A aprendizagem de Ciências no Ensino Fundamental em relação ao ensino de Biologia, Química e Física tem se tornado abstrato e de difícil aprendizagem pelos alunos, enquanto deveria parecer interessante uma vez que fazem parte da sua vida. Uma maneira de contornar esse desinteresse é fazer a contextualização dos tópicos tratados em sala de aula, relacionando-o com o cotidiano do aluno, objetivando tornar algo complicado em uma aula agradável, motivadora e naturalmente simples aos seus olhos. Essa metodologia de ensino-aprendizagem baseada na interatividade e contextualização, nas ferramentas da qualidade e na figura do professor-facilitador já é aplicada pelo grupo do professor Dr. Valdenir José Belinelo em seus livros e tem obtido bons resultados. Os alunos de duas turmas da oitava série da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Aristeu Aguiar (EEEFMAA) foram incentivados a pesquisarem sobre a água na cidade de Alegre, ES visto que passam pela cidade três leitos fluviais, que servem de fonte para captação de água e também de destino para o esgoto da cidade. A UFES, através do Centro de Ciências Agrárias (CCA-UFES) apresenta um laboratório para análises ambientais que serviu de suporte técnico aos experimentos efetuados pelos estudantes. E os alunos foram incentivados a questionar junto às autoridades o porquê do não tratamento dos resíduos: esgoto e lixo na cidade de Alegre.

As pesquisas foram realizadas nas Bibliotecas da respectiva Escola e do CCA-UFES, pela Internet e através de visita de campo pelos 70 alunos da oitava série do ensino fundamental. Os alunos pesquisaram sobre a nascente, as fontes de poluição, o tratamento da água e os possíveis destinos que deveriam ser dados aos efluentes ora jogados nos leitos dos rios. Nos laboratórios de química e bioquímica do Centro de Ciências Agrárias da UFES em Alegre, no laboratório de meio ambiente: www.nedtec.ufes.br/lafarsol e nas salas da própria Escola os alunos realizaram experimentos e oficinas quanto (a) normas de segurança e conhecimento dos materiais usados em laboratórios, (b) fenômenos físicos e químicos, (c) identificação de elementos e substâncias, (d) métodos de separação, (e) chuva ácida, calagem e adubação, (f) água nos seres vivos, (g) preparação e doseamento de soluções, (h) parâmetros analisados em águas e (i) legislação ambiental das águas brasileiras. Todas as etapas iniciaram com um <i>brainstorming<i> e problematização para construção dos conceitos a partir dos conhecimentos trazidos por cada aluno. Para o planejamento e realização de cada tarefa os alunos utilizaram as técnicas 5W/1H. Foi incentivada a criatividade na solução dos problemas levantados e nos experimentos, sempre evitando as metodologias já prontas para despertar o espírito científico.

O projeto permitiu aos alunos das turmas de oitava série do ensino fundamental a desmistificação e o gosto pelo ensino de Ciências Biológicas, Química e Física, o que pode ser comprovado por uma média estatisticamente maior quando comparadas aos anos anteriores. O ensino básico desses conteúdos pôde ser aprofundado durante os experimentos e oficinas através dos questionamentos e das pesquisas realizadas. A pesquisa sobre a captação e tratamento da água possibilitou o estudo de métodos de separação: o clássico e as formas alternativas para o meio rural. Os parâmetros presentes na legislação motivaram o estudo das substâncias, quanto suas classes e propriedades. A análise de pH serviu para a construção dos conceitos de ácidos e bases, que pode ser complementado com o estudo de solução tampão na oficina de água nos seres vivos. O uso da água como principal matriz energética do país permitiu a correlação com o biodiesel, álcool e gás e a auto-suficiência de petróleo pelo Brasil, com o estudo de velocidade, aceleração, quantidade de movimento, energia, potência, temperatura, calorimetria e eletricidade. No estudo de eletricidade foram construídas pilhas, eletrólise de xarope de iodeto de potássio e projetos de instalações elétricas para casas populares constituídas de sala, cozinha, dois quartos, banheiro e área de serviço.

As famílias desses estudantes apresentam renda salarial bruta de um a dois salários mínimos, tornando um curso universitário algo distante de sua realidade, desta forma o projeto pretende promover a inclusão social, aumentar a auto-estima e despertar o interesse real por um curso superior seja em uma faculdade federal ou particular através do PROUNI. Essas ações futuras terão como conseqüência o aumento da renda familiar e melhoria da qualidade de vida. Esse trabalho permitiu aos alunos de Ciências a reconhecerem sua casa, sua cidade e o meio ambiente como fontes permanentes e dinâmicas de aprendizagem; pois os conhecimentos devem ser adquiridos não só em sala de aula com o seu professor, mas também através da interação do conhecimento popular com o científico. A motivação e o gosto por uma disciplina devem ser incentivados pelo professor através da extensão do cotidiano do aluno ao quadro negro. O uso de material e temas do dia-a-dia torna a aula mais atrativa e participativa, com indagações sobre a importância da vida e da natureza para o desenvolvimento de competências e aperfeiçoamento de habilidades do ser humano. Após cada pesquisa, visita, experimento ou oficina, o brilho nos olhos de cada criança é o incentivo para continuarmos a utilizar sempre um pouco de nosso tempo para a melhoria da qualidade de vida do nosso povo.