Este trabalho analisou os códigos de identidade cultural gerados pelo poder institucional local – Governo do Estado do Amapá, através de suas produções videográficas televisivas, a fim de discutir a imagem identitária oficial da sociedade amapaense veiculada e seus reflexos políticos e culturais. A partir desta análise pretendeu-se compreender que identidade oficialmente se pretender atribuir à sociedade amapaense. Refletir sobre as relações de força presentes no campo ideológico de estruturação de imagens institucionalizadas e sua utilização para a construção e manutenção de uma identidade como símbolo de um poder invisível, mas tão presente quanto o poder físico. Além disso, coube também investigar, como diz Jean Baudrillard, as “alteridades secretas” reveladas nas identidades culturais locais que ao se diferenciarem e contraporem a imagem oficial criam um hiato entre a aparência, construída pela imagem oficial, e a manifestações culturais locais que expressam a realidade cotidiana, aspirações e necessidade especificas de cada grupo social. Estudar as propagandas videográficas governamentais foi uma escolha pontual pelo seu caráter massivo, espetacular e sedutor na medida em que se propõe a produzir imagens que fornecem uma identidade ao povo. Como se o poder institucionalizado inventasse um espelho com as imagens que ele quer que a população veja. Arranhar esse espelho é transparecer o político e suas intenções, é criar outros pontos de fuga, ou quem sabe outras ilusões identitárias, que por serem transparentes e frágeis admitem outras agitações no âmago da cultura local.

Com a realização da pesquisa pode-se perceber que o poder público empenha esforço político que tenciona para a homogeneização do referencial cultural identitário da população, negligenciando a diversidade dos referenciais locais e a divergência entre a proposta oficial e a expressões dos diversos grupos. Esse esforço político acontece para tentar administrar e manipular a diversidade e a alteridade a que deveriam estar sujeitas as instituições públicas, ou seja, o próprio governo. Assim as representações oficiais do Amapá tendem para realizações imagéticas ditas “tradicionais” que colaboram para a manutenção de uma ideologia burguesa. São representações de pessoas, paisagens e lugares que prezam pelo bucolismo romântico e estereótipos da ordem do pitoresco que mostram tanta paz e tranqüilidade que passa despercebido os mecanismos de controle e o esforço do governo para manter sobre suas rédeas uma população diversa, com necessidades e interesses políticos específicos. Além disso, na construção dessa imagem, desconsidera-se o fato de que a cultura, geradora dos referencias de identidade, tem um espaço autônomo na estrutura social que representa o fazer cotidiano das relações políticas, econômicas e sociais de cada classe e grupo. As várias identidades culturais reais e politicamente contraditórias são, assim, substituídas pela mensagem oficial sobre a sociedade.

Ao veicular determinadas mensagens videográficas na televisão o governo do estado do Amapá cria códigos que negligenciam as múltiplas identidades culturais do estado por não valorizá-las ou mesmo, por não reconhecê-las. O governo do estado do Amapá uniformiza, dessa forma, a identidade cultural amapaense e essa uniformização da identidade cultural local é uma maneira de “poupar” esforços para a promoção de políticas públicas voltadas às múltiplas identidades que traduzem condições de vida e necessidades específicas. O confronto da imagem institucional com produções videográficas independentes promove a percepção de outros aspectos identitários e culturais locais negligenciados pelo poder público e laçam uma alternativa de produção videográfica independente capaz de promover a reflexão sobre a cidadania.