IMPRIMIR VOLTAR
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 1. Ecologia Aplicada
CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE E DA PAISAGEM ATRAVÉS DE TRILHAS COM SINALIZAÇÃO PARA O ECOTURISMO, NA RESERVA ECOLÓGICA DE SAPIRANGA, CEARÁ.
Sergio David Arancíbia 1 (arancibi@terra.com.br) e Arnóbio de Mendonça Barreto Cavalcante 2
(1. Cooperativa Educacional de Ensino Superior Ltda - COOPENSINO.; 2. Centro de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual do Ceará - UECE.)
INTRODUÇÃO:
A história tem mostrado que a maior parte do desenvolvimento recente das paisagens e do declínio na biodiversidade, está diretamente conectada com a forma de uso e ocupação da terra. No Estado do Ceará isso ficou evidenciado a partir de 1986, quando aportaram mega-projetos necessários ao enquadramento do estado as novas regras do contexto mundial, que geraram profundas modificações nas paisagens naturais locais e nas populações de espécies nativas. Então, pergunta-se: como usar e ocupar a terra sem provocar danos expressivos nesses elementos? Notoriamente, o homem dispõe de vários instrumentos capazes de atender essa questão e, dentre eles, cita-se as Unidades de Conservação (UCs). No entanto, nos últimos anos, percebeu-se que a simples criação de UCs não fora suficiente para tão desejada conservação desses elementos, como também, observou-se que era indispensável o envolvimento da população para alcançar tal fim. Logo, a população e em particular, os visitantes de UCs, passaram a ser vistos como peças essenciais nesse processo. Contudo, como gerir esses visitantes de modo a tornar satisfatória a experiência turística e simultaneamente, a conservação. Isso é factível mediante a criação de trilhas. Portanto, o presente trabalho teve como objetivo propor uma trilha ecológica para Reserva Ecológica Particular de Sapiranga, uma das maiores reservas ecológicas particulares urbanas do mundo, visando contribuir para conservação de sua biodiversidade e paisagens naturais.
METODOLOGIA:
Três procedimentos distintos e seqüenciados foram realizados nesse trabalho: 1) Seleção dos pontos interpretativos para a trilha; 2) Criação da trilha; e 3) Sinalização. Para a seleção dos pontos interpretativos da trilha adotou-se, com modificações, o método Indicadores de Atratividade de Pontos Interpretativos - IAPI. Para a criação da trilha considerou-se os elementos distância do percurso, forma, grau de dificuldade e tipo de orientação definidos em conformidade com o item anterior e peculiaridades da área de estudo, a Reserva Ecológica Particular de Sapiranga (REP-Sapiranga). Para sinalizar a trilha, por sua vez, utilizou-se do Guia Brasileiro de Sinalização Turística, 2001. Finalmente, vale também destacar que antes da execução desses procedimentos foram consultados mapas e fotografias aéreas da REP-Sapiranga e realizadas várias visitas, ocorridas durante os meses de março e outubro de 2003, meses representativos das estações chuvosa e seca, respectivamente. A REP-Sapiranga está localizada nas imediações da Lagoa de Sapiranga, Região Metropolitana de Fortaleza, Estado do Ceará, apresentando coordenadas geográficas Lat. 030 45’ e 030 47’ S, Long. 380 26’ e 380 23’ W. A REP-Sapiranga é uma poligonal irregular de 58.762 ha, abrigando dunas, restingas, brejos herbáceos, carnaubais, nascentes e, sobretudo, manguezais. Ademais, tem sua borda pontuada por campos de futebol e residências.
RESULTADOS:
A trilha ecológica proposta apresentou as seguintes características: 1) Percurso de aproximadamente 2 km com caráter recreativo e educativo; 2) Forma do traçado circular, isto é, o ponto de chegada da trilha corresponde ao ponto de partida, assim, sem possibilidade do visitante repetir o percurso ou cruzar com outros visitantes; 3) Grau de dificuldade baixo a médio, permitindo atender todas as faixas etárias, embora, recomenda-se somente às manhãs para a faixa senil; e 4) Trilha para visitantes estando eles acompanhados ou não de um guia/condutor de ecoturismo. Para os pontos interpretativos foram selecionados dez (10) pontos para compor a trilha: P1 - Ponto de partida e chegada com vista panorâmica das unidades paisagística da reserva dentre elas: dunas, manguezais, campos de halófitas, lagoa etc; P2 - A carnaúba, árvore símbolo do Ceará; P3 - A estrutura do mangue; P4 - Segredos dos mangues: raízes aéreas suporte, pneumatóforos etc; P5 - Bercário de peixes; P6 - Habitat dos caranguejos; P7 - Aves mais comuns e rotas migratórias; P8 - Corredores de mamíferos (pegadas); P9 - Campos de halófitas; P10 - Solos típicos do mangue. Para cada ponto selecionado recomendou-se a fixação de uma placa de alumínio ou madeira com superfície de informação medindo 1,20 x 1,10 m e sustentação nos dois lados, tendo em vista, assegurar durabilidade, facilidade de leitura e estabilidade tão necessária em ambientes inóspitos, respectivamente.
CONCLUSÕES:
A Reserva Ecológica Particular de Sapiranga vem, vagarosamente, sendo circundada pela cidade de Fortaleza, que cresce de forma assustadora. Tal processo é considerado irreversível e num futuro próximo, certamente, conduzirá a reserva a condição de ilha verde circundada por um ambiente artificial ou, a mais uma área degradada encravada nesse ambiente. Embora, ainda não formalmente implantada, a trilha ecológica proposta poderá, efetivamente, levar à reserva a condição de ilha verde, haja vista que, a trilha se mostra factível, satisfaz ao visitante e atende ao conceito de conservação, qual seja, qualquer procedimento humano na natureza que gere benefícios, atenda às gerações atual e futuras sem destruir a natureza. Reconhecidamente, as trilhas ecológicas desempenham importante papel no processo de conservação da natureza, pois, ao facilitar o acesso de pessoas a locais naturais, comumente, a interação resultante desse contato direto, repercute em mudança de comportamento na relação homem-natureza.
Palavras-chave:  conservação; biodiversidade; ecoturismo.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005