Mary Ane Gonçalves (M)1, Vanessa Carla Furtado Mosqueira (Dr)2, Jacqueline Aparecida Takahashi (PDr)1, Tadeu Alves Lara (G)1, Albina Carvalho Nogueira de Oliveira (B)3, Lúcia Pinheiro Santos Pimenta (Dr)1*. lpimenta@qui.ufmg.br
1 - Departamento de Química - Instituto de Ciências Exatas – Universidade Federal de Minas Gerais – BH - MG.
2 - Escola de Farmácia - Universidade Federal de Ouro Preto – Ouro Preto - MG.
3- Fundação Zôo-Botânica de Belo Horizonte – Belo Horizonte – MG.
Palavras Chave: Annona crassiflora, atividade antimalárica, atividade antibacteriana.
Estima-se que o Brasil disponha de cerca de 60-250 mil espécies vegetais ainda pouco conhecidas e exploradas e que, provavelmente, 40% delas possuem atividades biológicas interessantes, constituindo fonte de novos padrões moleculares úteis para o desenvolvimento de novos fármacos. Plantas com potencial atividade contra doenças endêmicas brasileiras, infecto-contagiosas, como a malária e doenças crônico-degenerativas, como o câncer, têm motivado nosso grupo de pesquisas a investigar as plantas do cerrado brasileiro. Annona crassiflora Mart. é uma espécie da família Annonaceae conhecida popularmente como “araticum”. O estudo fitoquímico iniciado com as suas sementes conduziu ao isolamento de várias acetogeninas de anonáceas que apresentaram boa atividade citotóxica em várias linhagens de células tumorais humanas1,2. A atividade inseticida sobre a lagarta Spodoptera frugiperda, praga do milho e sorgo, foi detectada com extratos das sementes e das folhas3. Relatamos aqui o estudo da madeira de A. crassiflora, biomonitorado por testes larvicida em Artemia salina, que conduziu ao isolamento de três acetogeninas inéditas, esteróides, ácidos graxos e dois alcalóides oxoaporfínicos. O extrato etanólico e frações foram avaliados quanto as possíveis atividades antimalárica e antimicrobiana. A primeira foi realizada através de ensaios in vivo em modelo murino4,5,6, onde se conseguiu uma avaliação simultânea da toxicidade e do potencial antimalárico do extrato etanólico bruto e de algumas frações, observando-se uma redução da parasitemia em camundongos tratados com estes. Para o teste de atividade antimicrobiana foi usado o método de difusão em disco7 e, as frações contendo alcalóides apresentaram boa atividade antibacteriana quando comparados com o controle positivo cloranfenicol. Este é o primeiro relato sobre os constituintes químicos da madeira de Annona crassiflora, avaliados em diferentes testes de atividade biológica que sugerem o grande potencial desta planta como fornecedora de compostos protótipos para o desenvolvimento de antitumorais, pesticidas, antimicrobianos e antimaláricos.
Referências:
1- Santos, L. P., Boaventura, M. A. D.,Sun, N-J., Cassady, J. M., Oliveira, A. B. Araticulin, a bis-tetrahydrofuran polyketide from Annona crassiflora seeds. Phytochemistry, 42(3): 705-707, 1996.
2- Santos, L. P., Boaventura, M. A. D., Oliveira, A. B. Crassiflorina, uma nova acetogenina. Química Nova 17(3): 387-391,1994.
3- Pimenta, L. P. S., Prates, H. T., Viana, P. A., Boaventura, M. A. D., Insecticide Action of ethanolic extract from Annona crassiflora seeds. In: XXI Congress of entomology. Foz do Iguassu, Paraná. Abstract Book I, v. 1, p. 1035-1035, 2000.
4- Peters, W., L. Ze-Lin, B. L. Robinson and D. C. Warhurst. The chemotherapy of rodent malaria, XL. Ann. Trop. Med. Parasitology. 80: 483-489, 1986.
5- Taylor WR, White NJ.: Antimalarial drug toxicity: a review.Drug Safety; 27(1): 25-61, 2004.
6- Winstanley, P.A. & Watkins, W.M.. Pharmacology and parasitology: integrating experimental methods and approaches to falciparum malaria. Br. J. Clin. Pharmac., 33, 575-581,1992.
7 -Lana, Enio J. L., Carazza Fernando, Takahashi, Jacqueline A.. Antibacterial Evaluation Of 1,4-Benzoquinone Derivatives, J. Agric. Food Chem., 54,
2053-2056, 2006.
Identificação dos autores (nome, último grau obtido e respectiva data, afiliação):
Mary Ane Gonçalves, mestre em química pela Universidade Federal de Minas Gerais em 20/02/2006.
Afiliação: Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Ciências Exatas.
Avenida Antônio Carlos, 6627 Laboratório 226 Cidade Universitária
30161-000 - Belo Horizonte, MG - Brasil
Vanessa Carla Furtado Mosqueira, Doutor em 2000 Université de Paris-Sud (Paris XI) , 10/03/2000 Pharmacotechnie et Biopharmacie.
Afiliação: Laboratório de Desenvolvimento Galênico e Nanotecnologia, Departamento de Farmácia, Escola de Farmácia, UFOP. Rua Costa Sena, 171 Centro Ouro Preto MG 35400000.
Profa. Dra. Jacqueline Aparecida Takahashi, Pós-Doutorado pela University of Arizona, U.A., Estados Unidos em 2003. Doutora em Ciências, Química Orgânica pela Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, Brasil em 1994.
Afiliação: Departamento de Química do Instituto de Ciências Exatas da Universidade Federal de Minas. Av. Antônio Carlos, 6627. Pampulha. CEP 31270-901.
Tadeu Alves Lara, graduando em Farmácia, 4o período.
Afiliação: Departamento de Química do Instituto de Ciências Exatas da Universidade Federal de Minas. Av. Antônio Carlos, 6627. Pampulha. Belo Horizonte Minas gerais. CEP 31270-901.
Albina Carvalho Nogueira de Oliveira, Especialização em Plantas Medicinais. Bacharel e Licenciada em Ciências Biológicas pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, PUC Minas em 1980.
Afiliação: Fundação Zôo-Botânica de Belo Horizonte. Jardim Botânico. Av. Otacílio Negrão de Lima, 8000. Belo Horizonte, Minas Gerais. CEP 31365-450.
Lúcia Pinheiro Santos Pimenta, Doutora em Ciências, área de concentração Química Orgânica pela Universidade Federal de Minas Gerais em 07/03/1995.
Afiliação: Departamento de Química do Instituto de Ciências Exatas da Universidade Federal de Minas. Avenida Antônio Carlos, 6627. Cidade Universitária
31270-901 - Belo Horizonte, MG - Brasil
Justificativa da Interdisciplinaridade:
O presente trabalho agrega conhecimentos extensos na área de química de produtos naturais, botânica, farmacognosia, farmacologia, toxicologia, parasitologia, microbiologia e agronomia. O resgate etnobotânico sobre a utilização de plantas medicinais vem acompanhado de uma preocupação em estudar e preservar as espécies do cerrado, objetivando uma utilização inovadora e sustentável das mesmas. Trata-se de produto científico resultante de colaborações efetivas entre pesquisadores das áreas supracitadas que poderá resultar no futuro no desenvolvimento de fármacos ou produtos inovadores aplicados às áreas farmacêuticas e agrícolas. Novos padrões moleculares para realização de sínteses e modificações estruturais visando melhorar a atividade (QSAR) podem ser descobertos. |