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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 14. Ensino Superior
DOCÊNCIA INTERDISCIPLINAR: O ENSINO SUPERIOR EM CONSTRUÇÃO NAS OFICINAS DE DIDÁTICA
Greice Scremin 1
Endrigo Corso Longhi  1
Estela Maris Giordani  1
(1. Universidade Federal de Santa Maria)
INTRODUÇÃO:

A preocupação com a figura do educador é crescente em função das diversas dimensões pelas quais está marcada a formação desse profissional. Esta tem sido objeto de diversas análises que indicam uma necessidade de mudanças tanto no processo de formação do professor, quanto no quotidiano de sua atuação profissional ao conduzir a ação pedagógica. Esta pesquisa investigou a dinâmica da docência no ensino superior, a partir de situações concretas vivenciadas durante o curso de extensão “Oficinas de Didática”. As oficinas, como o próprio termo sugere, são um espaço de exercício de um oficio, no qual nos confrontamos com os diferentes instrumentos de uma profissão a fim de melhor responder ao desafio prático construindo, assim, o ofício da docência. A didática investiga os fundamentos, as condições e os modos de realizar a educação mediante o binômio ensino-aprendizagem. O objetivo da pesquisa foi verificar se a metodologia interdisciplinar das oficinas de didática, na formação contínua de professores do ensino superior, provocou reconstruções das variáveis que implicam o saber, fazer e ser docente. A perspectiva interdisciplinar reconstrói as relações entre o modo de ser docente, seus saberes e habilidades utilizadas, em uma perspectiva de humanização pessoal e profissional da didática no ensino superior.

METODOLOGIA:

Esta pesquisa foi realizada durante 40 h/a de Oficinas de Didática durante o ano de 2005, com profissionais de formação em diversas áreas e com tempos diferentes de atuação. Os dados foram coletados antes, durante e depois de sua execução. Na primeira etapa foi aplicado um questionário para identificar as principais concepções dos processos de ensino-aprendizagem dos participantes. Na segunda etapa, foram realizadas filmagens e observações participantes sendo que, as primeiras foram transcritas integralmente e, a partir das segundas, foram gerados relatórios de observação de cada encontro sob a perspectiva de três observadores (pesquisadores participantes). Na etapa final, os participantes elaboraram depoimentos induzidos por temas que os faziam refletir acerca do percurso vivido ao longo desse processo de formação. Esse processo visou o confronto concreto-prático, crítico e analítico oferecendo a oportunidade de estabelecer diferenciações entre práticas pedagógicas de docência. A pesquisa, sendo de cunho qualitativo e interdisciplinar, proporcionou a vivência de outras possibilidades didáticas e procurou entender os fenômenos e do modo como eles ocorrem: interligados, dinâmicos e complexos.

RESULTADOS:

A pesquisa apresentou os resultados que estão sintetizados a seguir: No questionário inicial foi possível identificar que os principais modelos de aprendizagem da docência considerados pelos participantes tinham como centro da atividade pedagógica somente o professor ou somente o aluno. No que se refere à aquisição e desenvolvimento de modelos didáticos, todos os sujeitos entrevistados afirmam que o professor precisa construir um modelo didático próprio. Durante as oficinas, essas concepções sofreram um processo de re-significação. As contraposições trouxeram, aos participantes, um contexto muito rico de análises do fenômeno educativo. Na etapa das filmagens e relatórios, observamos que a metodologia do exercício prático e das análises por meio dos diálogos conduziu à constatação da evidente relação entre as dimensões profissional e pessoal do professor. Na última etapa, os participantes manifestaram que os modelos iniciais foram revisados, consideraram que tais modelos devem caracterizar-se como uma construção constante e flexível conforme a singularidade de cada professor. A maioria dos participantes entendeu que a construção de uma teoria de ensino-aprendizagem própria deve se dar com base nas teorias já existentes e na análise das práticas docentes.

CONCLUSÕES:

Após a análise dos resultados, observamos que o processo de formação contínua dos professores universitários é de fundamental importância e deve considerar as dimensões do fazer, saber e ser. A metodologia interdisciplinar, aplicada ao desenvolvimento da formação contínua de professores, constituiu-se em uma formação diferenciada na mudança do sentido de ser professor. Percebemos a re-significação dos participantes a respeito da dimensão pessoal da docência, assim como, a identificação de elementos que promoveram processos de mudanças contínuas na construção deste ofício. Acreditamos que a qualificação e o interesse de um profissional são importantes alternativas para um possível aprimoramento de suas habilidades para, como conseqüência, melhorar o ensino em nosso país. Nesse sentido é preciso considerar a educação como um processo contínuo de tomada de consciência, incentivando os profissionais a assumirem uma postura de educador-pesquisador frente à realidade em que se encontram, capazes de uma modificação de si próprios e do mundo. A educação continuada não é, então, apenas a transmissão de conhecimentos científicos, mas também de atitudes em relação à utilização desses conhecimentos.

Instituição de fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa no Rio Grande do Sul (FAPERGS) e Fundo de Incentivo a Pesquisa (FIPE).
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: formação; docência universitária; interdisciplinaridade.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006