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G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 3. Antropologia das Populações Afro-Brasileiras

ESTRATÉGIAS SIMBÓLICAS DA IDENTIDADE NEGRA

Jaqueline Lima Santos 1
Sylvio Fleming Batalha da Silveira 1
(1. Pontificia Universidade Católica de Campinas/ PUCC)
INTRODUÇÃO:

Manifestações da identidade negra tem sido alvo de diversos estudos em nossa sociedade, em varias áreas de conhecimento e com diversos tipos de abordagem. O meu estudo em especifico trata-se de uma análise antropológica dessas manifestações tendo como base a chamada "cultura negra" e objeto de estudo a comunidade de Jongo Dito Ribeiro de Campinas.

O Jongo é uma dança rural predominante na região do vale do paraíba. Este ritual se originou entre os escravos como forma de sociabilidade, confraternização e expressão de sua realidade. Assim como diversos outros fenômenos, o Jongo vem se fortalecendo como instrumento de afirmação e preservação da identidade e cultura negra. É forte alvo de estudos folclóricos, tendo poucos estudos desenvolvidos na área de ciências sociais, como aponta Penteado Júnior(2004) na sua tese de mestrado desenvolvido em antropologia sobre a comunidade de jongueiros do Tamandaré. Em Dezembro de 2005 foi declarado pelo IPHAN(Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional) patrimônio cultural imaterial brasileiro.

Diversas formas de organização dos grupos de cultura negras tem exercido um papel fundamental na construção e no resgate da identidade étnica, fazer um estudo antropológico em relação a essa prática é buscar interpretar esta realidade, pois como aponta Carlos Rodrigues Brandão(1982), essas práticas existem no interior de uma cultura e representam categorias sociais de sentir, pensar e fazer.

METODOLOGIA:

Em primeiro momento, busquei desenvolver alguns conceitos trabalhados neste estudo através de referências bibliográficas. Após isso procurei focar meu estudo em um objeto especifico: A comunidade de Jongo Dito Ribeiro de Campinas.

Marcel Mauss(1902) afirma que falar de um grupo em geral é falar de algo inexistente, pois há uma diversidade muito grande dentro dos grupos sociais, e por isso devemos buscar uma instituição a ser estudada e relaciona-la com outras através material bibliográfico já produzido sobre o assunto.

Para fazer uma relação entre a pesquisa de campo e os conhecimentos etnográficos já produzidos, usei como referência Florestan Fernandes(1975), onde ele alerta que para se desenvolver uma pesquisa de campo é preciso que se tenha embasamento teórico para que se possa trabalhar um conhecimento empírico bem fundamentado.

Após isso procurei desenvolver os conceitos de cultura, identidade étnica, "cultura negra" e "raça" trabalhados do ponto de vista cientifico. Depois de definir estes conceitos, fui para a pesquisa de campo, realizada com entrevistas e observações participantes em espaços construídos pelas comunidades: encontros, festas, viagens e conversas informais, acompanhando as atividades que a comunidade de Campinas participava.

O exercício de distanciamento em relação ao objeto de estudo é um procedimento desta pesquisa, visto que estou estudando um fenômeno(identidade negra) do qual faço parte.

RESULTADOS:

Os conceitos trabalhados, como "raça" e "identidade negra", são conceitos antropológicos e sociológicos, que dizem respeito a construções simbólicas dos atores sociais, realizadas através das relações históricas e não naturais em si.

O Jongo é uma manifestação cultural sagrada e profana, denominada socialmente como "dança dos negros". O seu aspecto sagrado apresenta um sincretismo religioso, misturando fenômenos do candomblé e catolicismo. As suas musicas são chamadas de pontos, deixam explicita a afirmação de identidade étnica e uma disputa de interpretação.

Os "ativistas" afirmam que o Jongo tem suas raízes na África. Segundo as comunidades "com a imigração forçada para o Brasil, negros trouxeram sua cultura junto com sua mão de obra para trabalhar na lavouras de café, por isso essa prática predomina na região do vale do paraíba". Nas rodas de Jongo existe uma espécie de simbolização do espaço África, (que faz presente suas origens), através do discurso.

O Jongo foi trazido para Campinas no inicio dos anos 30, com a chegada a cidade de Benedito Ribeiro, que recebeu de seus pais a tradição do Jongo, e quando ele vem a falecer, o Jongo deixa de existir enquanto prática na cidade. Marshall Sahlins(1977), descreve cultura como a organização das experiências humanas através de símbolos, distinguindo cultura de matéria, nesse contexto o grupo de Jongo de Campinas ressurge como um fenômeno simbólico que não deixou de estar presente no inconsciente dos afrodescendentes.

CONCLUSÕES:

Através dessa experiência a cultura se mostra como ordenação simbólica, onde o fato de determinada ação deixar de existir em um espaço de tempo não significa que deixou de estar representada no interior dos grupos sociais, neste caso os negros, podendo voltar a estar presente nas relações deste grupo. O jongo esta simbolizando o passado no presente como estratégia de afirmar as raízes. A África aparece como um espaço exaltado pelos grupos. E o fenômeno sagrado não é isolado dessa prática.

A comunidade de Campinas é fruto desse processo, o fenômeno familiar esta muito presente e em geral os afrodescendentes são as lideranças dos grupos. Este grupo agrega um numero considerável de brancos em relação a outras comunidades, e são estes em sua maioria estudantes universitários, que segundo a liderança da comunidade, "podem até se sentirem jongueiros, mas não tem o pé na África, ou seja, não tem a mesma identificação que os indivíduos negros".

A identidade étnica ou etnicidades (Giralda Seyferth, 1997), é um tipo de identidade coletiva atribuída baseada numa cultura e história comuns, ou seja, dotada de identificadores formados por um sistema de símbolos étnicos que criam uma consciência coletiva.

O Jongo tem exercido um papel político - cultural na sociedade, tendo em vista que agregam uma luta para a reconstituição e preservação de um espaço de étnico, e acaba inserindo seus participantes no debate político referente a sua realidade.

Instituição de fomento: Pontificia Universidade Católica de Campinas - PUCC
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: identidade negra; cultura negra; jongo.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006