Considerando que o T. cruzi apresenta uma grande diversidade genética e que esta possa estar correlacionada com diversas propriedades biológicas do parasita, inclusive na sua capacidade de induzir produção de anticorpos específicos contra o mesmo, e que o diagnóstico da infecção chagásica na maioria das vezes se baseia apenas em métodos sorológicos, que apresentam resultados falso-negativos ou inconclusivos em uma percentagem de casos,  este projeto se justifica no sentido de tentar compreender e esclarecer as dificuldades inerentes ao diagnóstico sorológico bem como  no estabelecimento dos critérios de cura desta doença.

Neste trabalho foram analisados pela técnica de ELISA convencional soros obtidos de camundongos infectados não tratados com 12 clones de T. cruzi: Dois clones do genótipo 19, quatro do genótipo 20, quatro do genótipo 32 e dois clones do genótipo 39. Os genótipos 19 e 20 (T. cruzi I) são geneticamente mais relacionados e distantes dos genótipos 39 e 32 (T. cruzi II), também mais relacionados entre si. Os soros foram coletados nos 120º e 380º dias de infecção.

Em geral, clones pertencentes ao grupo filogenético T. cruzi I, mais infectivos e virulentos, induziram uma resposta humoral (produção de IgG total) mais intensa que clones do grupo filogenético T. cruzi II, menos infectantes e virulentos, corroborando os resultados de Toledo et al (2002). A ELISA apresentou 2,77% de resultado falso-negativo equivalente ao observado na sorologia convencional para doença de Chagas humana quando se utilizam as técnicas de ELISA, IFI e HAI (Carvalho et al, 1993). Estas negativações aconteceram exatamente nos soros de camundongos infectados com os clones SP104 cl1 (genótipo 19) e SC43 cl1 (genótipo 39) que mostrara induzir a mais fraca resposta humoral. Resultados falso-negativos são ainda mais agravantes na triagem de doadores nos bancos de sangue implicando em risco de transmissão da doença (Grijalva et al, 1995) e podem falsear o controle de cura o que  explicaria a existência de hemocultura e PCR positivas em pacientes com diagnóstico sorológico negativo (Gomes et al, 1998).

Este trabalho demonstrou haver correlação entre a genética do T.cruzi e a resposta humoral induzida em camundongos e que diferentes clones de T. cruzi podem induzir formação de anticorpos específicos detectados na sorologia convencional mais fracamente que outros, explicando assim uma das causas da negativação da sorologia sempre constatada na doença de Chagas humana.