|
||
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana | ||
A DESINDUSTRIALIZAÇÃO DO BAIRRO JACARECANGA (FORTALEZA - CEARÁ) | ||
Hérica Macedo Madeira 1 (hericageo@yahoo.com.br) e Maria Clélia Lustosa Costa 1 | ||
(1. Depto. Geografia, Universidade Federal do Ceará - UFC.) | ||
INTRODUÇÃO:
O eixo da Avenida Francisco Sá foi, durante os anos 60 e 70, uma das regiões mais industrializada do Ceará. A concentração industrial na zona oeste de Fortaleza está relacionada a presença da via férrea, responsável pelo escoamento da produção agropecuária, que atraiu estabelecimentos fabris no período da crise nas exportações de algodão. O bairro da Jacarecanga, que até os anos trinta, era de classe média foi tornando-se um bairro comercial e operário com a chegada das indústrias. Com a política de descentralização industrial, Jacarecanga perde estabelecimentos fabris e os espaços adquirem novos usos. Nesta pesquisa procurou-se analisar os fatores que levaram a este processo de “desindustrialização” da zona da Francisco Sá e a reestruturação sócio-econômica do bairro de Jacarecanga. Portanto, buscou-se compreender os impactos da criação de parques industriais na região metropolitana e em cidades interioranas na organização do espaço urbano de Fortaleza, a partir do estudo de caso de um bairro que era tipicamente industrial. |
||
METODOLOGIA:
Inicialmente, foi feita uma revisão bibliográfica sobre a produção do espaço urbano e o processo de industrialização do Ceará e de Fortaleza. Levantamentos de dados, informações e de indicadores sociais nos censos do IBGE, no Anuário Estatístico do IPECE e nos guias industriais da FIEC possibilitaram traçar a evolução da indústria em Fortaleza e um perfil do bairro e sua população. Houve também, a consulta a jornais de grande circulação na cidade que resgatavam um pouco da história do Jacarecanga. Um levantamento cartográfico permitiu a localização dos estabelecimentos industriais em operação no Jacarecanga, assim como a natureza destes. Nos trabalhos de campo, foram realizadas entrevistas com os moradores mais antigos e feito um mapeamento preliminar do uso e ocupação do solo ao longo da Avenida Francisco Sá e no bairro Jacarecanga. Com base neste material, tentou-se reconstruir a organização espacial do Jacarecanga industrial, e discutir a atuação dos agentes produtores do espaço e as razões para as mudanças nas funções urbanas e na organização do bairro. |
||
RESULTADOS:
A política de incentivos fiscais e a construção dos pólos e distritos industriais favoreceram a dispersão das indústrias pelo estado e o esvaziamento das zonas industriais de Fortaleza. Nas quatro últimas década, ocorreu a emigração de indústrias da capital, principalmente da zona industrial da Avenida Francisco Sá, em virtude da criação dos Distritos Industriais I e II, em Maracanaú, dos pólos industriais de Caucaia, Maranguape, Euzébio e Aquiraz (Região Metropolitana de Fortaleza) e dos incentivos fiscais, visando a interiorização do setor secundário. Segundo o Anuário Estatístico do Ceará – 2001 (IPECE), o PIB Industrial de Fortaleza caiu de 46,04%, em 1995, para 45,01%, em 2002. Até os anos setenta a zona da Francisco Sá concentrava o maior número de indústrias do estado. De acordo com a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), das quatro a cinco dezenas de indústrias de médio e grande porte implantados ao longo da Avenida Francisco Sá, até os anos 80, poucas unidades permanecem em funcionamento. Para a saída das industrias desta zona, contribuiu também a legislação urbana e ambiental que dificultou a instalação de fábricas com elevados teores de poluição. A saída das indústrias do bairro gerou grandes transformações no uso e ocupação do solo urbano, pois gerou desemprego, área de antigas indústrias foram vendidas para construção de condomínios e estabelecimentos comerciais e de serviços e outros foram ocupadas por cortiços e comércio e consumo de drogas. |
||
CONCLUSÕES:
Na paisagem urbana do Jacarecanga estão impressas as marcas deixadas nos diferentes momentos da historia da industrialização cearense. Com a chegada das indústrias e das habitações operárias, sobrados e casarões, que remetem ao passado nobre da área, são abandonados pela elite fortalezense, cedendo lugar a instalação de indústrias, comércio e cortiços. A ação do poder público na construção de distritos e pólos industriais na região metropolitana, a oferta de atrativas vantagens fiscais para instalação de empresas em cidades interioranas e a cobrança excessiva de tarifas e impostos favoreceram a migração de indústrias da capital para outras cidades e o esvaziamento da função industrial do Jacarecanga. Bairro, densamente ocupado por famílias de baixa renda, deixou de ser prioritariamente industrial para ser comercial, de serviço e residencial, apesar de existir ainda algumas indústrias em funcionamento. Uma considerável parcela da população constituída de mão de obra não especializada e que trabalhava nas indústrias, encontra-se desempregada, pois não é considerado viável economicamente o deslocamento dos trabalhadores para o distrito industrial de Maracanaú. A atividade industrial, tão vulnerável as oscilações do capital, foi decisiva na estruturação do espaço do Jacarecanga, mas a sua migração também modificou profundamente a organização intraurbana de Fortaleza. |
||
Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: Produção do Espaço Urbano; Industrialização; Uso e ocupação do solo. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |