No Brasil, a produção sistemática de conhecimento em Educação iniciou em fins de 1970, com a publicação do Parecer CFE 977/1965 e a institucionalização dos Programas de Pós-Graduação stricto sensu (PPG). A preocupação com a qualidade desta produção, em particular a discente, tem sido objeto de estudo desde a criação dos primeiros PPG, e vem sendo avaliada pela CAPES há quase 30 anos (Cury, 1991). Dentre os elementos que conferem qualidade ao trabalho acadêmico, permitindo sua validação, está a forma de elaboração de procedimentos metodológicos, ou seja, o modo com que pesquisadores desenvolvem estratégias de investigação. Na área de Educação, tal aspecto é fundamental, à medida que, nos últimos 20 anos, a ênfase em abordagens qualitativas (que centram no pesquisador a construção do instrumento, a organização e a análise de dados (Bogdan; Biklen, 1994), exige estratégias de controle da sua bias (subjetividade), a fim de conferir validade aos resultados da pesquisa (Goldenberg, 2000). Embora alguns trabalhos discutam esta temática na especificidade da produção discente (Azzi, 2002; Bianchetti; Machado, 2002; WARDE, 1993), ainda são raros os estudos problematizando esta questão. Este trabalho objetivou analisar os procedimentos e técnicas de coleta de dados de dissertações em Educação, buscando contribuir para o conhecimento sobre as estratégias de pesquisa e seu uso na área, bem como sua efetividade acadêmica.

A base empírica desta pesquisa foi a produção discente do Programa de Pós-Graduação em Educação/ Mestrado (PPGE/ME) da Universidade Regional de Blumenau (FURB). O corpus analisado refere-se às dissertações produzidas entre 1993 (data da primeira defesa) e final de 2004, somando 240 dissertações. O PPGE/FURB, criado em 1991 e credenciado pela CAPES em 2001, possui características similares a de programas criados nos anos 90, como atender a demanda local por mestres e conformar grupos de pesquisa com competências e foco temático específico. Inicialmente, o mapeamento dos procedimentos e técnicas de coleta de dados deu-se pela leitura dos resumos das dissertações; nos casos em que isso não foi possível, recorreu-se ao texto completo. Buscamos identificar as técnicas utilizadas, bem como as peculiaridades das mesmas na FURB. A sistematização dos dados pelos pesquisadores deu-se em três fases: 1) identificação das técnicas após leitura da produção discente (são elas: acompanhamento de grupos, análise de documentos, entrevista, questionário, observação, criação de proposta educacional, pesquisa bibliográfica e aplicação de testes), realizada em duplas de pesquisadores; 2) análise das peculiaridades destas técnicas na FURB.

Seguindo a tendência da pesquisa educacional a partir de 1980, os procedimentos e técnicas mais empregados enfatizam o uso de abordagens qualitativas, como: análise de documentos (20,6%); entrevistas (18,6%); questionário (16,2%), observação (15,1%) e criação de proposta educacional (13,3%). A utilização de entrevistas e observações manteve freqüência constante no período analisado (1993-2004), ao contrário de criação de proposta educacional, aplicação de testes e acompanhamento de grupos, que caracterizam os primeiros anos de funcionamento do programa. O emprego destas técnicas permaneceu diretamente vinculado ao ambiente escolar. Assim, os documentos analisados caracterizam-se basicamente como atas de reuniões e projetos pedagógicos e institucionais; as entrevistas e questionários foram aplicados majoritariamente em professores e alunos; o acompanhamento de grupos e a observação deram-se em aulas e/ou reuniões pedagógicas; a aplicação de testes deu-se em aulas de Educação Física, na Alfabetização e, algumas vezes, na Educação Superior, sempre como diagnóstico (de desempenho do estudante ou situação escolar pesquisada). Os trabalhos analisados revelaram predominância de apenas uma técnica de coleta de dados (52%), havendo 38% com duas técnicas, e 10% com uso de três técnicas ou mais. Estes números também foram constantes ao longo do período analisado, sendo que, a partir de 2000, houve maior freqüência da utilização de apenas uma técnica.