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G. Ciências Humanas - 5. História - 8. História Regional do Brasil

OS ESTADOS UNIDOS E A ALIANÇA PARA O PROGRESSO NO NORDESTE BRASILEIRO

Henrique Alonso de A. R. Pereira 1
(1. Depto. de História e Geografia, UFRN)
INTRODUÇÃO:
Em parte como reação à Revolução Cubana (1959), a América Latina tornou-se uma das mais importantes prioridades da agenda externa dos Estados Unidos no início da década de 1960.  Em 1961, a administração John Fitzgerald Kennedy criou a Aliança para o Progresso, um programa que oficialmente pretendia promover o uma aliança dos Estados Unidos com os países latino-americanos para promover o desenvolvimento econômico. Tratava-se do combate à “ameaça comunista”. Tendo em vista sua importância geopolítica, o Brasil foi o país latino-americano que mais recebeu investimentos do então novo programa de política externa dos Estados Unidos no início da década de 1960.  Do ponto de vista do governo norte-americano, o Nordeste brasileiro era considerado então como uma “região explosiva”, não apenas por ser a região mais empobrecida do país, como também o lugar onde a “ameaça comunista” teria se materializado.  O “perigo” estaria localizado especialmente em Pernambuco, onde as Ligas Camponesas e o governo Miguel Arraes assumiram  fortes posturas anti-americanas.  Como os Estados Unidos consideraram que a miséria seria um campo fértil para a proliferação de idéias contrárias à ordem, o Nordeste foi o alvo principal da Aliança no Brasil.  Nessas circunstâncias, tornou-se imperioso para o governo estadunidense robustecer governos estaduais que deveriam funcionar como contraponto às experiências “subversivas”, tal como ocorria em Pernambuco. 
METODOLOGIA:

Foram pesquisados documentos produzidos pelas representações diplomáticas estadunidenses no Brasil, particularmente a Embaixada, inicialmente sediada no Rio de Janeiro e depois em Brasília, e o consulado em Recife. A grande maioria dos documentos foram despachos consulares produzidos por diplomatas estadunidenses no Brasil que foram enviados ao Departamento de Estado em Washington, D.C.  Estes documentos foram analisados utilizando da análise de discurso como ferramenta metodológica. Desta forma, os textos dessas fontes tiveram seu significado e lugar problematizados não só se buscando as condições de sua produção (quem fala, para quem, em que redes sociais está imerso), mas também procurou-se contrastá-los com o universo de práticas que lhes era de algum modo correspondente. Seguindo essa direção, mais do que buscar dados e informações no texto escrito, procurou-se olhá-los como práticas e/ou expressões de práticas sociais através das quais os sujeitos se constituíram historicamente.

RESULTADOS:
Os desdobramentos das ações do governo dos Estados Unidos na América Latina estiveram muito distantes das propaladas intenções de contribuir para o estabelecimento de governos “plenamente democráticos”, quando do lançamento oficial da Aliança para o Progresso em 1961.  Durante a década de 1960, e também no início dos anos 1970, o continente latino-americano foi varrido por uma série de golpes de Estado que implantaram ferrenhas ditaduras militares.  Grande parte destes golpes de Estado teve considerável e significativa ajuda do governo norte-americano. No caso brasileiro, o golpe de Estado de 1964 contou com o decisivo apoio e aprovação dos Estados Unidos.  Ainda antes do golpe, o governo estadunidense financiou a oposição ao governo Goulart através do complexo IPES/IBAD.  No Nordeste, com verbas da Aliança para o Progresso, muitos grupos políticos e lideranças políticas conservadores receberam decisivo apoio dos Estados Unidos.
CONCLUSÕES:
A Aliança para o Progresso foi então utilizada como instrumento para implementar a política estadunidense de criar aquilo que Lincoln Gordon, embaixador dos Estados Unidos no Brasil entre 1961 e 1966, chamou de Ilhas de Sanidade.  Estas seriam um mostruário daquilo que o governo norte-americano poderia fazer de bom não apenas pelo Nordeste e pelo Brasil, mas também por toda a América Latina. Ao invés de “produzir democracia”, ajudou a instaurar a mais longa ditadura que o Brasil experienciou no século XX.  
Instituição de fomento: CAPES
 
Palavras-chave: Relações Brasil - Estados Unidos; Aliança para o Progresso; Nordeste.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006