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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 14. Ensino Superior

O SENTIDO DE SER PRODUTOR TEXTUAL PARA OS ALUNOS DO CURSO DE PSICOLOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO

Vanessa Rocha Novaes 1
Geida Maria Cavalcanti de Sousa 1
(1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO)
INTRODUÇÃO:
As interferências pessoais e subjetivas estão presentes no percurso da produção escrita, uma vez que os alunos passam por caminhos que envolvem dilemas, fugas, atalhos, medos. Assim, escrever não abarca apenas o domínio do conteúdo, mas a disponibilidade psicológica. O desenvolvimento do sujeito só pode ser compreendido na totalidade de suas dimensões: cognitiva, afetiva, motora, ética, estética, entre outras. SILVA (2002) apresenta pressupostos a respeito do ser que vivencia situações de leitura, colocados dentro da esfera do humano. A linguagem manifesta o ser relacional do homem. Por meio das palavras, o sentido será buscado, por sua mediação, como o de um material do qual se precisa aprender a se servir. O ato de escrever (simbolizar) permite ao outro compartilhar aquilo que viu; ao ler (compreender), compartilha aquilo que o outro viu.  É nesse situar-se contínuo que se coloca toda a busca do “ser”. Este estudo objetivou descrever o sentido de ser produtor textual para os alunos do curso de Psicologia da UNIVASF, compreendendo os aspectos que interferem nesse processo. Sente-se que é fundamental estudar a relação entre o sujeito e sua escrita, conhecendo o contexto da produção, para que se possa favorecer o desencadeamento de uma escrita criativa, possível de ser publicada, divulgando, assim, a produção científica desses estudantes.
METODOLOGIA:
Trata-se de um estudo exploratório, envolvendo estudantes do II período do curso de Psicologia da UNIVASF, no 2º semestre de 2005. Foram utilizados depoimentos escritos na coleta de dados, abordando as suas experiências no processo da escrita. Nesse caso, retrata uma abordagem qualitativa, pois se manteve um contato direto com a situação onde o fenômeno ocorreu. A perspectiva fenomenológica aponta para o descrevê-lo e não explicá-lo; dessa forma, não se interrogou o ensino ou a aprendizagem, mas o sujeito que está vivenciando a produção textual. Segundo Silva (2002), dentro da perspectiva fenomenológica e ontológica, o homem (ser-no-mundo), projeta sua existência, faz planos, busca tornar-se aquilo que ainda não é. Para tanto, necessita compreender os sentidos que estão postos no mundo e, dessa forma, poder tomar propriedade sobre as coisas do mundo. A preocupação com a ética foi considerada, garantindo a não identificação do pesquisado; para evitar constrangê-lo, foi nomeado com pseudo-iniciais. A análise dos dados foi baseada em Forghieri (1993) e, a partir da percepção dos sujeitos, foram detectadas as unidades de significado.
RESULTADOS:

Nos depoimentos dos alunos, reflexões nos transportaram para um novo mundo do “sentido de ser produtor textual”. As descrições permitiram-nos uma organização em quatro categorias, sendo a primeira a preocupação com o conhecimento, com a forma de apresentá-lo. O depoimento que segue ilustra essa preocupação: “[...]é saber discorrer sobre diversos temas, mostrando os vários ângulos pelos quais esses podem ser vistos; de maneira crítica, concisa e coerente respeitando as metas às quais o tipo textual escolhido se propõe” (A.S.V.). A segunda categoria mostra o sujeito presente na produção, aborda o “eu”, a individualidade: “[...]um texto, seja ele acadêmico ou não, sempre é algo feito por nós mesmos, pelo nosso sujeito, nosso eu, também assim está intrínseco o estado emocional ou mental da pessoa, no texto, ao escrevê-lo” (C.L.D.). A avaliação da produção e o receio da não-aceitação foram demonstrados na terceira categoria: “[...]é escrever, produzir algo que será avaliado, julgado pelos professores.” (G.L.S.). Na última categoria, retrata-se a mobilização dos paradigmas, a exemplo no depoimento: “Produzir um texto normalmente faz meus paradigmas serem mobilizados, pois passo a me questionar e analisar as coisas a partir deles, embasada nas minhas crenças” (T.T.L.).

CONCLUSÕES:
No seu processo de produção textual, o sujeito coloca sua interpretação, sendo que essa vem com seus paradigmas, crenças, idiossincrasias, todos impressos, mesmo que nas entrelinhas. Tal interpretação vai depender, inclusive, das experiências pelas quais o sujeito já tenha passado em sua trajetória de vida. Mesmo que seja um texto solicitado pelo professor, ao produzi-lo, o aluno executa um movimento intencional de sua consciência, busca argumentar a fim de convencer o leitor acerca da idéia apresentada. Os dados apontam que a preocupação com o conhecimento e forma de apresentá-lo, a individualidade, o medo da avaliação da produção e a mobilização de paradigmas permeiam o mundo do produtor textual.
Instituição de fomento: FACEPE
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: sentido de ser; sujeito; produtor textual.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006