A PRODUÇÃO DO
CONHECIMENTO EM EDUCAÇÃO FÍSICA
E CIÊNCIAS DO
ESPORTE
Terezinha
Petrucia da Nóbrega
Grupo de
pesquisa Corpo e Cultura de Movimento
Pnobrega@ufrnet.br
Compreendemos que a produção do
conhecimento em Educação Física ( EF) e Ciências do Esporte pode ser explorada
por vários indicadores: da Pós-graduação, dos anais do Conbrace, RBCE, formação
profissional, a Plataforma Lattes, entre outros. Minha intenção é apresentar
dados sobre essa produção do conhecimento, a partir das informações obtidas no
Diretório de Grupos do CNPq.
Considerando o Diretório de
Grupos do CNPq, com dados da base corrente de 2003 e dados do censo 2004,
buscamos visualizar os cenários da atividade de pesquisa em EF. Dados do Censo 2004 apontam para o cadastro
de 268 Grupos na EF, considerando que cada grupo foi relacionado apenas a uma
área de conhecimento predominante em suas atividades.
Construímos um perfil dos Grupos,
considerando 220 grupos cadastrados na Base Corrente de 2003, identificando o
nome do grupo, a instituição e o estado, área de pesquisa, pesquisadores e
estudantes, linhas de pesquisa, especialidade do conhecimento (grande área,
linhas de pesquisa, sub-áreas) e os setores de aplicação.
Os
indicadores das atividades de pesquisa disponibilizados no Diretório de Grupos apontam para uma gama bastante ampla de áreas de
enquadramento da Educação Física nas grandes áreas. Esses dados da atividade de
pesquisa dos grupos são relevantes e indicam aspectos da produção do
conhecimento importantes para a reflexão sobre a normatividade científica e a
experiência social da EF, identificando
algumas capacidades instaladas e outras em desenvolvimento que são extremamente
relevantes para a organização da área e sua relação com os órgãos responsáveis
pela política científica, incluindo a relação com as agências de fomento e com
a pós-graduação.
Os indicadores da atividade dos Grupos
de pesquisa na EF desafiam a reflexão sobre a compreensão de ciência, o modelo
de racionalidade científica e a lógica que tem orientado a produção do
conhecimento, centrados na disciplinaridade. Embora possamos observar o
significativo crescimento da pesquisa na área da EF, a sua dinâmica interna
reflete algumas polarizações em relação ao modelo classificatório proposto
atualmente pelo CNPq e demais agências envolvidas com a política científica,
incluindo a própria Universidade. Soma-se a essa observação, o fato de que a
intervenção profissional na EF têm sido constituída historicamente a partir de
uma gama de práticas corporais e de fundamentos científicos e filosóficos
advindos de várias áreas do conhecimento, o que já indica uma certa dificuldade
de enquadramento disciplinar.
Essa característica não deve ser
compreendida como uma impossibilidade para o desenvolvimento da pesquisa na EF,
sobretudo se considerarmos a dinâmica epistemológica contemporânea, na qual
evidenciamos a existência de um conjunto de fatores que fortalecem a
confluência entre as áreas.
Os indicadores do conhecimento
produzido na EF, resultante das informações registradas no Diretório de Grupos
do CNPq, remetem para a descrição, em
sentido amplo, de fenômenos que aportam sentidos e significados que definem uma
determinada compreensão de ciência e sua inscrição nas áreas de conhecimento.
Trata-se de um processo histórico, no qual podemos perceber elementos
importantes da experiência científica acumulada na EF e os desafios da produção
do conhecimento, da atividade de pesquisa e da organização da área . A partir
do perfil dos grupos de pesquisa em atividade na EF, cadastrados no diretório
de grupos do CNPq, compreendemos que os
movimentos de inserção da EF nas grandes áreas do conhecimento, particularmente
nas ciências da vida e nas humanidades,
constituem-se uma realidade.
Esses dados fortalecem o nosso
argumento a respeito da necessária flexibilização das fronteiras disciplinares,
privilegiando as interfaces do conhecimento. Certamente, não se trata de uma tarefa isolada, mas que
deve resultar do trabalho dos grupos e das sociedades científicas, posto que o
indivíduo sozinho não pode, pela sua própria pesquisa, encontrar as vias de uma
demarcação. Esse argumento merece atenção no sentido de flexibilizarmos as
fronteiras disciplinares para criar interfaces de compreensão da EF que
ultrapassem as dicotomias entre natureza e cultura, compreensões de corpo,
saúde, indivíduo, cultura e sociedade,
superando-se as limitações impostas pelo
modelo classificatório dos campos de saberes e de uma demarcação disciplinar.