MARTE, TITÃ E A EVOLUÇÃO PREBIÓTICA
RICARDO FERREIRA e FREDERICO PONTES
Departamento de Química Fundamental
UFPE – Recife - Pernambuco
Em contraste com os grandes
progressos realizados nas últimas décadas no nosso conhecimento ao nível
molecular da Genética e Evolução dos seres vivos – o que permitiu o surgimento
da Engenharia Genética – as verificações experimentais dos vários estágios da
Evolução Química, ou Prebiótica, tem sido modestos, depois das famosas
experiências de Stanley Miller, em 1953, nas quais gases relativamente simples
como CH4, H2O, NH3 e N2 são
convertidos em aminoácidos, ribosídeos e outros componentes monoméricos dos sistemas
vivos. A síntese, ainda neste estágio prebiótico, de polímeros como as
proteínas, RNAs, etc., somente foi demonstrada em casos especiais e muito
limitados. Nada conhecemos, experimentalmente, a respeito de como se formaram
estruturas vitais como as membranas celulares, ribossomos, etc., o que leva à
conclusão de que a Evolução Química é um processo com baixa probabilidade de
suceder em um sistema como a Terra primitiva.
Por outro lado, as recentes Missões
a Marte – tanto a Americana, que examinou áreas daquele planeta com os robots Spirit e Opportunity, como a Européia, com sensoriamento remoto de alta
resolução, tendo descoberto fatos de grande importância sobre Marte – por
exemplo, de que possuiu no passado grandes quantidades de água líquida, formando
lagos e mares – não conseguiu detectar o menor indicio de vida, no presente ou
no passado (fosseis). Com uma temperatura média de -20 a -30º C, e com uma
velocidade de escape de 5.2 km seg-1 (metade daquela da Terra) é
provável que a vida não tenha surgido em Marte nos 600 bilhões de anos que
levou aqui na Terra esse surgimento: formação da Terra estável (4.3x109
anos) menos o tempo de existência dos primeiros fosseis conhecidos (3.7x109
anos).
Quanto a Titã, o maior dos satélites
de Júpiter, a sonda Cassini, lançada a partir do veículo espacial Huyghens, descobriu uma densa atmosfera
cujo principal componente é o metano, que impede a passagem da luz solar. A
superfície de titã, contudo, foi observada por luz infravermelha convertida em
seguida para luz visível por equipamento montado no Huyghens. A temperatura na superfície é de -120º C, o que não
encoraja a idéia da existência de vida em Titã.
A conclusão que está se formando é
que a nossa biota é a única do Sistema Solar. Claro que nos últimos 10 anos
descobriram-se já cerca de 130 sistemas planetários extra-solares, mas as
distâncias desses sistemas, entre 20 e centenas de anos luz, impede a análise
da possibilidade de Vida lá existente.
Parece então que, para todos os
efeitos práticos, nossas biota é a única da nossa vizinhança na Via Láctea.
Conclusão que está a exigir duas atitudes da nossa parte: uma renovação dos
nossos esforços para preservá-la, por um lado, e desvendar os detalhes de como
começou aqui na Terra.