construção é um dos setores econômicos mais importantes no mundo, U$ 3 trilhões são gastos anualmente no mundo, representando 1/10 da economia global (CICA, 2002). Constitui 30% dos negócios na Europa, 22% em USA, 21% no Japão, 23% nos países em desenvolvimento. Os edifícios consomem cerca de 40% da energia no mundo, 16% da água potável, 25% das florestas de madeira. (UNCHS 1993), são responsáveis por 50% das emissões de C02. (Der Petrocian, 2001) e por 30-40% da demanda total de energia nos países. No Brasil 44.1% da OIE tem origem em fontes renováveis: 14.4% de geração hidráulica e 29.7% de biomassa mas no resto do mundo as matrizes tende a ser menos “limpas” com grandes impactos no aquecimento global. Com investimentos em eficiência energética ficou claro que é mais barato ECONOMIZAR energia do que FORNECÊ-LA.” Embora o Brasil ainda não tenha uma norma de eficiência energética em novas edificações, vários avanços relevantes podem ser mencionados. O projeto 02.136 - Norma ABNT sobre o desempenho de edifícios habitacionais de até 5 pavimentos inclui a definição de um desempenho térmico mínimo. A NBR 15220 – ABNT sobre Desempenho Térmico de Edificações em seu texto 3 ja estabelece o Zoneamento bioclimático Brasileiro e estratégias de condicionamento térmico passivo para habitações de interesse social. Após a crise de energia de 2001 foi assinada a Lei nº 10.295 que trata da Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia – todos os equipamentos e edificações deverão respeitar níveis mínimos de eficiência. Esta lei foi regulamentada pelo Decreto nº 4.059 que cria o Comitê Gestor de Indicadores e Níveis de Eficiência Energética – CGIEE e constitu um Grupo Técnico que deve desenvolver procedimentos para avaliação da eficiência energética das edificações e que criar indicadores técnicos referenciais do consumo de energia destas edificações. Neste grupo esta sendo desnvolvido uma Etiqueta de Eficiência Energética para novas edificações que permitira ao consumidor saber a eficiência de seu edificio. No mundo existem alguns bons exemplos de edificações eficientes. Na Inglaterra temos o Projeto BedZed (Beddington Zero Energy Development). Este projeto mistura atividades no programa como forma de promover maior convivência. Usa o conceito de implantação com alta densidade e espaços otimizados para evitar elevada ocupação de terras. A orientação é uma das principais estratégias para o melhor aproveitamento do sol: maiores fachadas no lado norte e sul. Os vidros permitem a entrada de luz, barrando o ganho térmico; as casas encontram-se sempre voltadas para a face Sul, recebendo luz o dia todo. As paredes internas e externas possuem mais inércia, uso de paredes duplas para isolamento acústico e térmico. Prioriza o transporte público e carros movidos à energia elétrica. Usa tecnologias eficientes para ventilação: chaminés baseadas na energia eólica. Incorpora painéis fotovoltaicos para geração de energia junto com uma mini-estação geradora de energia elétrica. Desenvolve a volumetria do projeto como forma de sombreamento: o uso de desenho diagonal na face norte impede que um bloco faça sombra no outro. Valorização total do pedestre, com passagens internas exclusivas. Reutilização da água de chuva, de águas cinzas e de águas negras, com 50% tratada no local através de sistema de purificação ecológico. Aparelhos nos banheiros utilizam menor quantidade de água do que os convencionais. Uso prioritário de materiais da região. Uso do teto jardim na cobertura. Procedência dos materiais pensada em função do gasto em transporte e do gasto energético do material. No Brasil a realidade residencial é distinta , mas as principais estratégias para redução do uso final de energia elétrica são o Projeto Bioclimático com aproveitamento da Iluminação natural e da Ventilação natural (Zoneamento bioclimático brasileiro – NBR 15220-3), o uso de aparelhos e equipamentos energeticamente eficientes (etiqueta Inmetro-Procel) e a incorporação de energias renováveis como o aquecimento solar de água. Um bom exemplo de edifício apropriado ao clima empregando estes potenciais é o Projeto Casa Eficiente (Eletrosul, Eletrobras, UFSC) em Florianópolis que é uma vitrine de tecnologias de ponta de eficiência energética e conforto ambiental voltadas para edificações. As tecnologias implementadas são: Geração de energia fotovoltaica interligada à rede; Estratégias passivas de condicionamento de ar; Aquecimento solar de água. As estratégias empregadas incluem: Orientação solar: ventos, e aproveitamento da radiação solar; Favorecimento da ventilação cruzada; Proteções solares de acordo à fachada; Redutor de velocidade para o vento sul; Uso de materiais locais de menor impacto ambiental; Utilização de vidros duplos e persianas externas; Resgate de soluções da arquitetura vernacular:uso do fogão a lenha, aquecendo o interior da casa no inverno; Concentração da área molhada no lado oeste; Tratamento de efluentes com zona de raízes; Uso de sistema solar para aquecimento de água; Accesibilidade para portadores de necessidades especiais. Esta casa ja esta construida e agora sera transformada em um laboratório com monitoramento por 2 anos permitindo a comprovação e otimização das estrategias empregadas. Ela podera tambem ser visitada pelo público. Com a consolidação da etiqueta de eficiência energética em desenvolvimento no MME temos que avançar em um sistema de certificação de sustentabilidade de forma a integrar todas as preocupações ligadas a conservação de recursos e minimização dos impactos ambientais da construção de forma a possibilitar a incorporadores, financiadores e consumidores poderem optar por soluções mais sustentaveis.
Palavras-chave: sustentabilidade; eficiência energética; habitações.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006