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Reflexões sobre a natureza e cultura em face das problemáticas ambientais contemporâneas
Emília Pietrafesa de Godoy
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
 

Departamento de Antropologia Social-UFSC

As problemáticas ambientais contemporâneas tem propiciado uma reflexão ampliada sobre as relações entre cultura e natureza, tema recorrente na Antropologia.

A emergência dos ambientalismos em suas várias dimensões: global, nacional, regional e local, nos últimos quarenta anos se deveu à percepção de que é necessário superar os paradigmas de desenvolvimento centrado na extração predatória dos recursos naturais não respeitando seus ciclos ecológicos, regeneração e serviços ambientais como um bem comum, que precisam ser conservados e ou manejados de forma sustentável.

A proteção da natureza, não obstante sua unanimidade como valor, abre um leque de problemáticas, entre os quais o reordenamento territorial brasileiro, os encontros, desencontros, interfaces e conflitos de concepções diferenciadas culturalmente, tanto de territorialidade quanto de manejo, uso e usufruto de bens ambientais, por populações longe dos centros urbanos, que se convencionou denominar populações tradicionais.

Entre essas populações, estão as culturas dos povos indígenas, quilombolas e comunidades rurais com interações mais diretas com ecossistemas nos diversos biomas brasileiros.

Estamos diante de uma problemática de amplo espectro, estamos diante de uma sociodiversidade que engendra ações e gestões com a territorialidade, a biodiversidade, as mais variadas, numa palavra estamos diante de culturas e naturezas. Estamos diante de teorias de proteção da natureza que se desdobram em dois amplos enfoques.

Primeiro, a da Preservação, relacionada à Biologia da Conservação, que propõem isolar nichos ecológicos de populações humanas. Segundo, a da Conservação, que propõe uma co-gestão ambiental com populações tradicionais.

Como, diante desse espelhamento multiplicado, as ciências tem reagido para dar conta da dinâmica das relações e implicações envolvidas?

A partir da Ecologia Cultural, foram resgatadas formas de gestão ambiental em sociedades de pequena escala relativamente isoladas dos processos globalizantes recentes. Teoricamente formas de interrelações holistas de caráter com cosmologias mais conjuntivas que disjuntivas do sentido ecológico, podem, se valorizadas e fomentadas para contribuir com a conservação tanto étnica quanto ambiental.

O diálogo empreendido entre vários autores resultou primeiro, na formação das Etnociências que alguns autores enquadrariam nas experimentações teóricas pós-modernas à luz de contextos pré-modernos, resultando, por exemplo na Antropologia Ecológica, na Etnobiologia, Etnoecologia, Etnoastronomia.

Em segundo, a partir dessas hibridações, a ampliação do diálogo entre vários campos disciplinares tem propiciado o surgimento da Antropologia Ecológica, Ecologia Humana, Geografia Humana, Sociologia do Meio Ambiente, Economia Social do Meio Ambiente, Ecologia Histórica, Agroecologia, Agroecossistemas, Direito Ambiental, em vários campos temáticos.

Em menor ou maior grau tem havido uma sócio-antropolização das ciências naturais e uma ecologização das ciências humanas, todas com forte caráter interdisciplinar.

Palavras-chave: Sociologia; ; .
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006