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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 11. Ensino-Aprendizagem
AÇÃO PEDAGÓGICA E ESTRUTURAS FORMAIS: ENSINO MÉDIO E O PENSAMENTO HIPOTÉTICO-DEDUTIVO
Maria Elisa Schuck Medeiros 1
Fernando Becker 1
(1. Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
INTRODUÇÃO:
Verifica-se, na adolescência, uma expansão das possibilidades do sujeito. Ao se deparar com um problema o adolescente é capaz de pensar em diversas soluções para o mesmo. Ele pode organizar os dados da realidade em proposições que podem ser combinadas de várias formas: disjunções, exclusões e implicações. Essas combinações assumem as características de hipóteses. Propusemo-nos, nesta pesquisa, refletir e analisar essa fase do desenvolvimento: o pensamento formal. Dessa forma, estaremos refletindo sobre o desenvolvimento hipotético-dedutivo em estudantes do Ensino Médio. Acreditamos na possibilidade desse processo acontecer dentro da sala de aula, uma vez que vigora, em nosso país, uma lei (LDB) que nos remete para o desenvolvimento da inteligência. Ora, não podemos pensar o desenvolvimento da inteligência desvinculado da construção de estruturas mentais. Por isso, o objetivo geral desta pesquisa é desvelar a ação pedagógica do professor, para verificar se ele compreende o processo de desenvolvimento cognitivo do adolescente como construção das estruturas formais que acontecem através da ação do sujeito, em interação com o meio; observando-se, por isso, o desdobramento desta interação em sala de aula. A partir da análise dos processos vigentes nas salas de aulas, buscamos possíveis avanços ou limitações referentes às ações que primam pelo desenvolvimento das estruturas cognitivas do adolescente, contribuindo, assim, com o trabalho pedagógico escolar no Ensino Médio.
METODOLOGIA:
O estudo foi desenvolvido com base na Epistemologia Genética de Jean Piaget e de autores seguidores dessa teoria, dentre eles, Becker (2000), Parra (1983), Delval (1998), La Taille (2001), Furth (1997). Utilizamos também algumas obras de Paulo Freire. A pesquisa, de cunho qualitativo, foi realizada numa escola particular, localizada no município de Canoas/RS. Para analisar as ações em sala de aula foi necessário realizar um mapeamento da realidade do ensino médio. Buscou-se, então, observar as ações contempladas em sala de aula e aplicar a entrevista semi-estruturada. Foram sujeitos desta pesquisa alunos de 2ª e 3ª série do ensino médio, professores de Matemática e Língua Portuguesa destas séries e a supervisora escolar. Também foi feita análise do Projeto Pedagógico da escola. Para análise dos dados extraídos das entrevistas e das observações realizadas, utilizamos a técnica de análise de conteúdo apresentada por Bardin. O processo de análise de conteúdo apresenta três etapas: pré-análise; exploração do material e tratamento dos resultados; inferência e interpretação. Na fase de exploração do material estabelecemos as categorias de análise.
RESULTADOS:
A partir do material coletado estabelecemos quatro categorias de análise. Na primeira categoria de análise verificamos que a prática pedagógica dos professores está fundamentada em duas concepções epistemológicas: empirista e apriorista. A pedagogia e a didática fundamentada nessas concepções não propõe ao aluno ações providas de significado. A sala de aula carece de ações que possibilitam o enfrentamento da incerteza, a resolução de conflitos. Na segunda categoria, fizemos uma análise sobre os questionamentos realizados pelos alunos em sala de aula. Pensando numa escola que visa ao desenvolvimento do pensamento formal, a pergunta tem um valor relevante. Através da pergunta, desencadeia-se o levantamento de hipóteses e as conseqüentes deduções. A pergunta implica ação e transformação. Entretanto encontramos, no ensino médio, uma sala de aula onde as perguntas não são expressadas pelos alunos. Os professores perguntam, mas são perguntas que não desafiam o aluno a pensar e, sim, repetir o conteúdo. Na terceira categoria analisamos o problema da indisciplina. Fizemos uma relação da indisciplina como um problema moral e não apenas como falta de limites. Naquelas salas de aulas o diálogo não acontece, pois não há espaço para conversar sobre as práticas escolares. Na quarta categoria, vimos que a maioria das ações, propostas pelos professores, eram desprovidas de significado para o aluno, gerando desinteresse pelo estudo, a não realização das atividades propostas e a indisciplina.
CONCLUSÕES:
Podemos afirmar que a ação pedagógica desenvolvida no ensino médio não visa o desenvolvimento da inteligência, desconsiderando as possibilidades de raciocínio do adolescente. Dessa forma, esta ação pedagógica não está contribuindo para que o aluno seja capaz do pensamento formal. Não está contribuindo, por essa razão, para melhorar a capacidade de raciocínio hipotético-dedutivo de seus estudantes. Acreditamos que esta pesquisa atingiu seu objetivo principal, pois possibilitou desvelar os processos presentes na sala de aula, revelando a predominância de concepções epistemológicas, empiristas e aprioristas. Os professores não compreendem o processo de desenvolvimento cognitivo do adolescente como uma construção que acontece por força da ação do sujeito, em interação com o meio físico e social. Conseqüentemente, sua didática não é adequada, tampouco eficiente. Urge, portanto, repensar a formação de professores, onde o estudo sobre o pensamento do adolescente, fundamentado numa concepção epistemológica interacionista, precisa ser contemplado. Se os professores que trabalham com adolescentes desconhecem as características próprias desta fase, é compreensível que não proporcionem atividades para os alunos de acordo com tais características (levantamento de hipóteses, criação de teoria, resolução de problemas, trabalho em grupo, etc.) mas, ao contrário, se compreendessem, poderiam, propor ações favoráveis para o desenvolvimento cognitivo.
 
Palavras-chave: Pensamento do adolescente ; Ação pedagógica do professor ; Concepções epistemológicas.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006