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D. Ciências da Saúde - 2. Medicina - 7. Saúde Materno-Infantil
PERFIL DAS CRIANÇAS DESNUTRIDAS INTERNADAS NO HOSPITAL ESCOLA DR. JOSÉ CARNEIRO
Priscila Regina Alves Araújo 1
Paulo José Medeiros de Souza Costa 2
Luciano Nascimento Silva 1
Fábio de Carvalho 1
Luís Gustavo Rosa Ferreira 1
(1. Acadêmico(a) de Medicina - Univ. Est. de Ciências da Saúde de Alagoas - UNCISAL; 2. Professor MS Assistente de Pediatria da UNCISAL)
INTRODUÇÃO:
Desnutrição Energético-proteica é um estado patológico sistêmico e potencialmente reversível resultante do deficiente aporte de nutrientes essenciais para o organismo. É uma das doenças que mais afeta a criança, com efeito sobre o crescimento e desenvolvimento. A Organização Mundial de Saúde estima que um terço das crianças do mundo sofram de desnutrição e que metade de todas as mortes está relacionada à mesma. Pode ser classificada quanto à etiologia, intensidade e duração, mas independente do tipo de desnutrição, existe uma relação freqüente com o sistema imune, levando ao ciclo vicioso desnutrição-infecção. Esse ciclo é responsável por aproximadamente 40.000 óbitos de crianças por dia nos países subdesenvolvidos. Estudar a desnutrição, a mais importante causa de deficiência da imunidade em crianças nos países em desenvolvimento, e encontrar formas de prevenção são também formas para a prevenção de doenças infecciosas que muitas vezes impedem que milhares de crianças desnutridas cheguem à idade adulta, pelo elevado risco de evolução para óbito. Manter um bom estado nutricional infantil deve ser prioridade na agenda do setor saúde de uma nação, visando a redução da mortalidade infantil, do ciclo desnutrição-infecção e melhora na qualidade de vida da criança e da população em geral. O objetivo do trabalho é classificar o estado nutricional de crianças internadas em um serviço de pediatria e relacioná-lo com doenças associadas no momento da internação.
METODOLOGIA:

Foi realizado um estudo descritivo transversal com crianças de 0 a 12 anos de idade internadas no serviço de pediatria do Hospital Escola Dr José Carneiro em Maceió com Desnutrição no período de junho a dezembro de 2005. O estado nutricional foi avaliado através dos índices de peso x idade até 2 anos (critério de Gomez, desnutrição leve: déficit de peso de 10 a 24%; moderado: 25 a 40%; grave: maior que 40%), de peso x estatura x idade para crianças entre 2 e 10 anos (critério de Waterlow, classificado em eutrofia, desnutrição aguda, desnutrição crônica e pregressa) e o Índice de Massa Corporal (IMC) para os maiores de 10 anos, com risco para desnutrição quando abaixo do percentil 5. A altura e o peso foram verificados através do antropômetro (pé/deitado) e da balança Filizola (bebê/adulto), respectivamente. As variáveis estudadas foram idade, sexo, peso, estatura, IMC, procedência, causa do internamento, escolaridade e profissão dos pais. Para análise estatística foi utilizado o programa SPSS versão 12, considerando o valor de significância p < 0,05. Para calcular se houve diferença entre os sexos utilizamos o teste qui-quadrado. Nos pacientes estudados com o critério de Gomez, foram avaliadas as relações grau de desnutrição x número de infecções (Teste bivariado e coeficiente de correlação Pearson), sexo x grau de desnutrição e sexo x número de infecções (Teste de Mann- Whitney U).

RESULTADOS:

Incluímos 50 crianças, 54% do sexo feminino e 46% masculino. 60% tinham até 2 anos, 30% entre 2 e 10 anos e 10% entre 10 e 12 anos. Entre 0 e 2 anos, 43,33% foram classificadas em desnutrição grave, 23,33% em moderada e 33,33% em leve. De acordo com a classificação de Waterlow, 40% das crianças entre 2 e 10 anos apresentavam desnutrição crônica, 53,33% pregressa e 6,66% eutróficas. Dentre as crianças de 10 a 12 anos, 60% estavam abaixo do percentil 5 e 40% abaixo do percentil 25. Quanto às doenças, até 2 anos 33,33% dos desnutridos estavam associados a doenças infecciosas do trato respiratório 33,33% a doenças infecciosas do trato gastrointestinal, 3,33% doenças respiratórias e gastrointestinais concomitantemente. O distúrbio respiratório esteve presente com a monilíase oral 6,66% e com anemia 6,66%. Outras doenças representaram 16,65%. Nas crianças entre 2 e 10 anos, predominou distúrbios do trato respiratório (31,25%) em relação aos distúrbios gastrointestinais (6,25%) e outros 37,5%. Em maiores de 10 anos, 60% apresentavam distúrbios respiratórios, 20% gastrointestinais e 20% infecção urinária. 68% das crianças eram procedentes do interior do estado e 32% da capital. Quanto à escolaridade materna 64% estudaram até o 1º grau, 10% até o 2º grau e 26% nunca estudaram. Não houve correlação entre desnutrição x número de infecções (p = 0,086). As correlações sexo x grau de desnutrição e sexo x número de infecções não foram significantes (p= 0,87 e p= 0,14,  respectivamente).

CONCLUSÕES:

Das 50 crianças estudadas, o maior número de desnutridas esteve entre 0 e 2 anos, mais da metade classificadas como desnutrição grave e moderada, indicando comprometimento do peso e, conseqüentemente, da saúde da criança. Entre 2 e 10 anos, de acordo com Waterlow, 40% apresentavam desnutrição crônica, indicando uma insuficiência nutricional a longo prazo, com conseqüente comprometimento estatural. 53,33% tinham desnutrição pregressa que comprometeu uma fase anterior de crescimento normal, não sendo o quadro atual responsável pelo déficit de peso e altura. Com o IMC, observou-se que a maior parte das crianças apresentava risco nutricional. As doenças do trato respiratório e gastrointestinal foram as principais associadas à desnutrição até 2 anos. Dos 2 aos 10 e nos maiores de 10 anos, as doenças respiratórias predominaram. Não houve significativa diferença entre os sexos (P > 0,05). Não foi observada a relação entre maior grau de desnutrição e maior número de doenças, não sendo avaliado, entretanto, a gravidade de cada infecção. O sexo não foi determinante para o grau de desnutrição e número de infecção. Crianças procedentes do interior predominaram em relação à capital. O baixo nível escolar e o índice de desemprego dos pais reforçaram a importância do nível sócio-econômico e educacional como fatores predisponentes da desnutrição. Medidas básicas de saúde e educação podem evitar que intervenções médicas sejam dissolvidas diante do ciclo desnutrição-infecção.

Instituição de fomento: FAPEAL / UNCISAL / PROBIC
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: desnutrição; infecção; estado nutricional.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006