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C. Ciências Biológicas - 11. Morfologia - 5. Histologia
AVALIAÇÃO HISTOPATOLÓGICA DA EXPOSIÇÃO POR MICROCISTINA-LR EM Hypophthalmichthys molitrix.
Rhaul De Oliveira 2
Verônica Morais Aurélio Da Silva  1
Maria Fernanda Nince Ferreira  2
Osmindo Rodrigues Pires Júnior  1
(1. Departamento de Ciências Fisiológicas, Universidade de Brasília, IB / CFS; 2. Departamento de Genética e Morfologia, Universidade de Brasília, IB / GEM)
INTRODUÇÃO:

O alimento advindo de sistemas aquáticos é cada vez mais importante. No entanto, a atividade antropogênica intensa nas bacias hidrográficas compromete a qualidade dos recursos hídricos, principalmente no que se refere a eutrofização. Dentre os inúmeros problemas causados destacam-se florações de cianobactérias (Ruangyuttikarn et al., 2004). Estas são relacionadas à produção de cianotoxinas, que tem uma ação tóxica direta e podem ser acumuladas na cadeia trófica, ocasionando diferentes sintomas de intoxicação e efeitos crônicos, muitas vezes difíceis de serem diagnosticados (Carmichael & Falconer, 1993). Estudos realizados com espécies de peixes evidenciam a ocorrência de bioacumulação de cianotoxina em seus órgãos e tecidos. Cianobactérias tóxicas são, então, associadas a danos à saúde humana e animal pelo consumo de água e/ou alimentos contaminados. Em ensaios biológicos avalia-se o efeito da contaminação por cianotoxinas e acompanham-se as alterações histopatológicas em órgãos e tecidos. As análises histopatológicas permitem aprimorar o diagnóstico e melhor avaliar o comprometimento do estado de saúde dos indivíduos. Desta forma este trabalho teve como objetivo avaliar, por meio da análise histológica de microscopia óptica, os efeitos da exposição por microcistina-LR proveniente de Microcystis aeruginosa no fígado da espécie de peixe Hypophthalmichthys molitrix.

METODOLOGIA:

O ensaio biológico consistiu da exposição de 60 indivíduos divididos em dois aquários de 84 litros termostatizados a 25°C e oxigenados por bombas submersas. O aquário controle continha água livre de toxinas, já o de exposição recebeu 840 ml de cultura contendo colônias de M. aeruginosa, para obter uma concentração final aproximada de 105 células, sendo feita a renovação a cada 05 dias. Num prazo também de 05 dias de exposição, eram sacrificados 02 indivíduos, após injeção intracerebroventricular de 01ml de lidocaína 2%, durante um período de 15 dias. O fígado retirado nas dissecações foi processado segundo técnica de rotina para análise histopatológica em microscopia de luz. Ao final da exposição, os indivíduos foram removidos para outro aquário sem células de M. aeruginosa, a fim de acompanhar a recuperação das lesões. Após 17 dias, 02 destes indivíduos foram sacrificados e o fígado retirado para análise. A preparação histológica feita imediatamente após a extração consistiu de fixação com Formol 10% tamponado, num período máximo de 24 horas, seguida da desidratação em bateria de concentração crescente de álcool e diafanização em Xilol. O material foi incluso em Parafina histológica. Cortes de espessura entre 03 e 05 micrômetros foram obtidos e corados pela técnica da Hematoxilina e Eosina (HE) para melhor observar o efeito sub-letal da toxina. As lâminas foram examinadas em microscópio de luz e fotografadas por câmara digital acoplada. O sistema de captura de imagens foi o Scopephoto Express-4.0.

RESULTADOS:
A estrutura normal foi descrita através do grupo controle. O fígado, sem definição de lóbulos, apresentou hepatócitos com núcleo único, central, esférico e nucléolo periférico, no citoplasma havia grandes quantidades de glicogênio. Em meio aos hepatócitos, capilares sinusóides desembocavam na veia central. Os ductos biliares possuíam epitélio cilíndrico com borda em escova, tecido conjuntivo e musculatura lisa. Após 05 dias de exposição notou-se necrose na borda externa do órgão e perda da aderência dos hepatócitos. Pontos hemorrágicos foram observados ao longo dos sinusóides já dilatados e demais vasos. As hemácias tinham forma irregular. Os ductos biliares apresentaram musculatura lisa com fibras espaçadas e núcleo pinocítico e epitélio de revestimento com núcleos anômalos e sem borda em escova. Após 10 dias, evidenciou-se grande número de melano-macrófagos e granulócitos. Os sinusóides muito dilatados deformaram as veias centrais. Muitos hepatócitos em apoptose apresentaram vacuolização e núcleos rompidos. Veias e arteríolas estavam hemorrágicas. Os ductos biliares apresentaram danos agravados. Após 15 dias de exposição o parênquima tornou-se um maciço de células necrosadas. Os peixes transferidos para água livre de toxinas apresentaram, no geral, aspecto melhorado evidenciado por uma coloração mais intensa das células e fibras. No entanto, lesões graves como hemorragia e necrose ainda estavam evidentes e os vasos sanguíneos apresentaram-se congestionados.
CONCLUSÕES:
Os resultados refletem os danos estruturais ocasionados pela exposição a microcistina-LR em Hypophthalmichthys molitrix. Dentre os efeitos histopatológicas ocasionados no fígado destaca-se a necrose progressiva, perda de aderência celular e danos às fibras musculares. Conseqüentemente há desestruturação de vasos e do parênquima hepático, uma vez que os tubos (placas) de hepatócitos intercalam-se aos sinusódes estruturando-os. Estas lesões ocasionam o mau funcionamento do órgão, sendo considerada a principal causa de mortalidade. Os processos degenerativos resultantes da exposição podem ser revertidos parcialmente com a retirada da toxina sendo evidenciados por processos regenerativos. A partir destes dados podem ser feitas comparações com outras espécies de peixe, anfíbios e mamíferos na tentativa de estabelecer um padrão de lesões a ser utilizado em caso de diagnóstico.
Instituição de fomento: Ministério da Saúde-Programa Brasil Afroatitude
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: histopatologica; microcistina-LR; Hypophthalmichthys molitrix.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006