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INTERSECÇÕES ENTRE CAPITAL E TRABALHO (?): VIDA COTIDIANA, UNIVERSO PRODUTIVO E TRAJETÓRIAS PROFISSIONAIS NA INDÚSTRIA DO CALÇADO
Agnaldo de Sousa Barbosa
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)
 
Muito se tem dito ultimamente acerca das profundas transformações ocorridas no bojo do processo de globalização, cujos efeitos marcaram dramaticamente as dimensões fundamentais da vida social, em especial aquelas referentes à dinâmica de acumulação do capital e das formas de organização do trabalho. Todavia, em tempos nos quais se fala em acumulação flexível, modernidade líquida e trabalho imaterial para se referir à intensidade dos efeitos das transformações em curso, em alguns setores da economia as especificidades das condições de produção geraram mudanças bem menos intensas. Na indústria do calçado, de forma nenhuma podemos falar de uma expansão do trabalho intelectual e de redução e desvalorização do trabalho manual, cenário utilizado por muitos autores para descrever os novos tempos da sociedade capitalista. Ao contrário, prevalece ainda nessa indústria a habilidade manual como fator fundamental não apenas na dinâmica da produção, mas também como elemento de ligação para a gênese de inúmeras trajetórias empresariais. Estudos anteriores apontaram a intensificação da concorrência predatória, além da exploração da força de trabalho, verificada por meio do aumento substancial de processos trabalhistas. Estas e outras características da indústria local apontam especificidades que não podem ser compreendidas através de categorias estabelecidas a priori, exclusivamente. Faz-se necessário adentrar no universo cotidiano dos atores sociais que vivenciam a realidade produtiva como empregados ou empregadores. O presente trabalho tem como objetivo lançar luz às peculiaridades e formas de relações sociais organizadoras da estrutura econômica em foco, compreendendo o ponto de vista dos vários atores sociais que participam deste cenário. Destaca-se, neste aspecto, as possíveis intersecções entre as dimensões do capital e do trabalho, do universo produtivo e do mundo privado, que são reveladas no cotidiano do trabalho e nas trajetórias profissionais. JUSTIFICATIVA A maneira como o universo produtivo local se organiza pode ser explicada em parte pela compreensão do contexto sócio-econômico mais amplo em que se inserem os atores sociais, mas também pela maneira como indivíduo e sociedade engendram-se mutuamente, criando e reproduzindo práticas sociais e relações de trabalho. Daí a necessidade de se fazer uma leitura do atual objeto de estudo por meio das lentes da Economia, Sociologia e Psicologia, buscando, por meio das disciplinas implicadas, uma compreensão dialética da realidade, em que o movimento dos seus múltiplos determinantes não seja suprimido. BIBLIOGRAFIA ANDRÉ, M. E. D. A. Etnografia da Prática Escolar. São Paulo: Papirus, 1994. BARBOSA, A. de S. Empresariado Fabril e Desenvolvimento Econômico. 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SOBRE OS AUTORES Agnaldo de Sousa Barbosa – Doutor em Sociologia (maio/2004) – FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) – Programa Jovens Pesquisadores Alexandre Marques Mendes – Doutor em Sociologia (nov/2005) – IMESB (Instituto Municipal de Ensino Superior de Bebedouro) Hélio Braga Filho – Doutor em Serviço Social (março/2005) – Uni-FACEF (Centro Universitário de Franca) Daniela Ribeiro Figueiredo – Doutora em Psicologia (nov/2004) - Uni-FACEF (Centro Universitário de Franca) Marco Aurélio Barbosa de Souza – Mestre em Economia (jun/2004) – FATEB (Faculdade de Ciências e Tecnologia de Birigui) – Todos os autores são membros do NEIC (Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre a Indústria e Cadeia Produtiva Calçadista), grupo de pesquisa financiado pelo Programa de Apoio a Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e sediado no IPES (Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais) do Uni-FACEF (Centro Universitário de Franca). O grupo é cadastrado no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e certificado pela instituição.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006