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C. Ciências Biológicas - 13. Parasitologia - 6. Parasitologia

O PARASITISMO DO BAÇO E FÍGADO E SUAS INFLUÊNCIAS NA IMUNOPATOLOGIA DA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA

Bruno Mendes Roatt 1
Rodolfo Cordeiro Giunchetti 1, 2
Washington Luiz Tafuri 3
Cláudia Martins Carneiro 1
Wendel Coura Vital 1
Alexandre Barbosa Reis 1, 2
(1. Laboratório de Parasitologia/Histopatologia/NUPEB/UFOP; 2. Laboratório de Imunologia Celular e Molecular/CPqRR/FIOCRUZ; 3. Laboratório de Neuroimunopatologia Experimental/ICB/UFMG)
INTRODUÇÃO:

O gênero Leishmania foi criado a exatamente um século por Ross, 1903. Este parasito é definido como um protozoário digenético da Ordem Kinetoplastida, apresentando formas promastigoas e paramastigotas, desenvolvendo-se no tubo digestivo do inseto vetor, e formas amastigotas, que se multiplicam no Sistema Monocítico Fagocitário do hospedeiro vertebrado. Sua multiplicação ocorre por divisão binária (Bastien et al., 1992).

A leishmaniose é um conjunto de síndromes complexas e multifacetadas, sendo transmitida por hospedeiros invertebrados, capazes de infectar animais silvestres, domésticos e até o homem, estando distribuída mundialmente, exceto na Oceania e Antártida (WHO, 1990; Desjeux, 1991; Bryceson, 1996).

Segundo Mancianti et al. (1988), o quadro clínico da leishmaniose visceral canina (LVC) pode ser classificado com base no exame clínico sob 3 formas distintas:

1. Casos assintomáticos: ausência de sinais clínicos sugestivos de infecção por Leishmania.

2. Casos oligossintomáticos: adenopatia linfóide, pequena perda de peso e/ou pêlo opaco.

3. Casos sintomáticos: alterações cutâneas (alopecia, dermatite furfurácea, úlceras), ceratoconjuntivite, onicogrifose, paralisia dos membros posteriores, etc.

A hepatoesplenomegalia consiste num dos principais achados clínicos da leishmaniose visceral canina (LVC). Diante da importância destes órgãos e da freqüência com que são acometidos, neste estudo propomos avaliar cães naturalmente infectados por Leishmania chagasi, cedidos pelo CCZBH/MG.
METODOLOGIA:

Os cães infectados por Leishmania chagasi, provenientes da cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais cedidos pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ/PBH), foram divididos conforme o status clínico em cães assintomáticos (CA, n=12), oligossintomáticos (CO, n=12), sintomáticos (CS, n=17) e cães não infectados (CNI, n=11) totalizando 52 animais. Amostras de baço e fígado foram coletadas após eutanásia dos animais (conforme normas estabelecidas pelo COBEA) e submetidas à coloração por Hematoxilina & Eosina (HE) segundo normas do Departamento de Patologia Geral ICB/UFMG, para que se realizar a avaliação do quadro histológico.

Já a avaliação parasitológica foi realizada através da reação de imuno-histoquímica anti-leishmania para quantificação do parasito. Esta análise foi feita com o auxílio do programa KS300, para a quantificação do parasito por marcação de área de 20 campos microscópicos em objetiva de 40´, em tela de 640´480 pixels.

RESULTADOS:
A análise histológica hepática apresentou diferença significativa (p<0,05) na inflamação da cápsula, inflamação portal, granuloma e hipertrofia/hiperplasia de células de Küpffer entre o grupo CNI e os demais grupos clínicos CA, CO e CS. Similarmente, identificou-se maior intensidade (p<0,05) na inflamação da cápsula, granulomas intralobulares e hipertrofia/hiperplasia de células de Küpffer nos grupos CA, CO e CS em relação ao CNI. Na análise parasitológica encontramos maior freqüência e intensidade (p<0,05) de parasitismo no grupo CS quando comparado ao grupo CA. No baço foi observado que a fibrose e inflamação de cápsula esplênica apontam aumento da freqüência destas alterações conforme evolução clínica da LVC. Os grupos CA, CO e CS apresentaram maior freqüência da depleção da polpa branca, hipertrofia/hiperplasia da polpa vermelha e congestão em relação ao grupo CNI. Encontramos uma maior freqüência (p<0,05) do parasitismo esplênico quando comparados os grupos CO e CS em relação a CA. Também foi observada a associação (p<0,05) entre hipertrofia e hiperplasia da polpa vermelha e congestão com parasitismo.
CONCLUSÕES:
Estes resultados sugerem que um estímulo de reatividade inflamatória poderia ser influenciado pelo parasito, caracterizado pela migração diferencial de células mononucleares nos diferentes compartimentos hepatoesplênicos. Estas células caracterizaram o infiltrado celular como do tipo plasmohistiolinfocitário no transcorrer do processo patológico, estando estas alterações histológicas relacionadas com a imunopatogênese da hepatoesplenomegalia na LVC.
Instituição de fomento: FAPEMIG, CNPq, UFOP, CPqRR/FIOCRUZ/MG
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Leishmaniose visceral canina (LVC); Hepatoesplenomegalia; Leishmania chagasi.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006