As imagens têm uma presença significante no cotidiano das pessoas. Além daquilo que vemos e registramos como imagens, há as imagens construídas como um produto cultural, como as produzidas por artistas, fotógrafos, cineastas, publicitários; e que são objeto dessa pesquisa. Este trabalho tem como objetivo encontrar a visão de autores e intérpretes de determinadas imagens. Com isso buscamos compreender a relação que existe entre a produção e a recepção de imagens, a relação do próprio produtor com o receptor, e as maneiras como o receptor e o produtor se relacionam com a imagem. Para a investigação científica, partimos do pressuposto de que a interpretação das imagens é um processo plural e dinâmico, como já apontam os Estudos de Recepção, desenvolvidos a partir de 1980. Lançamos a hipótese inicial de que uma mesma pode ter seu significado variado para produtores e receptores, supondo que o próprio conceito de imagem difere para os vários públicos estudados. Depoimentos ouvidos mesmo antes do início da pesquisa, e que se tornaram motivadores do estudo, nos levaram a supor que, em alguns casos, os próprios receptores estariam tentando encontrar a visão “legítima” da imagem, que neste caso, seria considerada a visão do autor. E, com um olhar inicial sobre este amplo processo de produção e recepção, também pudemos supor que, principalmente se confirmando a última hipótese apresentada, as imagens estariam muito centradas em seus autores/produtores.

A busca pela visão de produtores e receptores de imagens se deu através de métodos qualitativos de pesquisa. Houve a realização de entrevistas abertas com produtores de imagens, e estudos de recepção com um grupo de estudantes selecionado previamente. Este grupo foi submetido à exibição dos filmes “Ilha das Flores” e “Meu Tio Matou um Cara”, do cineasta gaúcho Jorge Furtado; e do filme “Central do Brasil”, do cineasta Walter Salles. Posterior ao momento desta atividade de recepção, buscamos encontrar a visão dos autores acerca das mesmas produções imagéticas a que os receptores foram expostos. No caso de Walter Salles, pesquisamos entrevistas já publicadas realizadas com o cineasta, para encontrar sua visão sobre Central do Brasil. Com Jorge Furtado, realizamos uma entrevista aberta. Assim foi possível ter acesso à visão de autores e receptores das mesmas imagens. O trabalho seguinte constitui-se em interpretação das entrevistas, com a busca de construção de categorias analíticas. Paralelamente a isso, foi desenvolvida uma nova etapa de entrevistas com produtores de imagens situados em nível local, como publicitários, fotógrafos, vídeo-makers.

O trabalho bibliográfico e empírico tem apontado para a multiplicidade de interpretações a que uma mesma imagem está submetida. Produtores e receptores nos indicaram diferentes interpretações. A pesquisa, portanto, está reforçando a hipótese já levantada pelos Estudos de Recepção, de que diferentes significados podem ser construídos para uma mesma imagem. Os dados novos trazidos pela pesquisa estão relacionados com a visão dos produtores, que demonstram esperar essa variabilidade de interpretações acerca do que produzem. Novas hipóteses têm surgido a partir dessa constatação, que nos levam a questionar a centralidade das imagens em seus autores/produtores.

A partir dos resultados, pudemos confirmar a hipótese inicial de que a visão de autores/produtores e receptores/intérpretes é variada, o que comprova que a interpretação de imagens não é um processo simples, mas complexo e plural, dadas as inúmeras e diferenciadas interpretações. Mas os resultados também nos trazem novas perguntas que podem conduzir esta pesquisa a novas etapas. Outra das conclusões aponta para a necessidade de tratar de maneira diferenciada os vários gêneros de produção imagética, pois notamos uma grande diferença na interpretação entre produções que pretendem ser representações do real, e produções de caráter ficcional.