Esta pesquisa trata de um estudo sobre a noção de ‘Eu’ em psicanálise, visando a consolidação de embasamento teórico para a realização da pesquisa intitulada Agressividade adolescente. A noção de ‘Eu’ constitui um dos pilares para a fundamentação teórica da discussão proposta, uma vez que se encontra na base da definição tanto de agressividade como de adolescência. O objetivo desta pesquisa é colaborar para a precisão da noção de ‘Eu’ em psicanálise, retomando o emprego desta noção por Sigmund Freud, verificando as necessidades teóricas das quais ela se originou e as que justificaram sua manutenção ao longo da obra do autor. Trata também, especificamente, de situar as condições sob as quais, na adolescência, a formação do ‘Eu’ e a constituição da noção de realidade são colocadas em questão. A adolescência é tomada aqui como posição discursiva do sujeito, a qual o permite inserir-se ativamente no social. Sendo assim, a adolescência tem lugar mediante a operação de processos psíquicos através dos quais o sujeito procede à afirmação própria e à tomada de uma posição sexuada. A hipótese é de que a agressividade participa da operação desses processos de constituição do ‘Eu’.

A discussão do tema fundamenta-se em noções teóricas de Sigmund Freud. Ela desenvolve-se, prioritariamente, através de uma retomada do emprego da noção de ‘Eu’ ao longo da obra do autor. Trata-se, portanto, de uma pesquisa de cunho teórico e bibliográfico. A bibliografia principal inicial escolhida é constituída por trechos da obra de S. Freud em que há menção à noção de ‘Eu’ em terceira pessoa. Para obtermos este material, utilizamos o recurso oferecido pela modalidade de publicação da obra de S. Freud em CD. O recurso consiste na seleção das passagens, ao longo de toda a obra do autor, em que ele faz menção à noção de ‘Eu’. Trata-se de uma leitura crítica, na medida em que nos propomos a fazer um exame da bibliografia. Refletindo e discutindo acerca deste material procuramos alcançar os objetivos mencionados na introdução deste resumo. A partir da discussão promovida por leituras críticas e reuniões de pesquisa regulares, a precisão da noção de ‘Eu’ é destacada do contexto da obra do autor. A socialização do andamento e dos resultados desta pesquisa se dá através da publicação de artigo acadêmico.

A partir de discussões iniciais acerca da leitura de textos e trechos em que S. Freud faz menção à noção de ‘Eu’, constatamos que há uma relação entre o ‘Eu’ e as percepções, e, portanto, entre a formação do ‘Eu’ e a constituição da noção de realidade. Se for o ‘Eu’ quem percebe o mundo externo e se este mundo só pode ser conhecido através de percepções e sensações, então o ‘Eu’ se revela como agência e pólo de ações de um sujeito. Sendo assim, podemos considerar o ‘Eu’ como a instância psíquica capaz de determinar os objetos externos com os quais o sujeito se relaciona. Objetos determinados compõem a nossa realidade. Ou, melhor, a realidade de cada sujeito é composta pelos objetos que o ‘Eu’ determinar. Ao percebermos objetos externos, imediatamente os nomeamos. Existe uma relação entre o ‘Eu’ e a linguagem? Tomando o projeto de pesquisa Agressividade adolescente, ao qual se vincula este subprojeto, e considerando que a agressividade passa pela linguagem e tem um objeto definido, o que a agressividade tem a ver com a constituição do ‘Eu’? Esta é uma interrogação resultante de nossa pesquisa.

Verificamos, até então, que S. Freud faz referência à noção de ‘Eu’ durante toda a sua obra, o que não acontece com outros conceitos mencionados pelo autor. Evidencia-se a relevância desta noção para as formulações teóricas do fundador da psicanálise e de teóricos que o sucederam, como é o caso de Jacques Lacan. Devido à diversidade dos contextos teóricos nos quais há referência à noção de ‘Eu’, esta pesquisa possibilita outras vias de investigação no campo da psicologia, além do estudo sobre a Agressividade adolescente. De fato, a noção de ‘Eu’ pode estar na base de muitas discussões neste campo. Ademais, percebemos a necessidade de haver uma continuidade desta pesquisa a partir da constatação de um vasto material teórico, a partir do qual são geradas inúmeras questões. Entendemos, por isso, que este estudo se encontra num momento inicial. Pelo fato das questões serem muitas, não temos aqui a pretensão de responder a todas. Trata-se de questões necessárias para que a pesquisa prossiga e para que possamos nos manter em posição de pesquisadores.

Instituição de fomento: CNPq

Trabalho de Iniciação Científica