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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 5. Psicologia da Saúde
Análise da adesão ao tratamento em adultos portadores de diabetes: relato de uma experiência realizada com grupos em sala de espera em um hospital universitário
João Paulo dos Santos Nobre 1
Débora da Silva Bezerra  1
Flávia Priscila da silva Brasil  1
Marléia Pereira Ferreira 1
Eleonora Arnaud Pereira Ferreira  1
(1. Universidade Federal do Pará/UFPA)
INTRODUÇÃO:

O diabetes tem chamado a atenção de estudiosos na área de psicologia da saúde, especialmente em virtude da complexa demanda por mudanças no estilo de vida do paciente, exigindo um tratamento que deverá ser executado durante toda a vida. Diversos estudos têm destacado a importância de programas educacionais nos quais os participantes são orientados sobre a doença e seu tratamento como recurso para melhorar a adesão. O Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza – UFPA possui um programa multiprofissional de apoio ao portador de diabetes. O Serviço de Psicologia deste programa realiza atividades com o objetivo de promover comportamentos de adesão ao tratamento dos pacientes por meio de intervenções grupais, buscando auxiliá-los na aquisição e manutenção de comportamentos que promovam o controle da doença. Este estudo apresenta os resultados obtidos com a realização de grupos em sala de espera realizados com o objetivo de caracterizar o entendimento que os participantes tinham sobre diabetes, identificando quais as recomendações para o tratamento apontadas como as de maior e de menor adesão pelos pacientes. Neste contexto, procurou-se identificar as principais dificuldades que estes pacientes encontram no seguimento do tratamento, tendo como base princípios estabelecidos pelas ciências do comportamento para a educação em saúde, com destaque para os benefícios já consagrados na realização de atividades em grupo.

METODOLOGIA:

PROCEDIMENTO

Os pacientes eram abordados em sala de espera e convidados a participar de um grupo educativo em uma das salas de aula do hospital. As atividades do grupo consistiam em: (a) apresentação dos objetivos e obtenção do consentimento dos participantes; (b) aplicação de um teste de conhecimentos sobre diabetes (Teste 1), consistindo em dez sentenças, apresentadas em data-show, para as quais os participantes deveriam atribuir CERTO ou ERRADO de acordo com o seu entendimento; (c) exposição dialogada sobre controle do diabetes, com o auxílio de álbuns seriados e com a realização de dinâmicas de grupo direcionadas à análise de contingências facilitadoras ou opositoras da adesão ao tratamento, finalizando com (d) aplicação de um segundo teste (Teste 2) visando a investigação da adesão ao tratamento por meio do relato de cada participante sobre o seguimento das instruções do tratamento. As sentenças que compunham o teste de conhecimentos foram selecionadas mediante o levantamento das principais dúvidas apresentadas pelos pacientes durante as consultas, de acordo com estudos anteriores. Todas as sentenças apresentadas no Teste 1 eram discutidas e esclarecidas com os participantes durante a correção do teste.

 

 

SUJEITOS

Participaram deste estudo 97 adultos inscritos no programa de atenção ao portador de diabetes do HUBFS, sendo 45 mulheres e 52 homens, com tempo de diagnóstico entre um a vinte anos, sendo a maioria de baixa escolaridade e renda familiar.

RESULTADOS:
Foram analisados os resultados obtidos com a realização de vinte grupos em sala de espera, com a participação de 97 pacientes dos quais 39 responderam somente ao Teste de conhecimentos (Teste 1) e 58 responderam tanto ao Teste de conhecimentos quanto ao Teste sobre a adesão ao tratamento (Teste 2). Os resultados obtidos com o Teste 1 (n=97), estão descritos em valores percentuais de acordo com as respostas corretas atribuídas pelos participantes a cada uma das sentenças. Os maiores percentuais de acertos foram obtidos nas sentenças: “Ao fazer atividades físicas devo usar roupas e sapatos confortáveis”, 100%; “O diabetes não é uma doença contagiosa”, 89%; e “Mesmo que eu não tenha feito meu tratamento corretamente, devo informar ao médico”, 85%. As sentenças com os mais baixos índices de acertos foram: “Não posso comer açúcar nunca mais”, 25%; “Se não estou sentindo nenhum sintoma, é sinal de que meu diabetes está controlado”, 12,5%, e “Quem é diabético não pode sentir emoções muito fortes”, 0%. Os resultados obtidos com o Teste 2 (n=58), apontam que as principais dificuldades para a adesão ao tratamento apresentadas por 67% dos participantes foram: “Seguir a dieta recomendada”, 41%; “Adquirir e utilizar corretamente os medicamentos”, 13%; e “Praticar atividades físicas regularmente”, 13%. Os demais (33%) responderam que: “Não consigo seguir nenhuma recomendação”, 8%, ou “Não tenho dificuldades para seguir o meu tratamento”, 25%.
CONCLUSÕES:
A maioria dos participantes estava consciente da importância de relatar ao profissional suas dificuldades em aderir ao tratamento. Observou-se que a maior dificuldade estava em aderir às recomendações nutricionais, confirmando a literatura. Neste quesito, observou-se nos relatos referência à falta de apoio da família no planejamento da dieta, indicando a necessidade de incluir os familiares no programa. Observou-se também que a maioria dos pacientes associa a ausência de sintomas ao controle do diabetes, indicando necessidade da equipe multiprofissional dispor com mais freqüência informações sobre a necessidade de manutenção do tratamento, mesmo na ausência de sintomas, especialmente no caso de portadores de diabetes Tipo 2, como era o caso da maioria dos participantes. Foi também identificado que os participantes reconhecem o diabetes como uma doença crônica, não contagiosa, mas não apresentam um bom entendimento sobre a presença de açúcar nos alimentos em geral, identificando como necessário ao tratamento apenas a restrição ao consumo de açúcar refinado. Identificou-se também a crença de que portador de diabetes não pode sentir emoções muito fortes, sugerindo a necessidade do programa investir em procedimentos de orientação sobre controle do estresse e treino em assertividade como recurso para o controle do diabetes. Os testes aplicados, portanto, foram instrumentos importantes na avaliação da adesão ao tratamento possibilitando a formulação de estratégias de intervenção.
Instituição de fomento: Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza/Pró-Reitoria de Extensão
 
Palavras-chave: diabetes; adesão ao tratamento; grupo em sala de espera.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006