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EXTRATIVISMO DE SAMAMBAIA-PRETA NO RIO GRANDE DO SUL: FUNDAMENTOS PARA O MANEJO E MONITORAMENTO DA ATIVIDADE
Cristina Baldauf
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
 

A samambaia-preta (Rumohra adiantiformis (G.Forst.) Ching) destaca-se entre as demais pteridófitas por sua importância econômica, sendo suas frondes comercializadas em nível mundial para utilização em arranjos de flores. A espécie ocorre de forma abundante na região do litoral do RS, local onde o extrativismo das frondes é fonte de renda de muitas famílias. Provavelmente mais da metade do mercado nacional é abastecido pelas frondes oriundas deste Estado, na quase totalidade das vezes obtidas através da extração direta em seu ambiente natural.

Apesar da grande importância desta atividade na região, existem restrições em relação à extração desta espécie, devido à legislação ambiental do RS. Contudo, a coleta é passível de licenciamento, desde que sejam conhecidos alguns fundamentos técnicos que incluem o estudo sobre a produtividade da espécie explorada, sua demografia e interações com outras plantas, o impacto ambiental causado pela atividade extrativista e os procedimentos e alternativas que minimizem esse impacto.

Neste contexto, o objetivo deste trabalho foi contribuir para o estabelecimento de fundamentos e diretrizes visando o manejo sustentável e o monitoramento dos sistemas de manejo de samambaia-preta no sul do Brasil. O estudo foi desenvolvido no município de Maquiné (RS), situado no limite austral da distribuição da Floresta Ombrófila Densa.

Foi procedida a caracterização etnobotânica dos sistemas de manejo da espécie através da utilização de entrevistas semi-estruturadas, observação participante e análise multivariada. Constatou-se que o extrativismo é realizado em áreas de pousio agrícola, apresentando uma intensa relação com o sistema de agricultura de coivara local. Verificou-se ainda uma alta diversidade de sistemas de manejo na região de estudo, os quais são baseados no conhecimento local acerca da autoecologia da espécie. Os sistemas de manejo empregados foram agrupados em uma tipologia, sendo reconhecidos quatro tipos principais, de acordo com o manejo da paisagem e das populações de samambaia utilizados. Avaliou-se a estrutura demográfica resultante dos sistemas mais utilizados através da implantação de parcelas permanentes, nas quais foi realizada trimestralmente a contagem das frondes em diferentes fases do desenvolvimento. Foram também avaliadas todas as árvores e arbustos existentes nas parcelas, bem como medido o diâmetro a altura do peito (DAP) destas, a fim de verificar a associação entre a estrutura demográfica das populações e o processo de sucessão florestal. Ainda foi procedida a análise da diversidade genética dos sistemas de manejo através da utilização de marcadores alozímicos.

A integração dos resultados demonstrou que os sistemas de manejo estudados não afetam negativamente a estrutura demográfica e genética da espécie, sendo possível a regulamentação da coleta de samambaia-preta no RS. Contudo, constatou-se também um declínio das populações da espécie em ambinetes com estrutura florestal de fases mais avançadas da sucessão. Os resultados obtidos permitiram estabelecer também indicadores de sustentabilidade para o licenciamento e monitoramento da atividade extrativista na região de estudo. Destaca-se que o licenciamento da espécie deve ser pensado em um contexto mais amplo, o qual deve considerar a necessidade de medidas que viabilizem o manejo das áreas de capoeira.

Palavras-chave: samambaia-preta; pteridófitas; .
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006