IMPRIMIR VOLTAR
Computações e eletrofisiologia da linguagem
Aleria Cavalcante Lage
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
 
Resumo Na Lingüística, a informação de que o curso da derivação sintática é bottom-up, já está disponível desde Chomsky (1965). Assim, quando lemos ou ouvimos (1) O menino chutou a bola primeiro concatenamos o verbo com o objeto [chutou a bola], e só então este composto é concatenado ao sujeito [O menino [chutou a bola]]. As evidências neurofisiológicas do curso bottom-up da linguagem demoraram a chegar e vieram no bojo de uma literatura que começou a se formar nos Estados Unidos e Europa nos anos 90. São principalmente estudos que utilizam a técnica de extração de potenciais relacionados a eventos (ERPs) para analisar a concatenação verbo-objeto. Incongruências do tipo (2) O menino chutou a respiração foram amplamente relacionadas a ondas negativas com amplitude elevada que eram extraídas do EEG de voluntários adultos sãos aos 400 ms pós-estímulo – o N400. Aqui no Brasil, o Laboratório CLIPSEN (Computações Lingüísticas: Psicolingüística e Neurofisiologia), fundado na UFRJ em 2002, foi o primeiro a buscar evidências neurofisiológicas do curso derivacional da linguagem: (i) França, (2002) contribuiu com uma caracterização detalhada de diferentes tipos de N400; (ii) Lage, (2005), entre outros temas, traz uma investigação inédita sobre a eletrofisiologia da concatenação de sujeito. Em sentenças como (3) A cadeira chutou a bola, além do N400 proveniente da concatenação verbo-objeto, surge aproximadamente aos 700 ms outra onda negativa que tem amplitude maior quando proveniente da estimulação por sentenças incongruentes como em (3). Nestes casos, a escolha do sujeito não satisfaz às exigências semânticas do predicado. Assim, a computação tardia do sujeito, há mais de 40 anos descrita por Chomsky, pôde ser revelada eletrofisiologicamente: um N700, sensível à incongruência durante a concatenação do sujeito. As duas teses eminentemente interdisciplinares foram orientadas pelos Professores Miriam Lemle, do Departamento de Lingüística/UFRJ, e Antonio Infantosi, do Programa de Engenharia Biomédica da COPPE/UFRJ. Explicação da Interdisciplinaridade: A interdisciplinaridade entre Lingüística e Neurociência ganhou impulso desde que a capacidade de linguagem humana foi modelada como uma sucessão de computações que formam uma arquitetura modular. A sintaxe gera, por fases, representações estruturais constituídas de categorias abstratas, implementadas por unidades morfológicas e interpretadas semanticamente. A existência de um modelo precisamente formulado sobre a natureza e o curso das computações permite que a Lingüística se associe à Engenharia Biomédica para investigar contrapartes neurofisiológicas de computações de linguagem. O CLIPSEN/UFRJ exercita esta interdisciplinaridade testando pressupostos da Teoria Lingüística através de técnicas não-invasivas de processamento de sinais biológicos com extração de ERP. Bibliografia CHOMSKY, N. Aspects of the theory of syntax. 10.ed. Cambridge, Massachusetts: The MIT Press, 1965. 251 p. FRANÇA, A. I. Concatenações lingüísticas: estudo de diferentes módulos cognitivos na aquisição e no córtex. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2002. 235 p. FRANÇA, A. I.; LEMLE, M.; CAGY, M.; CONSTANT, P.; INFANTOSI, A. F. C. I. Discriminating among different types of verb-complement merge in Brazilian Portuguese: an ERP study of morphosyntactic subprocesses. Journal of Neurolinguistics, Amsterdam, v. 17, n. 6, p. 425-437, November 2004. HAGOORT, P; HALD, L.; BASTIAANSEN, M.; PETERSSON, K. M. Integration of word meaning and world knowledge in language comprehension. Science, v. 304, p. 439-441, April 16, 2004. ______. Integration of word meaning and world knowledge in language comprehension. Science, v. 304, p. 439-441, April 16, 2004. Supporting online material. Disponível em: http://www.sciencemag.org/cgi/data/1095455/DC1/1 KLUENDER, R.; KUTAS, M. The interaction of lexical and syntactic effects in the processing of unbounded dependencies. Language and Cognitive Processes, London, v. 8, p. 573-633, 1993. KOTZ, S. A.; FRIEDERICI, A. D. Electrophysiology of normal and pathological language processing. Journal of Neurolinguistics, Amsterdam, v. 16, n. 1, p. 43-58, January 2003. KUTAS, M.; HILLYARD, S. A. Brain potentials during reading reflect word expectancy and semantic association. Nature, Hampshire, England, v. 307, n. 5947, p. 161-163, 1984. LENT, R. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais de neurociência. São Paulo: Atheneu, 2004. 698 p. LAGE, A. C. Aspectos neurofisiológicos de concatenação e idiomaticidade em português do Brasil: um estudo de potenciais bioelétricos relacionados a eventos lingüísticos (ERPs). Tese de Doutorado em Lingüística, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Departamento de Lingüística, 2005. NEVILLE, H.; NICOL, J.; BARSS, A.; FORSTER, K; GARRETT, M. Syntactically based sentence processing classes: Evidence from event-related brain potentials. Journal of Cognitive Neuroscience, Cambridge, Massachusetts, v. 3, p. 151-165, 1991. NIEDERMEYER, E.; SILVA, F. L. Electroencephalography: basic principles, clinical applications, and related fields. 4. ed. Baltimore, Maryland: Williams & Wilkins, 1982. 1258 p. OSTERHOUT, L.; HOLCOMB, P. J. Event-related potentials and language comprehension. In: RUGG, M. D.; COLES, M. G. H. (Eds.) Electrophysiology of mind: event-related brain potentials and cognition. New York: Oxford University Press, 1995. p. 171-215. (Oxford Psychology Series, 25) POEPPEL, D. A critical review of PET studies of phonological processing, Brain and Language, Amsterdam, v. 55, n. 3, p. 317-351, December 1996. PYLKKÄNEN, L.; STRINGFELLOW, A; MARANTZ, A. Neuromagnetic evidence for the timing of lexical activation: an MEG component sensitive to phonotactic probability but not to neighborhood density. Brain and Language, Amsterdam, v. 81, n. 1-3, p. 666-678, April 2002. Identificação dos Autores Aleria Cavalcante Lage Doutorado (2005) Pesquisadora do Laboratório CLIPSEN (Computações Lingüísticas: psicolingüística e neurofisiologia) Departamento de Lingüística, UFRJ Aniela Improta França Doutorado (2002) Professor Adjunto do Departamento de Lingüística, UFRJ Pesquisadora do Laboratório CLIPSEN, UFRJ Membro do Programa Avançado de Neurociência (PAN) da Faculdade de Medicina, UFRJ Maurício Cagy Doutorado (2003) Pesquisador do Laboratório CLIPSEN, UFRJ Pesquisador do Laboratório LAPIS-COPPE, UFRJ Professor Adjunto do Departamento de Bioestatística, UFF Antonio Fernando Catelli Infantosi Doutorado (1986) Professor Titular do Programa de Engenharia Biomédica da COPPE, UFRJ Coordenador do Laboratório CLIPSEN, UFRJ Coordenador do Laboratório de Processamento de Imagens e Sinais LAPIS-COPPE Miriam Lemle Doutorado (1982) Professor Titular do Departamento de Lingüística, UFRJ Coordenadora do Laboratório CLIPSEN, UFRJ
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006