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Informação e redes de conhecimentos na relação ciência e sociedade
Regina Maria Marteleto
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
 

As distintas palestras que compõem esse simpósio estão permeadas pela idéia de que, como em outros poucos campos do conhecimento, nos estudos da informação se reconhece que as perguntas pertinentes e socialmente relevantes da atualidade não encontram respostas nas divisões das ciências convencionais, mas nas formas de manifestação de uma pluralidade de saberes que configuram a cultura informacional dos dias de hoje.

O entendimento do intercruzamento das disciplinas científicas com outras formas de saber encontra-se refletido, por exemplo, na idéia de transdisciplinaridade, empregada como forma de reconhecimento do valor cada vez mais amplo do conhecimento, enquanto meio de promover tanto o desenvolvimento econômico, tecnológico e social, quanto a expressão cultural de distintos atores, instituições e espaços diferenciados na sociedade. Por outro lado, como lembra Martín-Barbero, nunca antes ficaria tão evidente, como agora, que pelo mundo da comunicação/informação passa estruturalmente o sentido comum do que seja viver em sociedade, agora em escala global. Comunicação e informação tornam-se, pois, um enclave estratégico do pensamento.

De fato, a reflexão sobre o que seja ciência e conhecimento na “sociedade da informação” não se encontra pautada apenas pela idéia de que o conhecimento tornou-se a sua matéria-prima mais custosa e rentável, mas também se baseia na premissa de que o desenvolvimento econômico, social e político se fazem estreitamente ligados à inovação, que é o novo nome empregado para expressar a criatividade e a criação humanas, segundo M. Serres.

Estudos realizados nas últimas décadas sobre as chamadas “sociedades do conhecimento” (P. Drucker) “sociedades da informação”, “sociedades da comunicação” (L. Sfez; J. Martín-Barbero) ou “sociedades em rede” (M. Castells) ressaltam, entre outros fatores definidores da organização de uma nova economia baseada nas novas tecnologias de comunicação e informação, as mudanças que ocorrem na pesquisa científica, tecnológica e de humanidades nessa nova ambientação informacional (The new production of knowledge: the dynamics of Science and Research in Contemporary Societes): a) a pesquisa passará a depender cada vez mais das exigências do mercado e vai definir-se no contexto da aplicação, pois devido à sua difusão ampla, diversificaram-se as demandas e expectativas em relação ao conhecimento; b) as pesquisas terão caráter transdisciplinar pois estando voltadas para a sociedade, tanto em termos de aplicação quanto de definição, são dinâmicas e podem englobar sucessivamente novos e diversificados atores; c) os locais de produção do conhecimento serão ampliados e diversificados, para além das universidades e centros de pesquisa; d) as pesquisas estarão sujeitas ao controle social, com o surgimento de novos grupos interessados em participar e se fazer representar nos órgãos decisórios da “política científica e tecnológica”, devido ao crescimento da presença da ciência e da técnica na vida de cada cidadão, por exemplo, nas questões de meio ambiente, biotecnologia, meios de comunicação, aborto, planejamento familiar, dentre outras.

Nesse contexto, e assim projetado o novo cenário da produção, circulação e apropriação social de conhecimentos e informações, pergunta-se: quais serão as instituições de representação e intervenção social atuantes na discussão pública sobre os rumos do conhecimento, seus benefícios e aplicações? Que novos espaços institucionais deverão ser inventados, implementados? Como criá-los?

No campo de estudos das ciências da informação e da comunicação ressalta-se a idéia de mediação, que diz respeito ao conjunto de agentes, utensílios, suportes, veículos e instituições que conformam as redes sociais de conhecimentos. Nessas redes movimentam-se aquilo que Boaventura Santos denomina “comunidades interpretativas”, compostas pelo compartilhamento entre diversas formas de conhecimento – o científico, o filosófico, o popular -, para a produção de um conhecimento social influente nas políticas públicas e na compreensão do que seja produzir conhecimentos para o desenvolvimento social.

Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006