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A apropriação da teoria musical em prol do trabalho cênico
Frederico Ramos Oliveira
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
 
Desde 2002 o Grupo Fisções da EBA-UFMG promove investigações que visam esclarecer possíveis relações entre teoria musical e trabalho cênico. O trabalho no grupo partiu de uma série de oficinas e workshops com professores de música e dança. Nestas ocasiões, o grupo pôde aprofundar seus conhecimentos musicais e posteriormente desenvolver trabalhos práticos (laboratórios, treinamentos, espetáculos, cursos) experimentando esses conceitos no trabalho teatral. Esta pesquisa concebe a execução da cena com uma idéia de musicalidade, já que podemos isolar os aspectos temporais dos diferentes elementos teatrais (movimento, aceleração, pausa, intensidade,duração) da mesma maneira que podemos destacar as informações intricadas que compõe a música (pulso, ritmo, melodia, andamento, harmonia). Dessa maneira, teremos um maior domínio dos fatores temporais das ações cênicas e poderemos assim, articular as configurações temporais desejadas de maneira mais consciente e precisa. Podemos aplicar conceitos musicais no teatro, entendendo o tempo-ritmo teatral como uma organização de eventos no tempo, sejam eles sons, movimentos ou qualquer outro acontecimento e verificando que a cena teatral pode ser comparada com a música: ambas são sucessões de microtarefas (ações/notas) em intervalos de tempo organizados segundo princípios rítmicos. O estudo do Tempo-Ritmo no teatro permite o desenvolvimento de habilidades de estruturação e manutenção temporal de materiais cênicos de maneira mais consciente do que seria feito em um trabalho que ignorasse esses conceitos. De acordo com Stanislavski, Pavis e outros, essa abordagem rítmico-semiótica da cena amplia o controle do artista na geração de significados para o público. Além disso, essas estratégias podem catalizar processos subjetivos da criatividade artística. Uma organização e manutenção mais eficiente dos eventos cênicos no tempo pode ser alcançada a partir de uma concepção rítmica. Essa estratégia permite cataliza processos criativos na subtividade do artista e conferir maior controle na arte de produzir significados. Interdisciplinaridade: Como cuidar das adaptações conceituais necessárias de modo a evitar a divulgação equivocada da teoria musical? Investigar a interdisciplinaridade de áreas tão afins quanto música e teatro revelou questões importantes: Como manter a estabilidade dos conceitos musicais sem aprisionar o teatro ao seu rigor? Quais as especificidades inerentes? Alguns conceitos musicais precisaram ser adaptados para que a aplicação desses conhecimentos no trabalho teatral fosse viabilizado. Essas adaptações muitas vezes distorceram a precisão teórica definida na música, o que acarretou uma discussão epistemológica importante. O conhecimento musical conta com uma rigorosa estruturação teórica, assim, qualquer distorção conceitual pode gerar polêmica. A discussão sobre a legitimidade dessa apropriação é um dos temas principais da pesquisa. BIBLIOGRAFIA ABREU JUNIOR, Laerthe. Conhecimento transdisciplinar: o cenario epistemologico da complexidade. Piracicaba: UNIMEP, 1996. 203 p. CAMARGO, Roberto Gill. Som e cena. Sorocaba, SP: TCM-Comunicação, 2001. CONRADO, Aldomar. O teatro de Meierhold. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. BURNIER, Luís Otávio. A arte de ator: da técnica à representação. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2001. DOMINGUES, Ivan. Conhecimento e transdisciplinaridade. Belo Horizonte: Ed. UFMG/IEAT, 2001 72 p ISBN 8570412843 JOURDAIN, Robert – "Música, Cérebro e Êxtase" - Como a música captura nossa imaginação. Rio de Janeiro, Objetiva, 1998. KUSNET, Eugênio. Ator e método. Rio de Janeiro: Funarte, 1997. MAHEIRIE, Kátia. Processo de criação no fazer musical: uma objetivação da subjetividade, a partir dos trabalhos de Sartre e Vygotsky. Psicol. estud., jul./dez. 2003, vol.8, no.2, p.147-153. ISSN 1413-7372. OLIVEIRA LIMA, Celio. Musicoterapia e Psicodrama: Relações e similaridades. Conservatório Brasileiro de Música – Centro Universitário. 2003. disponível em http://www.bapera.com.br/revista/musicoterapia/celio_psicodrama.pdf PAVIS, Patrice. Dicionário de teatro. São Paulo: Perspectiva, 1999. ___. A análise dos espetáculos. São Paulo: Perspectiva, 2003. STANISLAVSKI, Constantin. A construção da personagem. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995. WEIL, Pierre, 1924; CREMA, Roberto; D'AMBROSIO, Ubiratan. Rumo à nova transdisciplinaridade: sistemas abertos de conhecimento. São Paulo: Summus, 1993 175 p. ISBN 8532304427 (broch.) Autores: Grupo de pesquisa e atuação cênica Fisções NACE:- EBA -UFMG 2002 - Professor doutor Luiz Otávio de Carvalho-diretor-pesquisador 2003-2006 Graduando Frederico Ramos-ator-pesquisador 2003-2006 Graduando Ubiratan Santana- ator-pesquisador
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006