IMPRIMIR VOLTAR
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 12. Psicologia
INTERAÇÕES SEXUAIS NO ORKUT
Carlos Eduardo Menezes Amaral 2
Alexandre Kerr Pontes 2
Jorge José Maciel Melo 2
Paulo Henrique de Assis 2
Rômulo Frota da Justa Coelho 2
Veriana de Fátima Rodrigues Colaço 1
(1. Prof. Dra. do departamento de psicologia da Universidade Federal do Ceará / ; 2. Estudantes da graduação do departamento de psicologia da Universidade Federa)
INTRODUÇÃO:
A presente pesquisa foi realizada durante as disciplinas de Pesquisa em Psicologia I e II do Curso de Psicologia da Universidade Federal do Ceará, no período de março de 2005 a fevereiro de 2006. Partiu do interesse sobre a temática da pornografia virtual, em especial, a veiculada no site de relacionamento orkut (www.orkut.com). O decorrer da pesquisa fez com que seu objeto fosse reformulado, mudando o foco do estudo da categoria pornografia (previamente definida) para a investigação do que foi chamado de interações sexuais, ou seja, diversas maneiras de articular elementos pictóricos ou lingüísticos à problemática do sexo. Assim, a pesquisa estava livre para mapear interações que se afirmassem pornográficas, pedófilas, humorísticas, educativas, morais, etc., desde que apresentassem de alguma forma o elemento sexual em suas composições. Tal mapeamento constituiu o objetivo geral da pesquisa e abrangeu as seguintes temáticas: a construção de perfis e comunidades virtuais através de agenciamentos; as categorias “verdadeiro” e “falso” surgidas no orkut; a formação de “grupos de interesse” sexuais; a relação das interações sexuais com a exterioridade do orkut; e as estratégias de controle das interações sexuais. A relevância da presente pesquisa está na atualidade do tema do ciberespaço e dos sites de relacionamento pessoal, que estão ganhando evidência na sociedade brasileira como se observa no orkut, possuidor de massiva participação de usuários brasileiros.
METODOLOGIA:
A pesquisa requereu uma rigorosa descrição do funcionamento do orkut, mostrando os detalhes das possibilidades de construção de perfis e comunidades, dos quadros de amizade, bem como das vias não oficiais de impedimento e eliminação de usuários. Estando ligados ao site como usuários comuns, os pesquisadores dispunham de todos os meios de busca e navegação ordinários, acessando o site como qualquer outro participante poderia fazer. Foram pesquisados perfis e comunidades que de alguma forma estabelecessem uma relação com o sexo em geral em sua constituição – fosse através da veiculação de conteúdos sexuais, fosse por entrar em relação com outros perfis ou comunidades que os veiculassem. Foram construídos diários de campo, onde os achados eram datados e anotados, de forma que era possível acessá-los posteriormente, para constatar modificações. Discursos e imagens foram selecionados quando especificavam certa configuração momentaneamente regular do sexo, não podendo nunca ser admitidos como representativos de toda a variedade encontrada. A compreensão do campo extremamente heterogêneo e mutante do orkut, bem como a busca pela construção de “mapas” que delineassem as práticas atuantes no site, esteve embasada no conceito de rizoma (da obra Mil Platôs (1995) retirar) de Deleuze e Guattari.
RESULTADOS:
A construção de perfis/comunidades virtuais no orkut é realizada de acordo com campos como “descrição”, “álbum de fotos”, “recados”, “amigos”, “comunidades”, etc. Daí são possíveis as mais diferentes construções, evidenciando uma verdadeira estética das visibilidades que condiciona a entrada do perfil na rede, a partir dos elementos que sua imagem veicule com alguma prioridade – como é o caso do sexo. A possibilidade de dissimular informações sobre si e expor fotos não condizentes leva os usuários a criar formas de verificação das informações (webcams, MSN, etc), diferenciando perfis “falsos” de “verdadeiros”. As preferências sexuais expressadas dão origem a alianças entre perfis, compondo grupos de interesses que ganham relativa homogeneidade (grupos de travestis, crossdressers, casais, gays, pedofilia, combate à pornografia, etc). As relações travadas não se restringem ao âmbito virtual do orkut e freqüentemente são estendidas para um fora que ao mesmo tempo constitui o próprio orkut: não raro são os convites a sexo virtual, encontros “reais”, e-mails, etc. A pluralidade de formações sexuais admitida no orkut sofre também tentativas de controle por parte dos próprios usuários, quer para manter longe certas visibilidades, deixando regras de adição no corpo dos perfis e comunidades (primado da adição seletiva), quer para congregar grupos de combate a visibilidades não conformes às regras do orkut ou às expectativas dos usuários (primado da exclusão seletiva).
CONCLUSÕES:
Apesar da imensa variedade de exposições do sexo possibilitada pelo caráter dinâmico do orkut, encontram-se ainda algumas regularidades, ainda que fugazes, que constituem uma estética sexual coletiva. Interesses semelhantes congregam-se, dando ao recém formado “grupo” novas possibilidades de desenvolvimento, assim como uma maior visibilidade que atrai tanto aliados como antagonistas. É no encontro desses dois grupos (aliados e antagonistas) que se constroem novos enunciados acerca do sexo e, com isso, novas regras para o sexo e novos sexos. Ao contrário do que se poderia especular, a Internet não é uma “terra sem lei”. O que existe é uma descentralização que possibilita o surgimento de diversos legisladores, além da suposta “instância oficial” de controle (no caso a Google, empresa dona do orkut). São esses dois mecanismos básicos: a construção estética de perfis e comunidades pelos usuários e as estratégias marginais de regulação, que, colocados em prática, determinam o fluxo das interações sexuais. “Quem você conhece?”. A pergunta, estampada logo na página inicial do orkut, parece apontar para um universo impossível de ser totalizado, onde alianças, invenções e confrontos estabelecem as possibilidades de acessibilidade e expressão da sexualidade virtual. Usando o conceito de Lévy, dir-se-ia que a virtualização do sexo assumiu o estado de “campo problemático”, onde as práticas se desenrolam sem prestar nenhuma referência a qualquer significação que se queira dominante.
Instituição de fomento: Secretaria do Ensino Superior - SeSu
 
Palavras-chave: psicologia do ciberespaço; sexo; pornografia.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006