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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 5. Psicologia da Saúde
A PERCEPÇÃO DOS ACOMPANHANTES SOBRE O BRINCAR COM CRIANÇAS PORTADORAS DE PARALISIA CEREBRAL HOSPITALIZADAS
Bianca Lopes de Souza 1
Ana Cristina Barros da Cunha 1
(1. Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro / UFRJ)
INTRODUÇÃO:

A experiência de hospitalização infantil é potencialmente traumática para a criança e para o seu acompanhante. No caso das crianças portadoras de paralisia cerebral (PC), isto é, uma patologia conseqüente de uma lesão estática ocorrida no período pré, peri ou pós-natal (até os cinco anos de idade), que afeta o sistema nervoso central em fase de formação, maturação ou evolução estrutural e funcional. Sendo uma disfunção predominantemente sensório-motora, que envolve distúrbios no tônus muscular, postura e movimentação voluntária, às limitações da própria deficiência associam-se as perdas comuns decorrentes da experiência de hospitalização, intensificadas em função tanto da gravidade da incapacidade quanto das restrições orgânicas impostas pela PC. Dessa forma, o ônus psicossocial da condição incapacitante provocado pela PC é ampliado durante o processo de hospitalização infantil, onde a situação de dependência e de investimento do outro é intensificada, exigindo a presença constante e a disponibilidade intensa de um acompanhante. O objetivo deste estudo foi investigar as percepções de acompanhantes de crianças com PC sobre o processo de hospitalização infantil durante um período de internação hospitalar em um hospital público do município do Rio de Janeiro. Isto é, procurou-se investigar o papel que os acompanhantes atribuem ao brincar durante o processo de internação hospitalar destas crianças, a fim de compreender como a atividade lúdica pode contribuir nesta experiência.

METODOLOGIA:

Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com quatro acompanhantes de crianças com idades entre 3 e 9 anos. Os acompanhantes eram adultos responsáveis pela criança durante a hospitalização, ou seja, duas mães, uma avó e um bisavó.Todas as crianças eram portadoras PC e estavam internadas no Instituto Fernandes Figueira/FIOCRUZ no período em que foram realizadas as entrevistas e participavam das atividades desenvolvidas nas enfermarias pelo Saúde e Brincar – Programa de Atenção Integral a Criança e ao Adolescente, formado por uma equipe interdisciplinar que tem como tripé a assistência, a pesquisa e o ensino. Este programa tem como objetivo geral a discussão, investigação e promoção de saúde da população infanto-juvenil em atendimento as enfermarias e ambulatórios deste instituto, através da atividade lúdica. As entrevistas foram realizadas individualmente com o acompanhante da criança na sala do Programa Saúde e Brincar. Todas as entrevistas foram transcritas e foi utilizada a metodologia de Análise de Conteúdo (Bardin, 1971) para análise das entrevistas de acordo com as principais categorias: 1) com relação ao diagnóstico; 2) com relação à rotina da criança fora do hospital; 3) com relação ao processo de internação hospitalar; 4) com relação ao papel do brincar no período de hospitalização infantil. Para cada uma das quatro categorias foram criadas sub-categorias.

RESULTADOS:

A análise dos dados revelou que, com relação ao diagnóstico, a identificação da deficiência, que para 3 participantes aconteceu na própria família, ocorreu no primeiro ano de vida e as causas da PC foram várias, tais como microcefalia, meningite, hipóxia neo-natal e tumor cerebral. Além disso, ao receber a notícia, os acompanhantes relataram terem experimentado sentimentos de angústia e culpa pela patologia da criança, assim como informaram ter esperança e fé na reversão do quadro clínico infantil. No que diz respeito à rotina da criança, a alimentação é um dos cuidados que despende maior parte do tempo, já que os cuidados com a pneumonia devido à broncoaspiração é uma preocupação para 3 dos participantes. Além disso, a freqüência a tratamentos fonoaudiológico e fisioterápico foi relatado por 2 acompanhantes, apesar de todos afirmarem a importância e necessidade deste tipo de tratamento para a criança com PC. Sobre o processo de internação hospitalar, os acompanhantes mencionaram a pouca acessibilidade da equipe de saúde e a sobrecarga emocional e física sobre o acompanhante como aspectos principais da hospitalização. A experiência constante de sentimentos de perdas, angústia, tristeza, culpa e principalmente o medo da morte da criança, foram citados pelos acompanhantes. Por fim, o brincar nas enfermarias como facilitador do processo de hospitalização infantil foi relatado por todos os participantes.

CONCLUSÕES:

Os sentimentos de angústia, culpa e medo que os acompanhantes experimentaram durante a hospitalização de suas crianças podem funcionar como fatores promotores de estresse e ansiedade. No entanto, para eles, o brincar com a criança durante a hospitalização pode reduzir o sofrimento experimentado tanto por eles quanto pelas crianças, já que remete ambos a aspectos da vida cotidiana e da saúde, além de facilitar o contato com outras crianças, favorecer a criação de vínculos e alianças entre as crianças, a equipe de saúde e os próprios acompanhantes. Em resumo, em função da análise dessas entrevistas, pode-se concluir que o brincar é percebido como um mediador e facilitador do processo de hospitalização da criança portadora de PC e seu acompanhante, sendo considerado um importante promotor de saúde, já que auxilia o desenvolvimento global da criança e favorece sensações de bem-estar e felicidade em ambos. Assim, para essas famílias, tão marcadas por impossibilidades e limitações, o brincar pode contribuir no processo de resignificação da subjetividade da criança e do acompanhante, assim como da condição de deficiência devido à PC e da situação de hospitalização infantil.

 
Palavras-chave: Brincar na hospitalização; Criança portadora de paralisia cerebral ; Responsáveis e acompanhantes da criança na hospitalização.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006