CRITÉRIOS PARA A CLASSIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO EM QUATRO
NÍVEIS DE HIERARQUIA.
Umberto
G. Cordani
Instituto de Geociências da USP
Membro da Comissão Especial de Estudos das Áreas do Conhecimento
A tabela atual das “Áreas do Conhecimento” do CNPq foi feita
em 1984, num grande esforço que reuniu algumas centenas de pesquisadores,
durante muitos meses. Mais de vinte anos mais tarde, verifica-se a necessidade
de uma revisão importante, em vista das grandes modificações ocorridas no setor
de Ciência e Tecnologia, que tornaram obsoleta a tabela vigente. A elaboração
de uma nova “Tabela das Áreas do Conhecimento” é um exercício ao mesmo tempo
delicado e complexo, visto que o “saber” envolve história e tradição, mas ao mesmo tempo sofre permanentes
alterações, ao sabor das novidades da produção científica e tecnológica que
ocorrem a todo momento.
A comissão especial de estudos, nomeada pelos CNPq, CAPES e
FINEP, analisou diversos relatórios de esforços similares anteriores, estudou
classificações análogas produzidas em diversas partes do mundo, e levou em
conta também numerosas contribuições espontâneas que lhe foram oferecidas por
pesquisadores ou por organizações brasileiras do setor de Ciência e Tecnologia.
Após algumas reuniões e muita interação entre seus membros, considerou que
poderiam ser mantidos os quatro níveis hierárquicos da tabela em vigor no CNPq
(Grande Área, Área, Sub Área e Especialidade), tendo a Área como unidade básica
de classificação.
Área foi
definida tentativamente como “conjunto de conhecimentos inter-relacionados,
coletivamente construído, reunido segundo a natureza do objeto de investigação
com finalidades de ensino, pesquisa e aplicações práticas”. Grande Área
corresponderia ao nível hierárquico superior, “aglomerando diversas áreas do
conhecimento em virtude da afinidade de seus objetos, métodos cognitivos e
recursos instrumentais refletindo
contextos sócio-políticos específicos”. Por sua vez, Sub Área representaria
uma “segmentação da área de conhecimento estabelecida em função do objeto de
estudo e de procedimentos metodológicos reconhecidos e amplamente utilizados”.
Finalmente, especialidade corresponderia a uma atividade científica ou
tecnológica com um nível maior de especificidade, definida mais pela sua
finalidade ou pela sua aplicação.
A comissão
entendeu que seria muito difícil elaborar uma classificação equilibrada e
coerente no nível menor de hierarquia, a especialidade, onde justamente a
dinâmica de aparecimento e transformação do conhecimento é mais intensa. As
especialidades seriam caracterizadas assim após ampla consulta externa,
atendendo a propostas das sociedades científicas e entidades congêneres. Isto
poderia a atender aos objetivos para os quais a comissão foi criada, e ao mesmo
tempo levaria em conta também as preocupações e anseios da comunidade
científica brasileira. Dessa forma, a comissão entendeu que sua missão poderá
ser cumprida da melhor forma possível se seus esforços fossem concentrados para
caracterizar adequadamente os três níveis maiores de hierarquia, Grande Área,
Área e Sub Área.
Na
prática, nos primeiros ensaios e simulações de classificação que foram
propostos, verificou-se a dificuldade em manter ao mesmo tempo os vínculos com
a tradição e os desejos de grandes transformações. A comissão utilizou
praticamente todos as propostas e sugestões oriundas das sociedades,
associações científicas e instituições setoriais, de acordo com suas vocações,
e no possível levando em conta as suas preferências. Por exemplo, no caso das
áreas, unidades básicas da classificação, algumas das comunidades indicaram que
gostariam de manter a sua unidade, com subdivisões mais numerosas ao nível de
sub áreas, enquanto que outras preferiram contar com um número maior de áreas,
subdivididas entretanto num pequeno
número de sub áreas. Ainda com relação às primeiras simulações, considerou-se
que o número de áreas da nova tabela não deverá ser muito diferente daquele da
atual tabela do CNPq (cerca de 80-90), embora suas novas denominações e
conteúdo possam sofrer modificação relevante. As grandes áreas também deverão
ser poucas, e com denominações não distantes das tradicionais (Ciências da
Natureza, da Sociedade, da Saúde, etc.), enquanto que as sub áreas poderão ser
diversas centenas, abrigando muitos antigos e novos campos de estudo e
aplicação.
A comissão
entendeu que um maior número de modificações em relação às tabelas vigentes
ocorrerá ao nível de Especialidade, para acomodar temáticas novas e também os
avanços metodológicos recentes. Neste aspecto foi longamente debatido o caráter
interdisciplinar ou transdisciplinar de muitas das atividades científicas e
tecnológicas. A intenção seria de que algumas das especialidades listadas na
futura tabela possam relacionar-se com todas as sub áreas diferentes com as
quais estariam relacionadas, e eventualmente isto possa vir a ocorrer também em
relação às próprias áreas.
Por causa da dificuldade em equacionar critérios coerentes e
equilibrados, a comissão ainda não conseguiu um consenso claro a respeito da
elaboração de uma primeira proposta, que seria oferecida para o exame e as
discussões necessárias dos muitos interessados. A idéia é que, tão logo uma
proposta básica puder ser preparada, contendo os três níveis hierárquicos
maiores, esta seja amplamente distribuída entre as instituições e sociedades
científicas nacionais, os programas de pós-graduação, etc. Com isto seriam
recolhidos os subsídios necessários para o refinamento, o melhor equacionamento
e a consolidação da proposta definitiva.