IMPRIMIR VOLTAR
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Documentação e Informação Científica - 1. Documentação e Informação Científica
JOVENS E VIOLÊNCIA: UMA REPRESENTAÇÃO INFORMACIONAL E COMUNICACIONAL
Ana Amélia Lage Martins  1
Regina Maria Marteleto 1
Adriana Lara 2
Gustavo Silva Saldanha 1
João Paulo Ferreira Barbosa 1
Sinésio Jefferson Andrade Silva  3
(1. Escola de Ciência da Informação/ECI-UFMG; 2. Pontifícia Universidade Católica/PUC-MG; 3. Instituto de Filosofia e Ciências Sociais/IFCS-UFRJ)
INTRODUÇÃO:

Identifica-se hoje um grande volume informacional que circula por diversos canais de comunicação envolvendo o jovem que reside em periferias urbanas e vive dentro de um contexto de violência. Este quadro chamou a atenção do grupo de pesquisa Antropologia da Informação, que tem por escopo de investigação a informação a partir de um olhar multidisciplinar, buscando apreendê-la em suas circunstâncias de produção, comunicação e recepção no convívio social.

Diante de uma situação que pré-determina os jovens como violentos, tanto em seu caráter jurídico como midiático, percebe-se a sedimentação da relação jovem/violência no imaginário social. No plano jurídico, desde a primeira tentativa de abordar o jovem na legislação penal, este grupo já era ligado à periculosidade. No foco da mídia, o jovem é presença diária nos noticiários criminais, ganhando, desta maneira, o caráter de indivíduo veiculado a grupos violentos.

Neste sentido, o presente projeto se propõe a realizar uma leitura informacional do universo dos jovens através da construção coletiva de conhecimentos que permita a expressão de vozes sobre as condições de violência física e simbólica vivenciada por eles. O objetivo deste trabalho é a elaboração compartilhada de uma série de fanzines denominada “Fanzine da Violência”. As observações das oficinas de construção deste experimento de informação, desenvolvido com jovens ligados a projetos sócio-culturais de Belo Horizonte, são aqui apresentadas. 

 

METODOLOGIA:

 

Uma ampla pesquisa foi realizada sobre os aspectos científicos, políticos e sócio-culturais da violência em relação aos jovens, sua representação e expressão na mídia, na academia, e no Estado.

O campo empírico da investigação foi a ONG Associação Imagem Comunitária-AIC de Belo Horizonte que trabalha os princípios da comunicação comunitária com rede de jovens de periferia da capital mineira. Esta organização busca a apropriação das mídias pelos jovens, expressando seus universos e identidades.

Esta pesquisa contou com os seguintes percursos metodológicos. Inicialmente analisou-se uma amostra documental produzida pela entidade (jornais, boletins, webzines, programas de tv) a fim de identificar os assuntos recorrentes na fala do jovem e a expressão do seu universo informativo. Em seguida, foram realizadas oficinas de leitura (com dinâmicas de grupo), nas quais buscou-se avaliar os modos de apropriação simbólica e material de diferentes mídias, investigar histórias, personagens e relatos sobre a representação e a vivência da violência, procurando enquadrar o ângulo informacional da questão.

Procurou-se observar nas oficinas as narrativas dos jovens para situar suas representações sobre as formas de violência. Paralelamente, o processo de criação coletiva de mídias pela ONG foi acompanhado, assim como as atividades de educação midiática do grupo em escolas públicas, de modo a apreender o processo de construção compartilhada de instrumentos de comunicação.

 

RESULTADOS:

O formato fanzine foi apontado pelos jovens como um importante veículo de expressão da cultura dos mesmos, por ser um meio de comunicação que permite a liberdade para experimentação de novas linguagens e ousadias conceituais, tratando temas e questões de interesse popular.

O discurso da mídia sobre a violência envolvendo jovens tende muitas vezes a tratar o tema como sucessão de fatos isolados sem a contextualização do problema. Esta relação jovem e violência é abordada pela mídia de forma enfática, resultando, assim, em uma midiatização da questão, terminando por propagar informações com capacidade de promover uma construção de sentido compartilhada pelo público e ampliada no convívio social.

Os jovens, porém, afirmam suas identidades e transcendem os rótulos impostos, produzindo mídias que abordam temas diversificados. Nas oficinas, diversas vozes mostraram suas representações sobre violência. Para os jovens, a violência apareceu naturalizada através de referências a casos de abuso e violência física, desvinculados de seu significado de agressão e violação de normas de conduta sociais e respeito ao próximo. A violência simbólica, por sua vez, explicitou-se através da citação recorrente dos jovens à censura de que são vítimas, ligada à falta de espaços públicos para expressarem suas opiniões e suas manifestações culturais, além do preconceito quanto ao jovem urbano, notado no entendimento de que o jovem é incapaz de coordenar suas ações de maneira autônoma e consciente.

.

CONCLUSÕES:

Notamos que as novas formas que surgem de combinar conhecimento teórico e prático, a relevância distinta e essencial de cada um deles para uma compreensão mais apropriada de como alcançar os objetivos das redes sociais é o que os atores denominam “processos de construção compartilhada do conhecimento”. Desta concepção nasce, fruto da potencialidade interativa do diálogo entre saber cultural e saber acadêmico, o “saber social” para os estudiosos da comunicação e o “terceiro conhecimento” para a Antropologia da Informação.

Tem-se observado que, se a violência real paralisa a ação, a violência simbólica, materializada na representação informacional, funciona, ao mesmo tempo, como um fator de (re)construção de identidades coletivas e comprometimento das identidades individuais, gerando, inclusive, iniciativas sociais de revolta, mas também de fortalecimento da auto-estima.

Sendo assim, instrumentos de comunicação/informação, como os fanzines, permitem:

a) reunir elementos que apontam para os novos modos de comunicação, produção de conhecimentos e uso de informações pelos grupos de jovens nas sociedades atuais;

b) perceber a formação de redes sociais que estimulam a organização e a participação;

c) propor canais de comunicação e informação abertos ao diálogo, diferentes daqueles com conformação unidirecional utilizados pela mídia e pelas campanhas educacionais do Estado.

Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-CNPq
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: jovens; violência; informação.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006