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F. Ciências Sociais Aplicadas - 2. Economia - 5. Economia Internacional
A COMPETITIVIDADE DO TRIGO BRASILEIRO DIANTE DA CONCORRÊNCIA ARGENTINA: A CADEIA PRODUTIVA DO TRIGO NO BRASIL
Patricia Kettenhuber Müller 1
Argemiro Luís Brum 2
(1. Aluna do curso de Economia, bolsista PIBIC/CNPq. DECon/UNIJUI.; 2. Professor, pesquisador, doutor em Economia Internacional. DECon/UNIJUI.)
INTRODUÇÃO:

Este trabalho tem como tema principal o estudo da cadeia do trigo no Brasil a partir de uma divisão em insumos, produção, moinhos, transformação e distribuição/consumo.O mesmo objetiva identificar o funcionamento desta cadeia e seus principais gargalos, e se justifica pelo fato da cadeia produtiva do trigo no Brasil movimentar atualmente cerca de R$ 37 bilhões. Todavia, a triticultura nacional está ameaçada e dificilmente alcançará a auto-suficiência (o Brasil importa aproximadamente 50% do seu consumo), pois os produtores brasileiros não possuem vantagens comparativas e competitivas suficientes, particularmente em relação aos produtores argentinos. Assim, o conjunto do trabalho analisa o funcionamento e as principais características, limites e desafios que a cadeia do trigo, no Brasil, vivencia nestes últimos 25 anos

METODOLOGIA:

O método de pesquisa foi centrado na análise bibliográfica, através de buscas em sites da internet e livros especializados. Igualmente aplicou-se uma pesquisa de campo junto aos produtores rurais, cooperativas agrícolas e moinhos de trigo nos Estados do Rio Grande do Sul e Paraná. Essa pesquisa foi feita através de questionários com 18 perguntas fechadas e 37 abertas, num total de 32 questionários aplicados. Disto resultou uma ampla análise da situação da cadeia tritícola brasileira corroborada por elementos estatísticos apresentados em 11 tabelas resultantes das entrevistas de campo. O resultado final deste conjunto metodológico foi um trabalho de 87 páginas dividido em 4 capítulos assim nominados: “os produtores de trigo e suas cooperativas”; “a agroindústria moageira”; “a agroindústria de transformação”; e “a distribuição e consumo”.

RESULTADOS:

A cadeia do trigo é composta principalmente pelo setor de insumos, pelo setor produtivo composto pelos produtores rurais e suas cooperativas, pela agroindustrialização, pela indústria de transformação, distribuição e consumo. Todavia constatou-se que a cadeia se articula, sobretudo, a partir do consumidor. No entanto, o trigo no Brasil se desenvolveu fundamentalmente graças a forte intervenção estatal, a qual abrangia a comercialização do grão, a regulamentação do setor de moagem e a fixação dos preços. Ou seja, a produção local não necessariamente respondia às exigências dos consumidores e sim, respondia as conveniências ditadas pelo Estado. De fato, o Decreto-Lei nº 210/1967 conferiu ao Estado o poder de fixar os preços de compra aos produtores e de venda aos moinhos, o que deu margem ao estabelecimento de preços ao produtor acima da paridade internacional, como instrumento de estímulo à produção nacional do cereal. Portanto, o plantio do trigo nos anos de 1980 se deu basicamente em função do apoio do governo à cultura, através do preço mínimo, de crédito facilitado e da compra estatal. Além disso, o custo de produção ainda era reduzido e, diante da falta de opção para o inverno, a cultura compensava. Paralelamente, se aproveitava o plantio do trigo para exercer uma rotação de culturas, diluindo os custos fixos da safra de verão. A partir de 1990/91 ocorre a retirada da intervenção estatal à produção nacional de trigo. A mesma fica ao sabor do mercado. Isto alterou completamente o quadro de competitividade dos produtores e da própria cadeia. Os preços baixaram e a concorrência do trigo argentino aumentou. Tal realidade gerou um dilema junto ao setor: importar a custos reduzidos da Argentina ou incentivar a produção local, com maior investimentos em tecnologia e, portanto, aumento de custos. Na prática, observa-se que, mesmo diante da falta de apoio do governo federal e dos altos custos, os produtores continuam plantando trigo. Todavia os baixos preços, a instabilidade do mercado, a preferência dos moinhos pelo trigo importado e o fato dos produtores não cultivarem um produto de maior qualidade, colocam em xeque o futuro da atividade no Brasil.

CONCLUSÕES:

A cadeia produtiva do trigo deve estruturar-se e articular-se a partir do consumidor, no sentido de aumentar a sua resposta aos anseios deste último. Isto exige um aumento da competitividade em todos os elos da cadeia. Dois eixos são apresentados na triticultura brasileira: importar de países que apresentam vantagens competitivas, com custos reduzidos, ou incentivar a produção tritícola através da adoção de tecnologias e de um modelo de profissionalização da agricultura. No momento, o país tem se voltado particularmente para a primeira opção, justificada por questões econômicas diretas: em geral, custa mais barato importar trigo do que estimular a sua produção local. No entanto, a segunda opção pode ser viável. Todavia, tal viabilidade somente se cristalizará se um conjunto de medidas for implementado. Em primeiro lugar, a cadeia produtiva deverá se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar a participação do produto nacional e reduzir as importações. Ou seja, a cadeia deve operar em favor do trigo nacional e não ser utilizada por alguns elos mais ágeis para a conquista de benefícios exclusivos. Aliás, este é o grande gargalo da cadeia tritícola brasileira, pois a mesma não funciona, na prática, como uma verdadeira cadeia produtiva. A tal ponto que os produtores brasileiros, particularmente os gaúchos, geralmente não produzem a qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda por parte dos moinhos.

Instituição de fomento: CNPq
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: trigo; competitividade; cadeia produtiva.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006