O consumo de produtos de origem natural vem aumentando ao longo dos anos, implicando na necessidade do desenvolvimento de pesquisas que amparem cientificamente a utilização de tais produtos, e garantindo também sua qualidade, segurança e eficácia. Plantas contendo compostos fenólicos vêm sendo amplamente utilizadas devido às variadas características farmacológicas atribuídas a este grupo de substâncias. Polifenóis são conhecidos por atuarem na captura e neutralização de espécies oxidantes, podendo assim, interferir nas reações de propagação e formação de radicais livres. Espécies oxidantes como as Espécies Reativas de Oxigênio (ERO), são caracterizadas por grande instabilidade, e por isso, elevada reatividade, sendo responsáveis por danos a compostos essenciais à integridade e função das células. A Uva-ursi (Arctostaphylos uva-ursi (L). Spreng), planta empregada tradicionalmente como anti-séptica e para o tratamento de infecções das vias urinárias, possui como um dos seus constituintes, os polifenóis. Para determinação da atividade antioxidante de compostos orgânicos dispõe-se de diversas metodologias, entre elas, o método baseado na redução do radical DPPH (radical 2,2-difenil-1-picrilhidrazil), que é um método rápido e sensível para detectar baixas concentrações de substâncias com atividade antioxidante.

O objetivo deste trabalho foi avaliar a atividade antioxidante de diferentes soluções hidroalcoólicas de Arctostaphylos uva-ursi (L). Spreng através de um planejamento fatorial 2³, verificando a influência da proporção droga/solvente, tempo de maceração e grau alcoólico do solvente.

Para o desenvolvimento e análise das soluções extrativas (SE) hidroetanólicas foi elaborado um plano experimental composto por 3 fatores em 2 níveis, resultando em 8 experimentos desenvolvidos em triplicata. Os parâmetros avaliados foram: A = proporção droga:solvente (1:20 e 1:10; p/V); B = teor alcoólico (70% e 90%) e C = tempo de maceração (4 e 8 dias). Foi incluído um experimento central (6 dias; 80%; 1:15). A avaliação da atividade antioxidante foi realizada através do método fotocolorimétrico do DPPH, que consiste na redução deste radical na presença de compostos doadores de hidrogênio, visualizada pela alteração da coloração, de violeta para amarelo, estabilizando-se. Foram preparadas quatro diferentes concentrações das soluções extrativas através da relação resíduo seco/volume (p/V). Estas soluções reagiram com DPPH 0,004 mg/% (p/V) e, após 30 minutos, à temperatura ambiente, procedeu-se à leitura em espectrofotômetro (517 nm). O percentual de inibição das soluções testadas sobre o radical DPPH foi calculado a partir da comparação com o grupo controle, tomando-se este como 100% de DPPH no meio de reação. Através da equação de reta, obtida da plotagem entre percentagem de DPPH em função da concentração da SE se obteve a IC₅₀, considerada como a concentração de SE necessária reduzir 50% de DPPH. Os dados experimentais foram processados empregando-se o programa Design-Expert, Versão 7.0.2. A análise da variância (ANOVA) foi realizada para a resposta, empregando uma probabilidade de erro p = 0,05. O ponto central foi adicionado no planejamento para aumentar os graus de liberdade, fornecer uma medida do erro experimental e para conferir estatisticamente a curvatura da resposta.

Os valores de atividade antioxidante (AA IC50%) limites foram de 7,81 μg/mL a 11,08 μg/mL, fornecendo uma razão de 1,42. A ANOVA, para o modelo fatorial selecionado, apresenta um valor de F = 7,31 indicando que o modelo é significante (p < 0,0001). Valores de Prob > F menor que 0,0500 indicam que os termos são significantes. Neste caso, B, AC, BC e ABC são termos significantes. Na análise da curvatura, o valor de F = 0,09 implica que esta não é significante, no campo de estudo analisado. A equação final do modelo apresentada para os fatores analisados foi: Y = 9,38 + 0,37B + 0,37AC – 0,22BC – 0,45ABC. Observa-se que o único fator significante isolado é o B. Entretanto, como ele está envolvido em uma ou mais interações, não poderá ser analisado individualmente. Analisando a interação AC verifica-se que a resposta aumenta se os dois fatores forem utilizados no nível máximo. Já, na interação BC, observa-se que a resposta será máxima (10,18 μg/mL) se o tempo de maceração estiver no nível inferior e o teor alcoólico no nível superior. No entanto, em se tratando de uma análise indireta, quanto menor for a resposta, maior é a atividade propriamente dita da SE. Além disso, a interação ABC foi significativa, indicando que os três fatores devem ser analisados conjuntamente. Assim, a melhor resposta ocorre quando A (+), B (-) e C (-) resultando em 8,11 ± 0,29 µg/mL. Nestas condições, o resíduo seco (RS) é 3,08 (g%; p/p), sendo que o máximo em RS é obtido com A (+), B (+) e C (-).

O planejamento estatístico (fatorial 2³) constitui uma importante ferramenta, uma vez que possibilita a interpretação concomitante de resultados, considerando todos os parâmetros experimentais propostos em um mínimo de experimentos. A partir da análise concluiu-se que a Uva-ursi possui uma significativa atividade antioxidante. Foi possível verificar a presença de interação entre os fatores, bem como a existência de curvatura para o método, no campo de experimentação estudado. Com base nos resultados obtidos verifica-se que todas as variáveis estudadas, seja como fator isolado ou participando de interações, exercem influência sobre a atividade antioxidante das SE de Arctostaphylos uva-ursi (L). Spreng. Para predizer a melhor preparação extrativa, todas as variáveis devem ser analisadas de forma concomitante e não isoladamente. Dessa forma, pode-se concluir que, a partir do planejamento fatorial utilizado e no campo experimental estudado, a SE obtida com a proporção droga:solvente igual a 1:10, teor alcoólico de 70% e 4 dias de maceração (A+/B-/C-) apresentou um máximo de atividade antioxidante. A existência de linearidade entre as variáveis pode ser verificada pela ausência de significância na análise da curvatura.