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H. Artes, Letras e Lingüística - 5. Semiótica - 1. Semiótica
A contribuição de elementos extratextuais para a traduzibilidade da Bhagavad-Gita analizada segundo o parâmetro "Obra" de Peeter Torop
Rodrigo Gomes Ferreira 1, 2
(1. Universidade Federal de Santa Catarina / UFSC; 2. Pós-Graduação em Estudos da Tradução / PGET)
INTRODUÇÃO:
Análise dos recursos físicos e paratextuais de uma tradução do texto indiano Bhagavad-Gita. Utilizou-se a abordagem teórica de Peeter Torop da escola semiótica de Tartu com sua definição de traduzibilidade e, mais especificamente, o parâmetro Obra, que tematiza a complementariedade dos recursos extratextuais com o texto da tradução em si, seus pressupostos e possíveis reações dos leitores. Concluiu-se que o uso dos paratextos como introdução, glossário, notas e a configuração física da edição influenciam de forma positiva a traduzibilidade. Verificou-se também que esses elementos direcionaram a leitura para um texto exótico, de caráter religioso, espiritual e simbólico.
METODOLOGIA:
A obra analisada foi a edição da Bhagavad-Gita com tradução do sânscrito para o inglês de Swami Nikhilananda, publicada primeiramente em 1944. A escolha desta obra se deu principalmente pela presença de quase todos os tipos de paratextos possíveis. A análise dividiu-se em quatro tópicos: 1) capa e características materiais; 2) título; 3) prefácio, guia de transliteração, sumário, introdução e glossário; e 4) notas de tradução.
RESULTADOS:
A capa e as características materiais, denotam um livro que durará muito tempo; foi produzido de maneira a dar a aparência de um livro sério e não para ser lido como entretenimento para ser depois descartado. O título mostra indícios de uma associação com os livros da Bíblia cristã, o que pode ter sido uma tentativa de facilitar a leitura dentro de um público alvo predominantemente cristão. O prefácio, o guia de transliteração, o sumário, a introdução e o glossário indicam pressupostos da tradução e direcionam para a leitura de um texto espiritual, sagrado para uma religião (hinduísmo), antigo, exótico e cheio de simbologias. Percebe-se uma tentativa do tradutor de levar o leitor até o ambiente original da obra (estrangeirizar), para um texto estranho à sua cultura. As notas de tradução encontradas (140), classificadas numa taxionomia simples ad hoc, foram as seguintes (porcentagens aproximadas): 14% de esclarecimentos sobre pronomes, antonomásticos e a quais personagens se referiam, bem como suas traduções, quando eram mantidos em sânscrito; 85% foram explicações sobre termos mantidos em sânscrito, porém relacionados à aspectos culturais, religiosos e filosóficos abordados, principalmente do hinduísmo; 1% remetia ao glossário da tradução e comentava sobre um verso que não faz parte da edição crítica.
CONCLUSÕES:
O caso da Bhagavad-Gita, por se tratar de um texto com grande distância - entre original e tradução - temporal, linguística, cultural e midiática - oral para escrita -, oferece um cenário rico para o estudo da tradução, principalmente pelo fato das dificuldades tradutórias normalmente encontradas aparecerem de maneira magnificada. No caso do livro analisado, percebe-se que a presença de paratextos aumentam as chances de tradução bem sucedida da Bhagavad-Gita por ajudarem a resgatar possíveis perdas devido a tanta distância entre os dois textos. Sob outro aspecto, também percebe-se como esses mesmos elementos podem influenciar na leitura do texto, neste exemplo, voltando o leitor para algo exótico no que se refere à religiosidade, à espiritualidade e ao simbolismo. Na Bhagavad-Gita, há termos conceituais que, provavelmente, não fazem parte do universo textual do público fora da Índia, ou seja, há problemas de traduzibilidade que ultrapassam as dificuldades das línguas (sânscrito e inglês). Esses conceitos facilmente se anulariam com estratégias simples, como a tradução dos termos em sânscrito por outros em outro idioma, sem qualquer aparato paratextual, como as notas de tradução. Tais termos são, principalmente, conceitos precisos sobre questões metafísicas. S. Nikhilananda, por deixar estes termos em sânscrito, adota a estratégia de usar notas, glossários e glosas introdutórias.
 
Palavras-chave: tradução; paratexto; cultura.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006