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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 7. Psicologia do Ensino e da Aprendizagem
PERCEPÇÕES DE PROFESSORES E ALUNOS SOBRE ASPECTOS DOS DESEMPENHOS DOS PROFESSORES: NO QUE CONCORDAM E NO QUE DISCORDAM
Ana Carolina Seara 1
Olga Mitsue Kubo 2
(1. Departamento de Pós-Graduação em Psicologia-UFSC; 2. Departamento de Pós-Graduação em Psicologia-UFSC (Orientadora))
INTRODUÇÃO:

Um dos aspectos fundamentais que define o papel social da uma instituição de ensino superior é de produzir conhecimento e tornar esse conhecimento acessível a quem necessitar. Para tornar o conhecimento de valor produzido acessível a quem dele necessita, um dos meios mais importantes é caracterizado pelo desenvolvimento dos processos de ensinar e de aprender. Para a maioria dos professores, no entanto, a definição desses dois processos é reduzida ao que o professor faz em sala de aula. O comportamento do professor, por sua vez, está vinculado ao comportamento do aluno, por isso, é inviável analisar o processo de ensinar sem analisar o aprender, como dois processos em que a existência de um (ensinar) depende do outro (aprender). Ao considerar a avaliação de desempenho do aluno, há necessidade de considerar também o desempenho do professor em relação aos alunos, haja vista estarem ambos implicados nos processos de ensinar e aprender. Estudar os comportamentos apresentados pelo professor e suas decorrências na aprendizagem dos alunos é uma maneira de dar maior visibilidade aos processos de avaliar desempenho e de avaliar ensino. Se a percepção dos comportamentos do professor não for analisada de forma precisa e clara, os estudos desenvolvidos não servirão para auxiliar na compreensão e no aprimoramento desses processos. Dessa forma, o objetivo deste estudo foi o de verificar quais são as percepções de professores e de alunos sobre o desempenho docente em sala de aula.

METODOLOGIA:

Participaram desta pesquisa 64 alunos de um curso de graduação em Psicologia de uma instituição de ensino superior brasileira e cinco professores que lecionavam disciplinas para esses alunos (denominados A, BF, C, D e E). Os alunos faziam parte de três fases distintas do curso: uma fase inicial (entre a primeira e terceira fase), uma fase intermediária (entre a quarta e sexta fase), e uma fase final (entre a sétima e nona fase). Para verificar a percepção de professores e alunos sobre o desempenho docente, foi desenvolvido um conjunto de questões com alternativas para escolha e apresentado aos alunos no formato de questionário. Um questionário equivalente foi desenvolvido para os professores a fim de verificar suas percepções sobre seus próprios desempenhos. Cada aluno respondeu questões a respeito do desempenho de dois de seus professores que haviam ministrado aulas em disciplinas distintas no semestre imediatamente anterior ao da coleta. Alunos e professores atribuíram notas em relação a 22 aspectos referentes ao trabalho do professor e, para realizar a comparação entre as notas, os dados foram tratados a fim de que se verificasse a divergência entre a nota dada pelo professor e a nota atribuída pelo aluno. Para tanto os dados relativos às notas dos alunos foram distribuídos em três categorias: as de notas iguais às dadas pelo professores, as de notas inferiores, e as de notas superiores àquelas que o professor atribuiu

RESULTADOS:

Os dados permitiram verificar que há algumas distinções entre as percepções de professores e alunos sobre o trabalho docente, que variam dependendo do aspecto avaliado, da turma e em relação a cada professor. De maneira geral, em relação ao professor A (turma de fase inicial) a maioria dos alunos atribuiu notas superiores à nota dada pelo professor ao seu desempenho; com relação ao professor BF (turma de fase inicial), há uma distribuição mais regular das notas dadas pelos alunos entre notas superiores e inferiores àquelas que o professor atribuiu ao seu desempenho; com relação ao professor C (turma de fase intermediária), a maior parte dos alunos atribuiu notas inferiores às notas do professor; com relação ao professor D (fase intermediária), a maior parte dos alunos deu notas inferiores às do professor; com relação ao professor E (fase final), houve uma grande concordância entre os alunos atribuindo notas exclusivamente inferiores; e com relação ao professor BF (fase final), as notas atribuídas pelos alunos se distribuíram mais regularmente entre notas superiores, concordantes e inferiores às notas dadas pelo professor.

CONCLUSÕES:

Verificou-se que professores e alunos têm percepções distintas com relação aos diferentes aspectos do desempenho docente em sala de aula. Alguns professores têm uma avaliação mais crítica de seu desempenho que pode estar relacionada ao fato de esses professores atuarem na pós-graduação, levando-os a serem mais exigentes com relação ao seu desempenho. Os professores C e E não tinham vínculos com cursos de pós-graduação e são menos críticos que seus alunos, recebendo um alto percentual de notas discordantes inferiores. Isso pode ser um indicativo da importância desses programas na formação de professores de nível superior. Com relação aos professores D e BF, as turmas se distribuem mais regularmente entre discordâncias e concordâncias com as notas do professor. Alguns fatores podem ter interferido na divergência de notas: entendimentos diferentes acerca do significado das expressões que se referiam aos aspectos do trabalho do professor; utilização de mais de um termo para fazer referência aos aspectos e o uso de termos amplos; o que sugere a necessidade de alguns ajustes nos questionários a fim de evitar essas interferências. Contudo, os dados possibilitam identificar diferenças de percepção entre alunos e professores em relação aos aspectos envolvidos no trabalho do professor, mais especificamente em como essas diferenças ocorrem, se por uma percepção melhor do que o professor (com notas superiores) ou uma percepção pior (com notas inferiores) por parte dos alunos.

Instituição de fomento: CAPES
 
Palavras-chave: percepções de professores e alunos; desempenho docente; ensino e aprendizagem.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006